Jerry O'Donnell passou quatro décadas representando policiais na televisão. Agora, ele treina para usar um distintivo verdadeiro. O veterano de séries como "Dexter", "Alias" e "NYPD Blue" está na academia de polícia de Asheville, na Carolina do Norte, ao lado de recrutas com menos da metade de sua idade.
A decisão de trocar os sets de filmagem pela aplicação da lei surgiu após o Furacão Helene devastar a região de Asheville em 2024. O'Donnell e sua esposa, Alison Crowley, haviam se mudado de Los Angeles para a cidade pouco tempo antes, com planos de curtir a aposentadoria.
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A catástrofe mudou tudo. O ator observou moradores se organizarem para distribuir água, limpar destroços e reconstruir residências. A solidariedade comunitária o marcou profundamente.
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"Foi um momento de pensar: o que é importante?", relata Crowley, casada com O'Donnell há 23 anos. "Jerry pensou: 'Eu quero fazer algo de serviço', e ele sempre quis ser policial."
De Hollywood para a academia policial
Quando a energia e a internet voltaram após mais de um mês, O'Donnell pesquisou as exigências para entrar na corporação. Descobriu que não existia restrição de idade para candidatos. Decidiu se inscrever imediatamente.
"Nós o chamamos de 'Jerry, o Touro'. Quando ele quer fazer algo, ele move céus e terra para que isso aconteça", conta a esposa.
O processo seletivo incluiu avaliações médicas, entrevistas, teste de polígrafo e verificação de antecedentes. Aprovado, O'Donnell iniciou o treinamento em julho e deve concluir a formação em janeiro.
"Achamos que Jerry é a pessoa mais velha a iniciar o treinamento policial no departamento", afirma Rick Rice, porta-voz da polícia de Asheville.
O ator observa que diversos colegas mais jovens — incluindo um ex-bombeiro, um agente de segurança de transportes e um motorista de ônibus turístico — também decidiram servir à comunidade após a destruição causada pelo Helene.
Corporações enfrentam escassez de oficiais
A escolha de O'Donnell ocorre em momento crítico para departamentos de polícia nos Estados Unidos. Uma pesquisa de 2024 da Associação Internacional de Chefes de Polícia revela que as agências operam com cerca de 91% do efetivo autorizado.
Diversos fatores contribuíram para essa situação: a pandemia de Covid-19, protestos após a morte de George Floyd e o movimento para reduzir orçamentos policiais afetaram o recrutamento e a permanência de oficiais.
Em Asheville, 126 policiais pediram demissão em três anos, segundo o ex-chefe Michael Lamb. Em um departamento com aproximadamente 232 pessoas, isso representa mais da metade do efetivo saindo durante o período. Simultaneamente, o número de cadetes caiu drasticamente.
"Isso aumenta tanto o crime contra o patrimônio quanto o crime violento, e há uma diminuição no nível de atendimento ao público", explica Lamb.
Estratégias de marketing e recrutamento ajudaram a elevar as turmas de cinco para 15 cadetes. O'Donnell integra a maior classe em anos, com 22 formandos. "Trata-se de fazer parte de algo maior do que você mesmo", diz o ator.
Carreira em Hollywood preparou transição
O'Donnell acumulou créditos em produções como "Mad Men", onde fez o cunhado de Peggy, além de "JAG", "Masters of Sex", "Castle" e "The Young and the Restless". Um de seus trabalhos recentes foi a comédia "Summer Camp" (2024), com Kathy Bates e Diane Keaton.
"Todas são vencedoras do Oscar, então eu estava apenas tentando não atrapalhar, honestamente", brinca.
Geralmente escalado para papéis de policiais ou militares — e ocasionalmente criminosos — O'Donnell serviu quatro anos no Exército dos EUA na 82ª Divisão Aerotransportada antes de entrar no entretenimento.
"Ele é um daqueles atores 'journeyman' — o tipo de cara que você vê e pensa, 'Eu conheço esse cara! De onde eu o conheço?'", comenta Crowley, que conheceu o marido na indústria e já dirigiu uma produtora com ele.
O'Donnell acredita que décadas interpretando personagens o preparam para essa transição. "Se eu interpreto alguém, tenho que pensar, 'Pelo que essa pessoa passou para chegar aqui?'", reflete. "Na academia, passamos duas semanas em treinamento de empatia — aprendendo que, quando você encontra alguém na rua, você o encontra como pessoa, não apenas como alguém em crise."
Risa Bramon Garcia, coach de atuação e diretora de elenco que trabalha com O'Donnell há anos, considera a mudança "bizarra", mas adequada para alguém "ambicioso" que "assume riscos".
"Os atores se reinventam a cada cinco anos porque têm que descobrir novos papéis que podem interpretar, tirar novas fotos de rosto… então essa ideia de se reinventar faz sentido", observa Garcia. "É uma mensagem real para todos nós de que existem capítulos finais que podem ser realmente novos e emocionantes."
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