Com seus 15 anos, Ceciane Lima vive no Paratizão, uma comunidade ribeirinha localizada às margens do Rio Xingu, no Pará. A jovem, estudante do oitavo ano do Ensino Fundamental, escolheu a sombra de um cajueiro para timidamente dedilhar as notas musicais que vem aprendendo nas aulas de flauta doce. Ela ainda não escolheu seu nome artístico, mas o interesse pela música a faz dedicar seu tempo para praticar os exercícios repassados em sala de aula.
Na Amazônia, os rios são como ruas. Partindo de Altamira, na região sudoeste do Pará, leva-se, em média, 50 minutos de barco para aportar na comunidade onde Ceciane nasceu. Filha de uma merendeira, ela diz não ter muitos sonhos, mas destaca que gostaria de aprender a tocar instrumentos musicais. O seu primeiro contato com a flauta a fez despertar para a arte e para a música.
“Desde a primeira aula, a gente vem aprendendo muitas coisas. A professora recomenda que a gente refaça as notas que ela ensinou naquele dia para a gente não se esquecer e como lição de casa, ela deixou a criação de uma música e, também, a escolha de um nome artístico, que eu ainda não decidi qual vai ser”, conta.
Sua mãe, Diane Lima, 52 anos, acompanhava atenta o processo de aprendizagem da filha e dos outros alunos da pequena escola da comunidade. “Aqui ainda não tinha atividades como essas voltadas para as nossas crianças. Elas estão bem animadas com as aulas, inclusive, uma delas se destacou já na primeira aula de música. Eu como mãe e como merendeira da escola, fico muito feliz de ver todos os alunos daqui participando desse projeto”, destaca.
As atividades que vêm transformando a realidade dos alunos da região fazem parte do Projeto Encantos do Xingu, batizado carinhosamente como Pexin, o qual carrega em seu nome a oralidade local para se denominar os peixes daquele rio.
Promovido pela Norte Energia, por meio de seu projeto de responsabilidade social Belo Monte Comunidade, o Pexin é uma iniciativa piloto que será executada pelo Instituto Ararajuba na região. As atividades ocorrerão até abril de 2024, quinzenalmente, com a realização de oficinas de canto, flauta doce e de produção de conteúdo audiovisual, atendendo cerca de 60 crianças e adolescentes matriculados nas escolas das comunidades do Paratizão, no município de Vitória do Xingu, e Palhal e Ilha do Pedrão, em Altamira. A proposta é possibilitar aos estudantes preservar as histórias e saberes de suas comunidades por meio da cultura e da arte, da inclusão digital, da cidadania e da educação.
Inclusão digital
As crianças, em sua essência, têm um olhar curioso, um impulso imitativo para reproduzir o que enxergam. Linguagem universal, a arte é ferramenta poderosa de aprendizado. Aliando esses recursos, o Pexin oferece aos alunos dessas comunidades a oportunidade de experienciar um universo para além da sua realidade.
Por meio de atividades criativas e lúdicas, o projeto busca auxiliar as crianças em seu processo de desenvolvimento e formação pessoal. Além dos pequenos alunos, os pais que os acompanhavam também se juntaram para participar da oficina de produção de vídeos com celular.
Moradora do Palhal, Francinilde dos Santos se criou na beira do rio e, aos 40 anos, viu no curso uma grande oportunidade para desenvolver a oratória. “Eu ando por outras comunidades e vejo que a gente necessita aprender a se comunicar melhor. Isso não serve só para os jovens que são tímidos, mas serve também para todos nós adultos. A gente sonha alto para os nossos filhos. Sonha alto para a nossa comunidade. Hoje, eles estão tendo aula aqui dentro, mas depois vão para a cidade estudar e futuramente vão estar na universidade. Para mim, o projeto é o primeiro passo para aprender a se comunicar. É essencial”, avalia.
No Brasil, assim como em diversos outros países, o amadurecimento das reflexões em torno da arte tem tornado possível a emergência de um novo olhar, que considera a criatividade, o protagonismo e o desenvolvimento integral dos alunos de maneira efetiva.
Definida pelo Ministério da Educação, a Política Nacional de Alfabetização traz a arte como ferramenta de aprendizado. Para a presidente do Instituto Ararajuba, a cantora paraense Joelma Kláudia, o projeto vai além da educação e pode abrir portas para o futuro. “Sou mulher ribeirinha, nascida na região da Volta Grande do Xingu, e sei o quanto é difícil crescer sem acesso à arte e à educação. Todos que estão aqui são muito capazes de ganhar o mundo lá fora e só precisam de uma oportunidade. Em breve, podemos ter novos apresentadores de telejornais e músicos ganhando destaque dentro e fora do nosso estado. A arte empodera e leva adiante”, ressalta. “Essa é a primeira iniciativa do Instituto Ararajuba, uma associação privada sem fins lucrativos com matriz em Altamira, que tem como objetivo realizar ações socioculturais”, complementa Joelma Kláudia.
O Pexin nasce dentro do projeto Belo Monte Comunidade, que tem a educação, arte, cultura e inclusão digital como umas de suas linhas de atuação. “Com profissionais capacitados, os alunos da região poderão aprender e se desenvolver. Já identificamos que, como qualquer criança, esses alunos têm curiosidade em aprender. Temos a certeza de que no decorrer do projeto, as oficinas que iremos realizar irão envolver toda a comunidade. Ao final, veremos esses alunos capturando imagens, resgatando e preservando a memória contando as histórias de como vivem seus pais, tios e avós, e, ainda, farão música e arte. Esse é o nosso objetivo”, revela o gerente de Projetos de Sustentabilidade da Norte Energia, Thomás Sottili.
Belo Monte Comunidade
Iniciativa da Norte Energia, o projeto de responsabilidade social Belo Monte Comunidade contribui com a melhoria da qualidade de vida dos moradores da região da Usina, oferecendo ações de cidadania, saúde preventiva, educação, educação ambiental, arte e cultura, esporte, inclusão digital, voluntariado e geração de trabalho e renda, criando oportunidades e levando representatividade para a população do Médio Xingu.
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