O presidente da França, Emmanuel Macron, foi até o gramado do estádio de Lusail consolar Kylian Mbappé.
Aos 23 anos, ele havia acabado de fazer três gols na segunda final de Copa do Mundo de sua carreira depois de ter sido protagonista na conquista do bi da França, em 2018.
Foi uma atuação incrível, que será lembrada por muitos anos. Ele é apenas o segundo a fazer tantos gols em uma decisão de Mundial -o inglês Geoff Hurst foi o primeiro, em 1966.
Somados ao gol no título contra a Croácia, há quatro anos, os anotados neste domingo (18) fazem dele o maior artilheiro da história das finais da Copa, com quatro bolas na rede.
Mas os feitos foram ofuscados por um gênio da bola, o argentino Lionel Messi.
Autor de dois gols na partida, o camisa 10 levou seu país ao título com uma vitória nos pênaltis.
Vendo a festa do adversário, seu companheiro no Paris Saint-Germain, Mbappé não queria ouvir nem as palavras de Macron. Não queria conversa. Não queria falar com ninguém. Só refletir.
Talvez seja difícil para ele digerir agora, mas novamente ele deu uma prova de que está pronto para assumir o trono que foi de Messi e Cristiano Ronaldo nos últimos dez anos.
É algo para o que ele se preparou a vida toda. Quando adolescente, aos 15 anos, ainda na base no Monaco, recebeu uma tarefa de um professor para confeccionar a capa de uma revista com um desejo para o seu futuro.
Enquanto seus colegas de clubes escolheram publicações francesas, a maioria de esportes, a opção do jovem craque já mostrou um forte traço de sua personalidade: a ambição pelo estrelato.
Mbappé emoldurou uma foto sua na capa da revista norte-americana Time, famosa por apontar as maiores personalidades das mais distintas áreas.
A versão feita pelo jogador era acompanhada da frase "El Maestro", como se já se colocasse como um mestre na arte de jogar futebol.
Títulos menores em torno da página o rotularam como "o melhor jogador jovem do mundo", "uma prioridade do técnico da seleção francesa", "o futuro do futebol".
A fantasia juvenil pode soar como visionária agora que ele se transformou em tudo aquilo que previu.
O camisa 10 foi o artilheiro da Copa do Mundo, com oito gols.
Sua presença em campo, porém, representa muito mais que isso. As jogadas da equipe são pensadas para convergir a bola em direção aos seus pés.
E, quando ele a recebe, sua capacidade de visão o faz focar aquela que sempre é sua única meta: chegar ao gol.
Sua obsessão por balançar a rede faz dele mais parecido com Cristiano Ronaldo do que com Messi, que, ao mesmo tempo em que sabe marcar como poucos, não hesita diante da chance de colocar um companheiro na cara do gol.
A aversão às entrevistas também o faz ser mais semelhante a Ronaldo do que a Messi, que atenciosamente, na maioria das vezes, fala com os jornalistas após as partidas da Argentina, nas vitórias e nas derrotas.
Mbappé cresceu assistindo aos dois, mas nunca escondeu sua predileção pelo português. Cresceu almejando repetir a história dele. Tinha em seu quarto, na adolescência, uma camisa 7 do Real Madrid com o nome Cristiano Ronaldo.
Era uma imagem para idolatrar e para inspirar. Na última janela de transferência, ele quase materializou isso, mas o Paris Saint-Germain, a Qatar Sports Investments (dona do clube) e até o governo francês fizeram de tudo para ele continuar jogando em seu país.
A mudança, por enquanto, foi adiada. O PSG também já negocia para tentar estender seu contrato. Mas o desejo do astro de vestir a camisa madrilena ainda está vivo.
Assim como é forte também a ligação dele com Cristiano Ronaldo. Ele se orgulha de ter enfrentado o português no futebol de clubes e no de seleções.
Quando Portugal foi eliminado da Copa do Mundo por Marrocos, nas quartas de final, a publicação de Cristiano alcançou milhões de usuários, mas um comentário se destacou entre eles. Era justamente o do francês. Ele escreveu "Legend" (lenda), acompanhado de três imagens: uma coroa, mãos a rezar e uma cabra.
A cabra é muito usada por fãs de atletas para elogiar os seus ídolos. Em inglês, o nome do animal é "goat". E "Goat" é o acrônimo de "Greatest of all time".
Foi a forma que Mbappé usou para definir o português como "o melhor de todos os tempos", algo que também almeja ser.
Neste domingo, apesar do vice-campeonato, ele continua no caminho de seu ídolo. E pronto também para superá-lo.
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