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O voto e a Igreja: liberdade e mudança de consciência

Nesta quinta-feira (29), a coluna Outside discute religião e eleições em artigo assinado pelo teólogo Ranieri Costa.

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Imagem ilustrativa da notícia O voto e a Igreja: liberdade e mudança de consciência camera DEMAX SILVA SARMENTO

É provável que o assunto eleição já tenha causado uma exaustão em sua mente. Não se fala de outra coisa em nosso país e, apesar da legítima importância que o pleito eleitoral têm, há excessos que ocorrem em todo território nacional e, tristemente, as ocasiões de avanço ao sinal vermelho da liberdade de consciência de cada cidadão, é visto também em muitas igrejas brasileiras.

Recentemente vi uma matéria do jornal Folha de São Paulo1 que fez visita a celebrações religiosas de 35 igrejas evangélicas e em uma de cada quatro igrejas foi presenciado campanha política durante seus cultos. Apesar de entre as igrejas cristãs brasileiras a minoria estar realizando campanha político-partidária em suas reuniões, toda a comunidade cristã brasileira sofre. O sofrimento se dá por vários motivos, dentre os quais, cito:

As pessoas dessas igrejas estão tendo sua liberdade de consciência violada e estão sendo direta ou indiretamente motivadas a fazer o mesmo [às vezes de forma violenta] com crentes de outras comunidades; os fiéis que percebem o abuso e não se sujeitam ao jugo imposto pelos líderes encontram-se feridos e desacreditados da relevância real que a Igreja deveria ter na sociedade; O reforço do estereótipo que se criou no Brasil de que os evangélicos são todos conservadores, fundamentalistas, falsos moralistas e facilmente manipuláveis, o que obviamente não é verdade. As pessoas precisam entender que a população evangélica é uma das mais plurais e diversas que existem nesse país.

Nessa corrida eleitoral, vimos todos os candidatos buscando a qualquer custo – como nunca havia sido visto – se aproximarem do público evangélico para conseguir seu voto. Slogans como “em defesa da fé cristã” foram utilizados por incontáveis candidatos por todo Brasil. Também assistimos com perplexidade tiros dentro de igrejas, pastores negando a participação na ceia, pessoas sendo mortas em locais públicos; tudo isso por nem todos pensarem da mesma forma. E o que a Igreja tem feito para evitar esse banho de sangue? Campanha e mais campanha.

O uso do púlpito foi deturpado, a fé foi prostituída, o templo foi mais uma vez transformado em um covil de mercenários e salteadores; não tenho dúvidas de que Jesus viraria as mesas dessas igrejas com seu chicote, assim como fez antes2. As famílias estão ainda mais divididas, os amigos se distanciaram e a comunhão nas igrejas está irreconhecível. Independente dos resultados dessas eleições, todos já perderam.

Será preciso longos anos para que relações sejam recuperadas, as pregações voltem a ter credibilidade, as feridas familiares sejam curadas e as igrejas passem a ser minimamente respeitadas nessa nação. A sede pelo poder de uma menor parte do povo evangélico causou um dano imensurável no restante do corpo. Será necessário uma profunda e nova metanoia3 a fim de que esses pastores e líderes se convertam ao Evangelho da graça de Deus, o qual não nos chamou para sermos detentores do poder e da governança, mas, para amarmos a Jesus e servimos os necessitados sujeitos ao poder do Espírito.

No próximo domingo, vá para as urnas com a consciência de que o seu candidato não é o candidato de Deus. Não vote no candidato que seu líder religioso o coagiu a votar; não se submeta a esse jugo de escravidão, você é livre pra votar em quem quiser. Vote com a compreensão de que o Reino de Deus não é deste mundo e de que por isso, a nossa vida não depende [totalmente] dos governantes deste mundo4. Aperte as teclas das urnas em oração para que suas relações sejam reconciliadas e o Brasil seja pacificado. Independente dos resultados, nós, os cristãos, devemos voltar [ou começar] a ser reconhecidos pela única característica que deveria nos descrever por completo: o amor5.

Ranieri Costa é casado com Fernanda e pai da Anelise; graduado em teologia pelo Seminário Teológico Batista de São Paulo e FTSA, cursa o último semestre de jornalismo, é mestrando em linguagens, mídia e arte pela PUC-Campinas e membro da Igreja Vineyard Mogi.

Referências:

1Folha | 2João 2.15-17 | 3Romanos 12.2 | 4João 18.36 | 5João 13.35

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