
A jovem Stephanie Mecco, de 19 anos, sofreu uma série de críticas logo após publicar um video dançando ao lado da mãe internada em um hospital e postar em sua conta do TikTok. O vídeo foi gravado dia 30 de dezembro e logo repercutiu: a jovem ganhou milhares de seguidores junto de uma série de críticas também. Teve quem chamou a moça de "psicopata" e "desprezível" desejando a sua morte no lugar da mãe.
A mãe da influenciadora, Soraya Mecco, de 51 anos, estava internada com um câncer em estágio grave, onde já havia passado por vários tratamentos sem apresentar mais respostas contra a doença. Stephanie disse que a dança ao lado da mãe era uma forma de descontrair e não havia maldade em seu ato. "Eu fiz o vídeo para descontrair e fazer com que ela ficasse mais tranquila naquele momento", afirmou.
A jovem tiktoker, apesar do quadro da doença complicado, tinha esperança na recuperação de sua mãe, e conta que o video também foi uma forma de registrar o momento e mostrar para Soraya depois, mas a mulher não resistiu, morreu logo após encontrar seus outros filhos.
Para Stephanie, a reação negativa foi injusta e muitos não entenderam que o vídeo era um momento de amor. "Não consigo ver nenhuma maldade ali. Era um momento meu e dela em que tentei fazer de tudo para fazer com que ela ficasse mais calma. A gente enchia a nossa mãe de beijo e falava que ela ficaria boa logo. O vídeo foi só mais uma forma de descontrair", afirma.

'A minha maior incentivadora'
Stephanie diz que a mãe sabia que estava sendo filmada e concordou com o vídeo. "Perguntei se podia gravar um TikTok naquele momento, a abracei e ela fez um sinal positivo com a cabeça", diz a jovem.
"Então, arrumei a posição do celular, comecei a dançar ao lado dela e do meu irmão. A minha mãe até empurrou a cabeça pro lado quando comecei a gravar, como se quisesse me ver melhor. Quando terminei, falei: depois, quando você ficar bem, a gente vai ver isso, mãe", relata.
Entre os vídeos antigos de Stephanie, há diversos nos quais a jovem dança ao lado da mãe. A tiktoker considera que Soraya era a sua melhor amiga e a sua maior incentivadora.
"No começo da pandemia, ela me incentivou a publicar vídeos no TikTok, porque dizia que eu dançava muito bem, e isso me deu forças", diz a jovem.
Soraya sabia do desejo da filha em se tornar uma influenciadora digital. "A minha mãe sempre ficava muito feliz quando meus vídeos tinham muitas visualizações", comenta.

A partir de setembro de 2020, Soraya passou a gravar poucos vídeos ao lado da filha, porque precisou se dedicar intensamente a um tratamento de saúde. Ela foi diagnosticada com glioblastoma de grau IV, um tumor que tem uma grande capacidade de crescer ao longo do tecido cerebral e costuma ser resistente a tratamentos. Anos atrás, o pai dela havia morrido em razão da mesma doença.
Soraya passou por cirurgias para retirar o tumor e fez quimioterapia e radioterapia. "Ela sempre falava que ia vencer e eu realmente acreditava nisso. De toda forma, ela foi uma vencedora por tudo o que passou", diz Stephanie.
Em dezembro passado, os médicos suspenderam os tratamentos de Soraya. "Queriam esperar a imunidade dela subir novamente para tentar um novo tratamento", diz a tiktoker.
O estado de saúde da mulher piorou cada vez mais. "Ela já estava com muitas dificuldades e se locomovia com uma cadeira de rodas", detalha Stephanie.
Depois do Natal, Soraya passou a ter dificuldades para se alimentar e estava cada vez mais fraca. Ela foi internada em um hospital em São Paulo (SP), onde a família mora. As expectativas de que ela sobrevivesse eram consideradas baixas.
Soraya tinha um desejo que já havia manifestado aos familiares: não queria nada que prolongasse a vida dela em uma cama de hospital. "Ela era uma pessoa muito ativa e não gostava dessa ideia de ficar em uma cama de hospital", diz a filha.
"Os médicos proibiram que os parentes chorassem ou demonstrassem tristeza durante as visitas, porque sabiam que isso poderia assustar a minha mãe", comenta Stephanie. Nesse período, segundo a filha, Soraya se comunicava somente mexendo um pouco a cabeça ou apertando a mão levemente.
Em 30 de dezembro, Stephanie e o irmão, de 16 anos, visitaram a mãe. Ela lembra que brincaram, conversaram e beijaram Soraya. Para a jovem, o vídeo compartilhado no TikTok foi um desses últimos momentos de alegria ao lado da mãe.
Durante a madrugada de 31 de dezembro, Soraya morreu. "Ela partiu no tempo dela, dormindo. O meu tio, que estava com ela, disse que acordou e ouviu os batimentos diminuindo e logo chamou os médicos, mas ela já estava morrendo. Somos espíritas e acreditamos que esse era o plano de vida dela, que ela tinha um tempo curto de vida e por isso sempre fez tudo correndo", emociona-se a jovem.
A repercussão do vídeo
Horas após saber da morte da mãe, Stephanie quis homenageá-la nas redes sociais. "Eu postei várias fotos com ela no Instagram, falando da partida dela e dizendo que eu não poderia ser egoísta em querer que ela ficasse daquele jeito. Sabia que ela não queria ficar sofrendo como estava", diz a jovem.
No TikTok, ela compartilhou a dança no quarto do hospital. "Não postei para viralizar ou ganhar algo com isso, postei como despedida", afirma. Nos primeiros dias, diz a tiktoker, a imensa maioria dos comentários eram positivos. "Recebi várias mensagens de pessoas dizendo que estavam emocionadas. Até a minha família gostou", diz.
"Acabou viralizando e eu e minha mãe sempre sonhamos que eu viralizasse com algum vídeo, para atrair um público maior. Por isso, fiz um post agradecendo a ela como se fosse um presente dela", acrescenta a jovem.
Quando começou a receber diversos comentários negativos, Stephanie se assustou. "Alguns trechos do vídeo começaram a viralizar, principalmente porque páginas começaram a compartilhar, e comecei a ser xingada. Falaram até que estava dançando ao lado do corpo da minha mãe, como se ela estivesse morta naquele momento".
Ela afirma que ficou abalada por ter que provar que o vídeo foi feito em um momento de descontração. "Desde que ela começou o tratamento, sempre descontraí a minha mãe. A nossa relação sempre foi assim", justifica.
A jovem também afirma que o irmão não se opôs à dança. "Falaram da cara dele no vídeo, como se tivesse me reprovando. Mas ele me olhou daquele jeito porque o encosto da poltrona dele tombou levemente para trás quando eu me joguei nela", diz.
Mesmo com as inúmeras críticas, Stephanie não se arrepende de ter compartilhado o registro. "Postei como forma de despedida. Vou manter no meu perfil, mas privei os comentários, porque não quero deixar que usem esse vídeo como forma de destilar ódio", afirma.
Nos últimos dias, Stephanie tem retomado as publicações nas redes sociais. "Não vou deixar me abater por tudo isso, porque sei que a minha mãe queria me ver bem", afirma a jovem. Estudante de publicidade e propaganda, a jovem mantém o sonho de viver como influenciadora digital. "Talvez consiga viver disso um dia", comenta.
Em meio a toda a repercussão das últimas semanas, ela ganhou mais de 150 mil seguidores em janeiro (ao todo, ela já tem mais de 255 mil) no TikTok, plataforma na qual o vídeo de Stephanie no hospital acumula mais de 17 milhões de visualizações.
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