
Nas últimas décadas, a arte contemporânea tem se mostrado um espaço potente para o debate de questões urgentes, como meio ambiente, identidade e justiça social. Cada vez mais, artistas de diferentes regiões do mundo têm ocupado esse cenário com vozes únicas, trazendo à tona narrativas que antes eram marginalizadas ou invisibilizadas.
Diante desse cenário, a partir de 3 de setembro, a Amazônia ganha ainda mais visibilidade no circuito internacional de arte contemporânea. O artista, professor e pesquisador paraense Paulo Victor Santos Dias, conhecido como PV Dias, integra a exposição “Amazonia Açu”, em cartaz na Americas Society, em Nova York (EUA), entre os dias 3 de setembro de 2025 e 18 de abril de 2026.
A mostra reúne 34 artistas e coletivos dos nove países que compõem a Pan-Amazônia – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela – em uma seleção de mais de 50 trabalhos criados a partir da década de 1990. São pinturas, esculturas, vídeos, fotografias, cerâmicas e têxteis que, juntos, celebram três décadas de produção artística e evidenciam a Amazônia como território de potência estética, cultural e simbólica.
O processo curatorial foi compartilhado por representantes dos diferentes países amazônicos, incluindo nomes como Elvira Espejo (Bolívia), María Wills (Colômbia), Grace Aneiza Ali (Guiana) e, pelo Brasil, Keyna Eleison e o paraense Mateus Nunes. No recorte brasileiro da mostra, PV Dias se junta aos artistas Gê Viana e Thiago Martins de Melo, do Maranhão, e Hélio Melo, do Amazonas.
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A obra apresentada
PV Dias leva para a exposição o desenho “Interior de Uma Casa”, em que sobrepõe figuras de pessoas negras a uma paisagem urbana de prédios e concreto. A peça faz referência à pintura oitocentista “Interior de Uma Casa do Baixo Povo”, atribuída a Joaquim Cândido Guillobel, mas reposiciona corpos negros em escala monumental.
A obra, já exibida na Suíça e no Rio de Janeiro, explora a tensão entre aprisionamento e ocupação dos corpos no espaço urbano. “Fotografo uma cidade, que poderia ser várias, e nela projeto indivíduos semelhantes a mim em grande escala: como se estivessem presos nesse espaço, mas ao mesmo tempo ocupando quase toda a paisagem”, explica o artista.

Mais do que uma conquista pessoal, PV vê a participação na mostra como parte de um movimento coletivo. “Essa exposição contribui para um aprofundamento em uma Amazônia que não se prende a um único ponto, mas se abre a uma pluralidade de narrativas. Considero que minha presença colabora para a formulação de uma perspectiva coletiva, junto a artistas do Suriname, da Guiana Francesa e de outros territórios igualmente importantes”, afirma.
Ele também destaca o papel da iniciativa em desconstruir visões reducionistas sobre a região: “Artistas pensam seus territórios para além dos clichês e estranhamentos do olhar estrangeiro. Vai ser muito importante exibir essa variedade de poéticas, não só uma Amazônia engessada popularizada durante décadas”, reforça.
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Trajetória
Nascido em Belém, em 1994, PV Dias vive no Rio de Janeiro e possui formação plural. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, é graduado em Comunicação Social pela Universidade da Amazônia (Unama), mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Sua produção atravessa pintura, fotografia, vídeo e arte digital, sempre em diálogo com arquivos históricos e narrativas afro-diaspóricas.
Com carreira internacional, já expôs na França, Suíça e nos Estados Unidos, e tem obras em acervos de instituições como o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu Nacional de Belas Artes e o Centro Cultural São Paulo (CCSP). Representado pela Galeria Verve, de São Paulo, mantém em 2025 uma agenda intensa, que inclui a mostra “Funk!”, na França, além de projetos no Rio de Janeiro e em Belém, como a abertura do Museu das Amazônias.

Programação paralela
Além da exibição das obras, a “Amazonia Açu” oferecerá uma programação com palestras, oficinas, performances, visitas guiadas e o lançamento de um catálogo ilustrado, reunindo ensaios críticos dos curadores. A entrada é gratuita.
O local escolhido também carrega simbolismo: a Americas Society, desde os anos 1960, promove exposições e programas que ressaltam a diversidade cultural das Américas.
Serviço
- Exposição “Amazonia Açu”
- Onde? Americas Society (680 Park Avenue, Nova York, EUA)
- Quando? De 3 de setembro de 2025 a 18 de abril de 2026
- Entrada gratuita
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