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APROPRIAÇÃO CULTURAL

Texto elogiando Banda Uó sobre tecnobrega causa na web

Mas foi o ponto de partida para uma discussão sobre a quem cabia o desenvolvimento do tecnobrega enquanto fenômeno pop e sobre apropriação cultural.

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Imagem ilustrativa da notícia Texto elogiando Banda Uó sobre tecnobrega causa na web camera A publicação causou muito burburinho na web | Divulgação

Uma postagem no Twitter do publicitário e podcaster Samir Duarte, do podcast de cultura pop “Um Milkshake Chamado Wanda”, irritou internautas ao creditar à extinta banda goiana Uó o feito de ter nacionalizado, dentro da música pop, o tecnobrega. Não exatamente com estes termos, mas foi o que bastou para uma enxurrada de comentários lembrando ao publicitário a ligação do Pará com o surgimento do ritmo, e também uma lista de artistas paraenses responsáveis por transformar o tecnobrega em sucesso no país. Inclusive dando a oportunidade de artistas como a Banda Uó de conhecer o ritmo.

Usando um vídeo em que a extinta banda de Mateus Carrilho, Candy Mel e David Sabbag se apresenta no programa “Encontro com Fátima Bernardes”, o podcaster escreveu: “Banda Uó andou para os seguintes correrem: mostrou que dava para fazer pop no Brasil, misturando a linguagem de fora que a gente gostava com ritmos e estética brasileiros”.

O vídeo tem apenas 45 segundos e até a noite de ontem, tinha mais de 235 mil visualizações. Nas imagens, a banda canta a música “Faz Uó”, um tecnobrega com todos os elementos presentes no repertório dos paredões sonoros paraenses, e com referências à cultura local, como a menina se arruma para tomar um tacacá. A sonoridade é uma marca do primeiro disco do grupo, “Motel” (2012).

Mas foi o ponto de partida para uma discussão sobre a quem cabia o desenvolvimento do tecnobrega enquanto fenômeno pop e sobre apropriação cultural.

“Banda Uó e Banda Djavu, duas bandas que se apropriaram da cultura de outro estado pra fazer sucesso, nenhuma das duas andou p* nenhuma, porque enquanto elas estavam lá se apropriando da nossa cultura, nossas cantoras de tecnobrega faziam suas músicas icônicas, incluindo Gaby”, disse uma internauta. “Tecnobrega é feito no Pará há quase 30 anos, para de pesquisar música olhando só pra Sul/Sudeste/Centro-Oeste, porque o Brasil não é da Bahia pra baixo”, criticou outro, enquanto outros apontavam referências elucidativas como o documentário “Brega S.A.”, de Vladimir Cunha e Gustavo Godinho, e clipes da Gang do Eletro.

Ex-Gang, a cantora Keila minimizou a polêmica e disse ser amiga dos integrantes da banda. “Também acho que eles foram um dos responsáveis em fazer pop no Brasil. Isso não exclui artistas como Gaby Amarantos nem Gang do Eletro e Bonde do Rolê, que foram essenciais neste processo, e que vieram nesse mesmo movimento de forma distinta, mas com a mesma intenção. Ainda incluiria a Karol Conka, Jaloo, Felipe Cordeiro e muitos outros, porque tivemos vários artistas nessa mesma linha, desbravando e trabalhando esse mesmo viés no início de 2010”, diz.

“A Banda Uó já deu entrevistas falando sobre a música paraense ser uma das referências deles. Eu não vejo problema algum em eles serem citados como uma referência de mistura e movimento pop no Brasil. Eu acho uma polêmica desnecessária. Nós somos amigos e nos acompanhamos [mutuamente]. Viajamos juntos pelo Brasil e até fizemos shows nos EUA”, lembrou Keila.

Diferente de Keila, a roteirista e diretora paraense Carol Matos fez uma longa sequência de posts “didáticos” a Samir Duarte, destacando as origens do brega no Pará, as mudanças que levaram ao tecnobrega, até o estouro nacional de Gaby Amarantos em 2012, com o disco “Treme”, e Gang do Eletro.

“A Banda Uó era uma banda muito legal! Com uma batida pop muito boa com artistas incríveis! Porém, dentro de um mercado, eles são uma versão Sudeste do brega, existe toda uma cultura de onde eles beberam e souberam usar muito bem. Então, só tenha muito cuidado com as generalizações, muita cultura de outro estado foi produzida para que a Banda Uó pudesse acontecer”, diz.

E completa: “A música feita em Belém e no Pará é muito forte e inovadora. E uma das grandes responsáveis por isso tudo que você está elogiando na banda Uó! Quando você ignora o Pará nessa jornada, você nos apaga enquanto sociedade e tira da gente algo que nos é muito caro, a nossa cultura”, alerta.

Samir ignorou as polêmicas e não comentou o post. Nenhum dos antigos integrantes da Banda Uó também falou sobre o assunto nas redes sociais.

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