
É difícil encontrar um paraense que não seja apaixonado por um bom açaí, assim como é quase impossível não relacionar o Pará com esse fruto. O açaí faz parte do cardápio do povo paraense há gerações, seja para tomar após a refeição ou, como a maioria prefere, consumi-lo como parte integrante do almoço diário.
Porém, no primeiro trimestre de 2025, o preço médio do litro do açaí vem causando espanto nos amantes do alimento. Segundo um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA), o preço do litro do açaí consumido pelos paraenses e comercializado em Belém sofreu um aumento significativo no primeiro trimestre de 2025, com um reajuste acumulado superior a 50%.
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De acordo com as pesquisas do Dieese/PA, o preço médio do litro do açaí tipo médio atingiu R$ 34,82 em março deste ano, uma alta de 18,31% em relação ao mês anterior e um aumento de 51,52% em comparação ao início de 2025.
Nos últimos meses, o preço do produto passou de R$ 22,98 em dezembro de 2024 para R$ 26,02 em janeiro de 2025, chegando a R$ 29,43 em fevereiro e atingindo o valor de R$ 34,82 em março de 2025.
As pesquisas do Dieese/PA mostram ainda que os preços do litro de açaí do tipo grosso também variam em função dos diversos locais de venda. Na última semana do mês de março de 2025, por exemplo, o litro deste tipo de açaí foi encontrado nas pesquisas com os seguintes preços: nas feiras livres, os preços oscilaram entre R$ 40,00 e R$ 50,00; já nos supermercados, os preços variaram entre R$ 50,00 e R$ 56,00 por litro.
Inverno amazônico e a entressafra
O supervisor técnico do Dieese/PA, Everson Costa, explica que o litro do açaí costuma apresentar uma elevação de preço principalmente por conta da entressafra. “Ela geralmente começa ou começava ali em meados de outubro, final de outubro e começo de novembro, e costuma se estender até o final do período do chamado inverno amazônico”, disse.
Everson também aponta que, em 2024, a produção do açaí foi extremamente prejudicada pelas variações climáticas, fazendo com que houvesse uma antecipação da entressafra para meados de setembro.

“Essas questões fizeram com que o preço do produto aumentasse bastante. Então, a partir do final do ano passado até agora, o açaí continua muito caro. Nós fechamos o primeiro trimestre deste ano com uma alta de mais de 50% no preço do produto. Destaco também o fator exportação, que é algo que também pressiona os preços. Afinal de contas, o açaí hoje está na pauta de exportação do estado, sendo demandado Brasil afora”, esclarece o supervisor do Dieese/PA.
No mês de abril, Everson Costa também explicou que os preços seguiram aumentando. Porém, a partir de maio, pode começar a haver um equilíbrio, contendo, assim, essa suscetível elevação no preço do litro — ainda que de forma bem tímida. Só a partir do 2º semestre é que poderemos ter uma redução significativa nos preços.
“O balanço que o Dieese está fechando no mês de abril já aponta novos aumentos no preço do açaí. Acreditamos que, a partir do mês de maio, ele comece a se equilibrar, ou seja, pare de subir, a depender da movimentação e da safra. Podemos ter a possibilidade de recuo, mas ele será pequeno, porque a velocidade da queda não é a mesma da subida dos preços. Então, devemos ter um açaí bem mais barato apenas no segundo semestre”, afirma Everson Costa.
Era uma vez, um açaí de R$ 70...
Ele lembra que, em 2024, o açaí bateu recorde de preços, com a saca do fruto chegando a R$ 1 mil. O litro do açaí chegou a ultrapassar os R$ 70, como foi amplamente divulgado na mídia. Naquele período, o Dieese captou um recorde de preços, no qual o primeiro quadrimestre do ano passado fechou com um aumento acumulado de 75%. Neste ano, a carestia, a depender do seu comportamento, pode se igualar ou até mesmo ultrapassar o cenário de 2024”, avalia Everson Costa.
Indo na mesma linha do Dieese, a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) explica que a solução para o equilíbrio dos preços passa pela equiparação entre oferta e demanda. O órgão afirma que está atuando para promover a capacitação dos produtores.

