A secretária executiva Ana Caroline, de 23 anos, faz parte dos 197 milhões de brasileiros que utilizam o WhatsApp como principal meio de comunicação entre familiares e amigos. Moradora do município de Marabá, no sudeste do Pará, há menos de um ano, ela afirma que participa de grupos no aplicativo de mensagens, junto a seus familiares, como uma forma de amenizar a distância e manter a comunicação diária.
Apesar da ferramenta facilitar a vida, a secretária executiva afirma que recebia nos grupos, muitas fake news relacionadas à política, principalmente no período das eleições. Ela conta que “rebatia” sempre que percebia se tratar de uma notícia falsa, entretanto, os assuntos que ela não tinha conhecimento, apenas não se manifestava. Outras vezes, pesquisava na Internet de forma aprofundada a veracidade da informação.
“Normalmente, as notícias que mandavam nos grupos eram afirmações sem fundamentação. Muitas de cunho sensacionalista”, afirmou. Ana Caroline chegou a ser influenciada muitas vezes pelas notícias.
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"Acredito que com a enorme quantidade de fontes de notícias e redes sociais, tem ficado cada vez mais difícil fazer um filtro do que é verdade ou fake. Além disso, ficou muito mais fácil espalhar fake news. Juntamente com a demasiada quantidade de notícias falsas, temos a rapidez com que elas chegam nas pessoas, o que faz ficar cada vez mais difícil de se ter o controle", comenta Caroline.
Onde tudo começou
Em 2018, uma pesquisa feita pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), indicou o WhatsApp como uma das redes sociais mais propícias para a difusão de notícias falsas no mundo. O estudo afirmou que, como se trata de um aplicativo de mensagens privadas, e não tem caráter público, é difícil rastrear as chamadas "fake news" espalhadas ali e avaliar o seu alcance.
Para o Procurador Regional Eleitoral, Alan Rogério Mansur, as notícias falsas disseminadas nas redes sociais induzem os eleitores ao erro e contribuem para a desinformação da população.
As fake news interferem nas ações, pensamentos, na tomada de decisão e até mesmo no posicionamento político das pessoas. Notícias falsas podem influenciar no resultado das eleições, especialmente onde as disputas são mais concorridas. Como as eleições agora são municipais, muitas vezes os resultados são de poucas centenas ou dezenas de votos para eleger ou não um prefeito ou vereador. Aí as fake news promovem um desequilíbrio maior no pleito.
Alan Rogério Mansur Silva, Procurador Regional EleitoralPara as eleições municipais de 2024, no Pará, Alan Mansur afirma que a Procuradoria-Geral Eleitoral, que coordena os trabalhos eleitorais do Ministério Público Federal (MPF) em Brasília (DF), tem uma estrutura que acompanha e que fornece elementos para identificar, capturar e fazer o registro das evidências de irregularidades digitais, de forma que possam ser utilizadas em processos judiciais.
“O núcleo de atuação eleitoral do Ministério Público Estadual também atua auxiliando e levando ferramentas para que os promotores eleitorais, que atuam na função eleitoral em todo o Estado, possam atuar de forma mais precisa. A Polícia Federal também auxilia e realiza o trabalho sempre que houver a identificação do crime eleitoral” afirmou o procurador.
A principal orientação do MPF é que os eleitores busquem fontes confiáveis de jornais e sites que tenham credibilidade, sobre qualquer informação.
“Sempre desconfiar de informações ‘bombásticas’ e sensacionalistas que visem desqualificar ou mesmo difamar candidatos, além de buscar confirmar tais informações em outras fontes”, finalizou.
Como identificar fake News
O combate as fake news tem sido o foco de debates nos órgãos de Justiça e de regulação do processo eleitoral. Para enfrentar o problema, por exemplo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) criou a página Fato ou Boato, que integra o Programa de Enfrentamento à Desinformação; outros Tribunais Regionais Eleitorais também criaram páginas para verificação de notícias falsas. Além das ferramentas oficiais, é possível identificar notícias falsas seguindo as critérios. Veja abaixo com base nas informações da Justiça Eleitoral:
- Títulos chamativos ou bombásticos
Em muitos casos, o título não se relaciona ao restante do texto. Nunca leia só o título e confira se o fato já foi publicado em outros veículos.
- Erros ortográficos ou gramaticais
Textos jornalísticos são revisados antes de serem publicados. Se o texto contém erros, desconfie. Cheque a informação em outros veículos mais reconhecidos.
- Textos opinativos como se fossem notícia
Todo artigo opinativo deve vir assinado pelo seu autor. Mesmo em entrevistas, a opinião dos entrevistados é apresentada de forma imparcial pelo veículo. Se a suposta notícia traz opinião disfarçada no meio do texto, não é isenta.
- Sites ou canais desconhecidos
Convém checar se outros veículos também publicaram a notícia. Isso ajuda a garantir a credibilidade da informação.
- Notícia verdadeira mas antiga
Nem sempre as notícias são falsas, mas podem ser antigas e estar descontextualizadas visando gerar desinformação. Por essa razão é importante verificar a data da publicação e buscar a fonte para saber da veracidade do fato e em que data ocorreu.
- URL falsificada
É comum que as fake news sejam divulgadas em páginas com links que aparentemente são de um veículo tradicional, mas que direcionam o usuário para outro site onde está publicado o conteúdo falso. Então, verifique se o site que veicula o conteúdo é verdadeiro.
- Consulte agências de checagem
Os conteúdos mentirosos que viralizam costumam ser desmentidos por agências de checagem de notícias. Se recebeu algo que despertou dúvidas, consulte essas agências para ver se há algum desmentido sobre o assunto.
Equipe Dol Especiais:
- Lua Araújo, 32 anos, é jornalista profissional e repórter do portal Dol desde julho de 2024.
- Anderson Araújo, 45 anos, é editor e coordenador dos conteúdos especiais do Dol. Formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em 2004, e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto (Portugal), em 2022. É também autor de dois livros de contos e crônicas publicados em 2013 e 2023, respectivamente.
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