Na América, o horror se instalou como pano de fundo, mas a mídia nos mantém distraídos com bobas tendências: essa é uma das mensagens de This is America, single e videoclipe de Childish Gambino. O cantor, alter ego do ator e roteirista Donald Glover, denuncia o racismo e a violência policial em obra visual dirigida por Hiro Murai, realizador que faz parcerias com o artista desde o seriado Atlanta.
Desde o lançamento do clipe, a internet está em polvorosa em torno das inúmeras referências cuidadosamente escolhidas para cada detalhe dos quatro minutos de vídeo. Bino, como é chamado pelos fãs, se utiliza de imagens racistas e referências à brutalidade com a qual a polícia – e muitos brancos – tratam a população negra americana.
Em dois momentos do vídeo, é possível ouvir (e no segundo, ver) um coral cantando uma música alegre e tranquila quando Gambino puxa uma arma e mata as pessoas em cena. O clima imediatamente fica sombrio e ele afirma: “Esta é a América”. Em seguida, entrega a arma a um homem bem vestido, que cuidadosamente embala o objeto em um tecido vermelho. Ao fundo, cadáveres esquecidos, como coisas. A mensagem é clara: nos Estados Unidos, onde cada estado regula o porte e a comercialização de armas, é mais importante cuidar de um revólver do que de pessoas.
O massacre do coral, inclusive, é uma referência ao ataque sofrido pela população em Charleston, nos EUA, em julho de 2015. Na ocasião, um supremacista branco abriu fogo na Igreja Metodista Episcopal Africana Mãe Emanuel, histórica comunidade que lutou contra a escravidão na região. O terrorista matou nove pessoas.
Bino, não se furta, no entanto, de criticar a juventude negra. No clipe, ele retrata a moçada presa a distrações bobas como gírias, passinhos de dança que estão na moda, preocupações excessivas com a aparência e a compulsão por celulares. Enquanto isso, um mundo de violência, assassinatos e suicídio se apresenta no pano de fundo.
Talvez uma das imagens mais fortes e emblemática do clipe seja uma figura de preto nas costas de um cavalo enquanto o grupo de adolescentes reproduz coreografias-tendência. Em um país majoritariamente cristão, esse pode muito bem ser o simbolismo do primeiro Cavaleiro do Apocalipse, com o branco simbolizando as falsas ideias de paz e religião.
No imagético cristão, o segundo cavaleiro simboliza a morte e a destruição. Não por acaso, no vídeo, quem segue o cavalo é… um carro de polícia.
No final do vídeo, o mesmo músico que Bino mata nos primeiro segundos aparece em meio a carros dos anos 1980. A mensagem tem sido interpretada como a resiliência da arte e da militância negra. Por fim, o único momento de silêncio na obra é quando o cantor, sozinho, acende um baseado. A cena representa um escape, o entorpecer-se para descansar a cabeça de todo racismo e violência institucional sofridos pela população.
O clipe conta com mais de 20 milhões de visualizações no YouTube.
Assista:
Fonte: Metropoles
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar