Mesmo sendo alvo de muitas críticas por conta do estilo e das letras, a banda Charlie Brown Jr., comandada por Chorão, marcou a vida de muitos jovens e também de muitas bandas que surgiram depois. O engenheiro Gilberto Figueiredo, 24 anos, confessa que CBJr teve influência decisiva em sua adolescência. “Eu tinha uma banda na época em que a principal referência era Charlie Brown, CPM 22, Raimundos... Foi parte da trilha sonora da minha adolescência”, conta.
Gilberto, que hoje está morando em São Paulo, ficou surpreso com a notícia da morte de Chorão, logo nas primeiras horas da manhã. “Eu vi pelo celular, estava no metrô... Foi meio irreal, não parecia ser verdade. A gente lamenta muito a perda”, diz. A banda, fundada em Santos (SP), realizou alguns shows em Belém e também em Salinas, na década de 2000. A advogada Débora Leal, 25 anos, foi a um show da banda no Cidade Folia e guarda lembranças do evento. “Eu achava muito bacana quando o Chorão parava o show por causa de brigas. Ele tinha muita preocupação e respeito pelo público”, conta.
Mas Chorão também colecionava inimizades por onde passava. Em Belém, quando o cantor veio sozinho ainda na década de 1990, Chorão ficou hospedado em um sítio com skatistas e acabou arrumando briga por lá. “Teve uma onda muito pesada entre eles. O Chorão fez muita confusão, saiu falando mal da cidade. Foi um choque para os skatistas. Até hoje a galera daqui não gosta muito dele”, conta Jayme Katarro, integrante da banda paraense Delinquentes.
Apesar dos problemas comportamentais e das críticas que recebeu, Chorão fez parte de uma geração do rock independente brasileiro muito marcante no cenário musical. “Quando a Charlie Brown Jr. surgiu, depois de Raimundos, estava vindo o segundo momento das bandas independentes no Brasil. A cena estava começando a crescer e eles tinham essa ligação forte com a galera do skate que eu achava legal”, analisa Jayme.
O músico Diego Fadul, da banda paraense Aeroplano, também reconhece o valor que CBJr teve para a música nacional. “Não há como não admitir a relevância do trabalho do Charlie Brown Jr e do Chorão. Claro que é um absurdo uma hora dessas chamar o cara de genial ou poeta, pelo menos pra mim, mas no mercado da música, do entretenimento, eles renderam muito dinheiro e realizaram muitos trabalhos focados no público jovem. A linguagem da banda era jovem, falava sobre o universo adolescente, seja na forma, seja no conteúdo, mesmo hoje com mais de 40”, diz.
O estudante de Publicidade e Propaganda, Tony Lameira, 21 anos, cresceu ao som de Charlie Brown Jr. “Eu escuto desde os 10 anos. Inclusive, foi o primeiro show de rock que eu fui, aos 12 anos. Dava para perceber a pluralidade de gerações lá, desde crianças até uma galera de 40 anos que cultuava o life style pregado pela banda”, conta Tony.
Para ele, Charlie Brown Jr, e o próprio Chorão, era o reflexo da juventude da época. “A banda expressava bem o que muita gente da minha geração pensava, principalmente a questão de se rebelar contra o ‘sistema’. O Chorão sempre teve a aparência de ‘tiozão’ que não agia e nem se vestia como ‘deveria’ e a mídia reforçava essa percepção, já que as músicas deles foram por muito tempo a abertura de do seriado Malhação”, pondera Tony.
Skatistas fazem homenagem ao cantor em Marabá
A Associação marabaense de Skateboard, Amask, fará neste fim de semana um evento para homenagear o vocalista da banda Charlie Brown Na ocasião haverá também a eleição da nova comissão da diretoria e o cadastramento de novos membros para associação.
Segundo Nelson Jean, membro da comissão da diretoria interina, o objetivo além da homenagem ao músico brasileiro, é a divulgação das modalidades do skate, manobras de bicicletas BMX e demais esportes radicais. A iideia de homenagear Chorão, veio justamente do fato de o cantor ser praticante assíduo do skateboard, como o skate é conhecido entre os praticantes.
Ainda segundo Nelson Jean, ao longo do ano estão previstos mais eventos como o campeonato Eric Jonathan de Skate, em homenagem ao jovem praticante do skate que foi morto em 2008 e em julho a comissão pretende realizar um “grande evento com uma agenda recheada”, segundo Nelson Jean.
Falando sobre a morte de Chorão e a suspeita do uso de drogas por ele, Nelson diz que o objetivo da associação é totalmente diferente. Segundo ele, a associação não compartilha com as drogas e o objetivo é a única e exclusiva prática do skate.
Nelson também esclarece que para fazer parte da associação, não é necessário ser skatista, “basta ser simpatizante e desejar fazer parte da associação”, disse ele.
O encontro será a partir das 15 horas na praça da rotatória da Folha 16, Nova Marabá. A Associação Marabaense de Skate, conta também com Marcelo Paulista como membro da comissão organizadora.
Alçado à condição de poeta pop urbano?
A morte de um cantor pop, principalmente se ainda jovem, é capaz de provocar reações desproporcionais. A boa cantora Amy Winehouse foi alçada à condição de mito semelhante ao de Etta James ou Aretha Franklin. São análises e impressões apressadas que o tempo trata de corrigir. Muitas vezes o gigante se apequena ou amplia ainda mais o tamanho.
Com o anúncio da morte do cantor Chorão, do grupo Charlie Brown Jr, os mesmos vaticínios hiperlativos se espalham com a velocidade da internet. Algumas declarações, mesmo sob o calor da emoção do momento, surpreenderam pelo exagero.
O apresentador de TV Marcos Mion, por exemplo, arvorou-se a alçar Chorão ao mesmo patamar de Renato Russo e Cazuza. Já o produtor Rick Bonadio, afirmou ser a banda Charlie Brown JR, a mais significativa do rock nacional depois da Legião Urbana.
Adjetivos como ícone do rock, super letrista ou coisa parecida começaram a sair das bocas ouvidas de forma tão natural que somos levados a pensar no nível em que a música pop brasileira se encontrava- ou se encontra.
Há que se ter cuidado com definições tão conclusivas. Charlie Brown JR fez parte talvez do lado menos interessante que a musica pop brasileira produziu nos anos 90. Só para não esquecermos, o início daquela década nos deu Chico Science e Nação Zumbi, Pato Fu, mundo livre S.A., Raimundos, Skank etc, mas também nos apresentou CPM 22, Detonautas e Charlie Brown JR. É necessário perceber a diferença existente esses dois universos sonoros.
Como fator positivo é preciso reconhecer que, no caso da banda de Chorão, o apelo a um público jovem, skatista, urbano, se manteve quase inalterado porque o grupo pouco se afastou da proposta inicial. De certa forma, isso reflete uma postura íntegra e correta, principalmente no volúvel mercado musical atual.
Chorão e o Charlie Brown JR não trouxeram efetivamente uma inflexão nova ao rock brasileiro. É injusto dizer, mesmo com a comoção da morte do vocalista, que a banda se insere entre as maiores da história. Não. Desde o início Charlie Brown JR foi uma banda mediana, com muitos fãs sim, mas isso não significa necessariamente, o carimbo do selo de qualidade.
Nos próximos dias viveremos mais uma onda de necrofilia pop. Chorão será rapidamente alçado à condição de poeta pop urbano. Que descanse em paz, mas sem os exageros da eloquência que uma perda jovem pode causar nesses momentos.
(Diário do Pará)
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