O Corinthians usará os R$ 300 milhões que serão obtidos com a venda dos naming rights da sua arena, anunciada nesta terça-feira (1º), para pagar parte da dívida que possui com a Caixa Econômica Federal referente à construção do estádio.
Além disso, acredita que o negócio, fechado pelos próximos 20 anos (no valor de R$ 15 milhões anuais), também ajudará nas negociações em curso com o banco.
A estatal acionou o clube na Justiça há um ano, e a ação de execução está suspensa desde outubro de 2019, após pedidos de ambas as partes. Nesse período, representantes da Caixa e do clube têm se reunido para negociar, porém há divergências nos valores.
Para o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, a dívida é de aproximadamente R$ 450 milhões. Já no entendimento da Caixa, são R$ 536 milhões devidos, somando juros pelos atrasos nos pagamentos e o acréscimo de uma multa de R$ 48,7 milhões pelo ajuizamento de ação para cobrar seis parcelas.
Sanchez avisou aos representantes da estatal que concorda em pagar, no máximo, R$ 470 milhões. Caso contrário, pretende discutir a questão na Justiça.
"Há divergências dos valores em juízo", disse Fabio Trubilhano, diretor jurídico do Corinthians. "Esses processos vêm sendo suspensos para nossa negociação. E agora esse cenário fica mais favorável."
Trubilhano, Sanchez e Caio Campos, responsável pelo departamento de marketing do clube, concederam entrevista nesta terça-feira (1º) para falar sobre a venda dos naming rights da arena em Itaquera à Hypera Pharma.
Com o negócio selado, o estádio passará a ser chamado de Neo Química Arena, uma das empresas do grupo farmacêutica, dono também de marcas como Engov e Doril, por exemplo.
"O dinheiro vai 100% para abater a dívida com a Caixa. Mandamos o contrato com a Neo Química para a Caixa ontem [segunda]. Agora, eles estão analisando e vamos lá para falar sobre as negociações", afirmou Sanchez.
Pelo acordo, a Hypera Pharma poderá batizar áreas do estádio com nomes de seus produtos e realizar eventos, inclusive shows musicais, além de ativações nas redes sociais. A arena, construída na zona leste de São Paulo, será totalmente envelopada com a logomarca do grupo.
"A parceria de longo prazo com o Corinthians vai nos aproximar ainda mais de nossos consumidores", disse Ana Biguilin, diretora da empresa.
O presidente corintiano declarou que não há nenhuma hipótese de o estádio deixar de receber partidas de futebol do time por causa da realização de eventos, algo comum na parceria entre o arquirrival Palmeiras e a empresa WTorre, que administra o Allianz Parque.
"Terá muitos eventos na arena, mas o Corinthians jamais vai deixar de jogar na sua casa por causa de evento. Isso é contratual, o torcedor poderá ficar tranquilo", afirmou Sanchez.
Segundo Campos, toda a arrecadação gerada com esses eventos irá para os cofres do Corinthians. E, de acordo com Sanchez, será repassada "100% para a Caixa".
A venda dos naming rights é um alívio para as finanças do clube e para o próprio presidente alvinegro, cujo terceiro mandato vai até dezembro deste ano.
No plano original de construção do estádio, inaugurado em 2014, os naming rights seriam vendidos por R$ 400 milhões.
Mas ter conseguido um acordo seis anos após a inauguração não deixa de ser uma vitória do mandatário, sempre lembrado de que a ausência de um contrato pelo nome da arena era uma das causas dos problemas financeiros para o pagamento dela.
"O valor da arena é de R$ 300 milhões. Falei na época realmente de R$ 400 milhões porque era o parâmetro que tinha pelo empréstimo feito com a Caixa", afirmou o cartola.
O dirigente mandou um recado aos seus opositores, que se movimentam para as eleições do clube, marcadas para 28 de novembro. "Acabou esse problema e amanhã tem outros. Podem ficar tranquilos que até o fim do meu mandato vou resolver os poucos problemas da arena."
O presidente também reagiu com ironia pelo fato de o Corinthians, além da dívida com o estádio, ter fechado o ano passado com um déficit de mais de R$ 177 milhões. Ao longo deste ano, o clube também sofre com acumulo de ações trabalhistas e penhoras em suas contas.
"O Corinthians pode terminar em sexto, sétimo colocado [no Campeonato Brasileiro], mas o balanço vai ter superávit neste ano. Só se fala de balanço, superávit, não falam mais de futebol."
A relação entre Corinthians e Hypera Pharma é apadrinhada pelo ex-jogador Ronaldo. Quando o ex-atacante defendeu o clube, a Neo Química patrocinou a camisa alvinegra, em 2010 e 2011. Na ocasião, o conglomerado se chamava Hypermarcas.
Sanchez não foi claro se Ronaldo participou efetivamente das negociações pelo naming rights. "Ronaldo, desde quando estou no Corinthians, sempre é parceiro, nos ajuda com a sua opinião. Sempre que convocado, participa. Ele nos ligou para dar os parabéns", declarou o cartola.
Entenda os custos da arena e as dívidas do Corinthians Orçado inicialmente em R$ 335 milhões, o preço do estádio saltou para R$ 985 milhões (R$ 1,3 bilhão em valores atualizados) à época de sua inauguração, em 2014.
A estrutura financeira para a execução do projeto consistiria em empréstimo repassado pela Caixa no valor de R$ 400 milhões, além dos CIDs (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento), estimados em R$ 420 milhões.
Como esses papéis só foram emitidos pela Prefeitura de São Paulo após a inauguração do estádio e com o valor fracionado de acordo com o orçamento do município para cada ano, a Odebrecht, construtora responsável pela obra, precisou captar empréstimos no mercado, o que tornou o projeto ainda mais caro.
Em agosto de 2019, a empresa estimava que o clube lhe devia cerca de R$ 800 milhões, mas no mesmo mês anunciou um acordo para reduzir o montante para R$ 160 milhões.
Além desse valor, o Corinthians ainda tem de pagar a dívida com a Caixa, repassadora do empréstimo feito junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social). Segundo o clube, ela é estimada em cerca de R$ 450 milhões. Para o banco estatal, o valor é de R$ 536 milhões.
O atraso no pagamento desse débito fez a instituição financeira executar a dívida em setembro de 2019 e cobrar multa de R$ 48,7 milhões por ter ajuizado ação para cobrar seis parcelas. Desde então, as partes passaram a negociar novas condições.
A pandemia do novo coronavírus, no entanto, atrapalhou as tratativas, sobretudo porque a principal fonte de receita para o pagamento do empréstimo é proveniente das bilheterias dos jogos do time. Mesmo com a retomada do futebol, as partidas estão ocorrendo sem torcida.
A venda dos naming rights terá como principal objetivo amenizar a dívida a partir agora, uma vez que o valor pago pela Hypera Pharma terá de ser repassado integralmente para o pagamento das parcelas.
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