Durante uma das passagens mais tocantes do monólogo "O Ator e o Lobo", Pedro Paulo Rangel, ator morto aos 74 anos nesta quarta-feira, revelava o medo que tinha da morte.
Sem saber o que viria depois do fim, o ator narrava em cena as lembranças que guardava da infância convivendo com avós portugueses, e abria histórias de bastidores sobre as novelas e séries que fez na Globo, além das experiências no teatro e passagens de sua vida política, como quando compôs o elenco do espetáculo "Roda Viva", em 1968, do Teatro Oficina.
As memórias de Rangel eram costuradas com crônicas e trechos de romances do escritor português António Lobo Antunes, causando propositalmente uma dúvida na plateia sobre o que era realidade ou ficção. Seu depoimento sobre como descobriu que a mãe tinha um amante era um dos pontos altos do solo.
Internado desde o dia 30 de outubro na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Rio de Janeiro, Rangel sofria de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), resultado dos muitos anos de tabagismo. O ator deixou de fumar em 1988, mas descobriu a doença em 2002, desde então fazia fisioterapia e precisava ser medicado.
Ainda assim, Rangel seguiu com a carreira com novelas como "O Cravo e a Rosa" e "Belíssima", séries como "Som & Fúria", e peças como "Azul Resplendor", "Histeria" e "O Ator e o Lobo", que lhe rendeu um Prêmio Shell especial por seus 50 anos de carreira.
No espetáculo, Rangel buscava uma relação de proximidade com a plateia para falar sobre seus medos e inseguranças, sobre a dificuldade de se assumir homossexual e como imaginava que seria o mundo artístico quando jovem.
A montagem estava em cartaz no palco da Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, depois da pandemia e foi interrompido apenas com a internação do ator. O texto foi assinado pelo ator sob a direção de Fernando Philbert.
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