“Essa demanda está sendo suprida a médio e longo prazos pela implantação de plantios em terra firme irrigados, o que garante a produção o ano inteiro. Contudo, o açaizeiro, por ser uma cultura perene, inicia sua produção comercial apenas no quarto ano de plantio. A Sedap esclarece que tem feito ações por meio do Programa Estadual de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Açaí — PRÓ-AÇAÍ, que promove a capacitação de produtores visando ao manejo de açaizais nativos. Com isso, há um incremento de produtividade por hectare, com maior disponibilidade do produto”, consta na explicação da Secretaria.
Onde vendedor vê otimismo, freguês vê preocupação
Na visão de Carlos Alberto Noronha, presidente da Associação dos Vendedores Artesanais de Açaí de Belém (Avabel), o aumento registrado no primeiro quadrimestre de 2025 já era esperado pela categoria, devido à entressafra. “Esse aumento é normal, pois estamos no final da entressafra. A partir de maio, o valor já vai regredir”, disse.
Ele também atribui às condições climáticas as dificuldades para a colheita do açaí. “O excesso de chuva prejudica porque dificulta a colheita do fruto. Por conta das chuvas, temos menos açaí, fazendo o preço subir. Mas quando faz sol, tem mais açaí e o preço cai — essa é nossa expectativa a partir de maio. Também é importante dizer que a entressafra do açaí faz com que os produtores façam a retirada de palmito e a limpeza da área de produção para a próxima safra, o que leva à demora da nova produção”, esclarece Carlos.

Heron Rocha, que tem um ponto de açaí na feira da Pedreira e atua nesse ramo há mais de 31 anos, mencionou em entrevista ao jornal Diário do Pará que os preços do açaí ainda estão elevados. “Estamos com esperança de que, no final de maio, os valores melhorem. Além disso, a qualidade também deve aumentar, pois o açaí ficará um pouco mais maduro, o que ajuda a intensificar a cor”, explica. Os preços dele permanecem os mesmos do ano passado: R$ 35 pelo médio e R$ 50 pelo grosso. “Nós sempre buscamos selecionar os melhores frutos da região das ilhas para oferecer o melhor aos nossos consumidores”, completa.
Os preços elevados do litro do açaí impactam significativamente o dia a dia dos consumidores, como é o caso do aposentado Amarildo Moraes. Ele sempre teve o hábito de consumir o fruto diariamente, mas com a alta no preço, precisou se readequar para não abrir mão do açaí. “Eu tomo açaí todos os dias, quando é possível, porque agora, devido à alta do preço, tive que diminuir o consumo”, disse.
O aposentado relata que, nos pontos de venda próximos à sua casa, que fica na Ilha de Mosqueiro, chegou a encontrar o litro custando R$ 50. “Na área em que moro, já vi o litro custando R$ 50, mas sei que, em outros locais, estão cobrando até R$ 60. Por causa desses preços, reduzi a frequência do consumo. Atualmente, apenas três dias na semana”, afirma Amarildo Moraes.
Entenda as causas do aumento do preço do açaí:
Entressafra prolongada
A entressafra do açaí, que geralmente ocorre entre outubro e o final do “inverno amazônico”, começou mais cedo em 2024, a partir de setembro, prolongando-se até 2025.
Variações climáticas adversas
As fortes chuvas dificultaram a colheita e reduziram a oferta do fruto, contribuindo para a escassez e o aumento de preços.
Alta demanda
Açaí é parte essencial da alimentação no Pará e também tem demanda crescente em outras regiões do Brasil.
Pressão da exportação
A inclusão do açaí na pauta de exportações do estado aumentou a concorrência pela oferta interna, pressionando os preços.
Produção comprometida
A safra anterior foi fortemente afetada por problemas climáticos, comprometendo a disponibilidade de frutos para o período seguinte.
Custos mais altos
O período de entressafra também é usado para retirada de palmito e limpeza das áreas de produção, atrasando o novo ciclo produtivo.
Oferta mais baixa que a demanda
A falta de equilíbrio entre a oferta e a demanda elevou os preços, com previsão de estabilização apenas no segundo semestre de 2025.
Demora dos novos plantios
Projetos para ampliar a produção (como o cultivo irrigado em terra firme) levam anos para gerar frutos, o que não resolve o problema de curto prazo.
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