O técnico Vanderlei Luxemburgo disse nesta quarta-feira (6) que o futebol precisa estar em segundo plano diante da pandemia do novo coronavírus. A declaração foi dada em entrevista de vídeo montada pelo Palmeiras, com a participação de jornalistas.
"As pessoas estão muito preocupadas com o futebol, com se ele fosse mover o mundo. A preocupação é com a pandemia do momento do mundo, com a saúde, letalidade do vírus. Essa é a preocupação que todos têm de ter, que caminho tomar e como acabar com esse vírus, fazer com que a sociedade vai voltar ao normal. Futebol está seguindo esse contexto", disse Luxemburgo.
"[Estamos] Torcendo para que os cientistas descubram um meio de acabar com isso, para que todos, não só o futebol, voltem à normalidade. Senão vamos discutir só sobre futebol. A sociedade mundial tem de estar preocupada com a pandemia, que é diferente, pegou todo mundo desprevenido. Não vamos pensar só no futebol, se tem que voltar hoje ou amanhã. A preocupação maior é com o cidadão mundial, com as pessoas que estão sendo acometidas por esse vírus", completou o treinador.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a covid-19 já matou quase oito mil pessoas no Brasil. Os casos já passam de 114 mil, com pouco mais de 48 mil pessoas recuperadas.
Diante da situação, o Palmeiras tem feito treinos remotos, com a participação de todos os jogadores em casa. O elenco ainda teve férias de 30 dias, durante todo o mês de abril.
O técnico do Palmeiras ressaltou ainda que o clube só voltará às atividades no centro de treinamento depois do aval das autoridades médicas. A postura é diferente da adotada por Inter e Grêmio, por exemplo, que já voltaram ao trabalho nos
CTs.
"Temos de deixar as autoridades determinarem aquilo que precisa que ser feito. No Palmeiras, foi decretado que a volta vai se dar quando for liberado. Nós não sabemos quando vamos voltar. Estamos preocupados com uma coisa: isolamento e preservação da saúde, que é a determinação dos órgãos de saúde. Tudo o que se fala agora são possibilidades. O Palmeiras determinou que vai esperar os meios oficiais para depois tomar decisões. O clube vai fazer tudo aquilo que foi determinado", afirmou Luxemburgo.
VEJA MAIS DECLARAÇÕES DO TÉCNICO:
- TRABALHO EM CASA
São muitos dias em casa. Dá pra ver muita coisa, ficar com a cabeça funcionando. Análise [de adversários] é um assunto interno. Foi feito isso. Vivo intensamente o futebol, 24 horas por dia. Eu procurei criar uma via direta com os jogadores, por videoconferência, duas a três vezes por semana. Eu ainda tenho uma conversa quase diária com o presidente. Tudo isso foi conversado. Criamos um programa para treinar, uma ferramenta em que fomos até a casa do atleta. Isso nós procuramos, criamos alternativas. Criamos essa ferramenta diante dessa pandemia. É como se fosse uma parada técnica, para olhar jogos e ver o que pode ser feito.
- ATIVIDADES DOS JOGADORES
Estamos voltando de férias, é como uma pré-temporada, mas o jogador normalmente joga nas ferias, poucos chegam zerados. E essas férias foram mais prolongadas ainda. Estamos tentando fazer com que os jogadores voltem num estágio bem melhor treinados. As férias terminaram, mas não podemos estar juntos. Existe uma obrigação de isolamento. Estamos trabalhando, é uma obrigação, ninguém pode atrasar. Iniciamos uma pré-temporada, porque ficamos muito tempo parados. Mandamos um programa para eles. Talvez cheguem num estágio maior.
- ATITUDE DO CLUBE
Presidente sempre fala comigo. Ele tem dado uma demonstração de como o Palmeiras é grande e como vai passar por isso. Eu falo com o capitão da equipe, que é o Felipe Melo. O documento chegou para eles. Foi uma aceitação unânime que era importante a gente ceder [a redução de salários]. Nada melhor do que retribuir com essa empresa, para que ela passe com tranquilidade por isso. Palmeiras está à frente mesmo, é vanguarda, com decisões inteligentes e democráticas. Todos nós estamos colaborando neste momento para que o clube possa caminhar. Pode ser que mais para frente tenha que conversar de novo. Neste momento, tomou essa decisão, mas não sabemos até onde isso pode ir. Queria dar os parabéns a todos pela sensibilidade.
- RISCO DIANTE DA PANDEMIA
Grupo de risco foi colocado no início da pandemia. Mas todos são grupo de risco, tem morrido crianças, pessoas fortes, que são atletas. Risco é para todos. O vírus não está aliviando ninguém. É preciso estar preocupado com todos, até a imprensa. Hoje todos precisam estar preocupados.
- IMPORTÂNCIA DO ISOLAMENTO
O que temos de concreto se está todo mundo buscando uma solução. Vamos cair num lugar-comum, de pergunta e resposta. Mas não temos um caminho. Qual é a medida que precisa ser toada hoje? Isolamento. Não existe outra recomendação. Não acho que existe omissão, não temos um caminho.
Como cidadão brasileiro e mundial, me sinto muito incomodado e triste de ver o quanto nós somos vulneráveis, o quanto o mundo está preocupado com outras coisas, o vírus está deixando todas as pessoas em casa. Minha família está toda aprendendo a se relacionar. Há quantos anos eu não conseguia estar com todos ele? Isso fez a gente repensar a nossa vida. É um reaprendizado de como se deve viver. Que o mundo se torne melhor, com menos vaidade. É um momento diferente do mundo. Esquece o técnico de futebol, quem fala é o cidadão.
- DISCURSOS DIFERENTES ENTRE GOVERNOS FEDERAL E ESTADUAL
Eu não tenho que falar de política neste momento, o que menos tem que falar é de política. A preocupação de todo cidadão mundial hoje é torcer para que os cientistas encontrem uma vacina para acabar com isso. Esse momento não cabe política. Não cabe a mim responder sobre política. Não interessa quem está certo ou errado. Eu sempre me posiciono politicamente, mas esse não é o momento de se posicionar politicamente. O pedido é que se faça isolamento. Qualquer discussão que fuja disso estou fora neste momento. Vamos nos preocupar com a solução da pandemia.
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