
Num país onde escândalos de corrupção, crimes violentos e desvios de verbas públicas muitas vezes terminam em absolvições ou penas brandas, a condenação de um humorista por piadas levadas aos palcos parece, para muitos, um capítulo insólito.
O humor, ferramenta historicamente usada para provocar, satirizar e até incomodar, se tornou o centro de uma sentença pesada envolvendo o humorista Leo Lins, que foi condenado a 8 anos e 6 meses de prisão em regime fechado pela Justiça Federal, acusado de propagar discursos preconceituosos contra diversas minorias.
“Ver um humorista condenado a sanções equivalentes às aplicadas a crimes como tráfico de drogas, corrupção ou homicídio causa-nos profunda preocupação”, afirmaram os advogados de defesa.
A decisão provocou reações imediatas entre humoristas, políticos e fãs, que correram às redes sociais para opinar sobre o caso. Antonio Tabet, criador do Porta dos Fundos, classificou a decisão como “absurda”. “Pode-se não achar a menor graça ou até detestar as piadas de Leo Lins, mas condená-lo à prisão por elas é uma insanidade e um desserviço”, escreveu Tabet no X, esperando que a decisão seja revertida.

Quer ler mais notícias de Fama? Acesse o nosso canal no WhatsApp!
Jonathan Nemer também ironizou. “Essa é a merd* que acontece no Brasil… um país que leva a sério piadas que humoristas contam nos shows e levam na brincadeira o que políticos fazem”, publicou.

O humorista Renato Albani foi direto. “Você acha que vive num país sério? Então veja isso aqui”, escreveu no Instagram, ao lado de uma captura de tela da reportagem sobre o caso.

Já Thiago Ventura, num tom de incredulidade, publicou um vídeo resumindo seu espanto. “É o quê?”, legendou, recebendo uma enxurrada de comentários, alguns apoiando, outros criticando sua posição.
Danilo Gentili, ex-colega de Leo Lins no programa The Noite, não se pronunciou diretamente, mas compartilhou postagens de apoio ao humorista.
O humorista Oscar Filho também comentou sobre o caso. "Leo Lins, faz uma coisa. Transforma suas piadas em Funk, qem sabe você não se safa como o Mc Poze?"

Políticos engrossam o coro
Além dos colegas de palco, políticos também se posicionaram. O vereador Lucas Pavanato (PL) comparou a pena de Lins com a detenção temporária do funkeiro MC Poze do Rodo, preso por associação ao Comando Vermelho e solto após quatro dias.

“Esse país acabou”, reforçou Amanda Vettorazzo (União Brasil), vereadora e colega de Pavanato, também se manifestando nas redes.

O empresário e político João Amoêdo disse desconhecer o humorista e suas piadas, mas classificou a decisão como um “completo absurdo”.

O deputado Guto Zacarias comparou a condenação de Leo Lins com a prisão temporária de MC Poze.

Condenação
Leo Lins foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por declarações feitas no show “Perturbador”, publicado no YouTube em 2022, no qual disparou piadas contra negros, idosos, obesos, pessoas com HIV, indígenas, nordestinos, judeus, evangélicos, pessoas com deficiência e LGBTQIA+.
O vídeo foi removido após determinação judicial, mas já contabilizava com mais de 3 milhões de visualizações. A sentença também levou em conta o alcance do conteúdo. “O réu admitiu o caráter preconceituoso de suas anedotas e demonstrou descaso com a possível reação das vítimas”, consta no processo.
Leo Lins também terá que pagar multa de cerca de R$ 1,4 milhão e indenização de R$ 303 mil por danos morais coletivos.
A defesa
Em nota, a defesa do humorista disse ter recebido a condenação com “grande surpresa”. Os advogados de Leo Lins disseram ainda que “ver um humorista condenado a sanções equivalentes às aplicadas a crimes como tráfico de drogas, corrupção ou homicídio causa-nos profunda preocupação”. Eles anunciaram que vão recorrer.
Liberdade de expressão ou discurso de ódio?
A decisão reacende o debate sobre os limites do humor e da liberdade de expressão no Brasil. A Justiça, por sua vez, destacou que o direito de manifestação não é “passe-livre” para propagar preconceito.
Enquanto parte da sociedade vê a sentença como necessária para coibir discursos discriminatórios, outros enxergam um perigoso precedente para a criminalização do humor e a restrição de liberdades individuais.
O caso segue ganhando repercussão nacional.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar