A historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, 66, foi eleita nesta quinta-feira (7) para a cadeira número nove da Academia Brasileira de Letras, a ABL. Escolhida por 24 dos 38 acadêmicos aptos a participar da votação, ela é a 11ª mulher a integrar a organização desde a sua fundação, 127 anos atrás.
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A vaga havia sido aberta em dezembro passado, quando morreu, aos 92 anos, o também historiador Alberto da Costa e Silva, um dos maiores especialistas em cultura africana do país.
O fato de a cadeira ter pertencido a ele foi um dos fatores que levou Schwarcz a se candidatar em primeiro lugar. Em entrevista à reportagem após a cerimônia, ela afirmou que esta foi a maneira que encontrou para "honrar seu pai intelectual", que como ela se dedicou a pensar a desigualdade racial e o movimento negro. "Se eu puder, quero seguir os passos dele."
Costa e Silva, que ainda atuou como diplomata, deixou como legado estudos como "A Enxada e a Lança: a África Antes dos Portugueses", de 1992, e "A Manilha e o Libambo: a África e a Escravidão, de 1500 a 1700", de 2002.
Já Schwarcz venceu pelo menos cinco vezes o Jabuti e é autora de livros como "As Barbas do Imperador", "Lima Barreto - Triste Visionário", "Dicionário da Escravidão e da Liberdade", com Flávio dos Santos Gomes, e "Brasil: Uma Biografia", com Heloisa Starling, além de ser uma das fundadoras da editora Companhia das Letras.
Há uma tradição na ABL de preencher cadeiras vagas com nomes cujo perfil sejam de alguma maneira similares aos de seus antecessores. O alinhamento de interesses entre Costa e Silva e Schwarcz foi mencionado pelo atual presidente da academia, o jornalista Merval Pereira, após o anúncio da vitória da nova cadeira nove.
"A ABL perdeu dois grandes historiadores recentemente e está trazendo uma grande historiadora para suprir esta lacuna", disse ele, em comentário reproduzido por nota da ABL. "Não é uma vaga de historiador -não temos aqui vagas para historiadores. Mas é importante manter a tradição."
Disputaram a cadeira com a pesquisadora outros seis escritores: Antônio Hélio da Silva, Chirles Oliveira Santos e J. M. Monteirás, Edgard Telles Ribeiro, Martinho Ramalho de Melo e Ney Suassuna. Desses, o que tinha mais chances era Telles Ribeiro, diplomata aposentado e autor de 14 livros, entre romances, antologias de contos e outros. Ele recebeu 12 votos.
A eleição de Schwarcz, ocorrida na véspera do Dia Internacional da Mulher, é também uma resposta a uma demanda cada vez mais premente na ABL, de uma maior representatividade feminina.
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A instituição fundada em 1897 por Machado de Assis previa até pelo menos os anos 1970 que apenas "brasileiros", no masculino, podiam se candidatar a suas 40 vagas, e só foi aceitar uma mulher entre os membros em 1980, quando a escritora Dinah Silveira de Queiroz, autora de "A Muralha", concorreu pela segunda vez a uma vaga de imortal.
Desde 2000, a eleição de mulheres tem sido mais frequente, ainda que sua presença na instituição seja irrisória em relação a de homens. Hoje, quatro mulheres -Rosiska Darcy de Oliveira, Ana Maria Machado, Fernanda Montenegro e Heloisa Teixeira- integram a academia, ante 35 homens.
Schwarcz será a quinta. À reportagem, ela disse querer não só fazer jus às imortais que a precederam como lutar pela causa feminista na academia sob um viés interseccional, que considera opressões de gênero, raça, classe e sexualidade.
A historiadora terá de conciliar os famosos chás dos imortais com uma agenda cheia, contudo. Além de ter escrito mais de 30 livros, Schwarcz é professora sênior do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo, a USP, é professora convidada na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e é membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Iphan, e do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da República.
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