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Ciel desdenha Gabigol: "Chega dez bolas pra ele"

O jogador de 39 anos diz que, assim como Cristiano Ronaldo, se reinventou no futebol.

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Imagem ilustrativa da notícia Ciel desdenha Gabigol: "Chega dez bolas pra ele" camera Ciel diz que, para Gabigol, é fácil marcar gols. | Foto: Reprodução/Web

Jociel Ferreira da Silva não acredita que ser artilheiro é uma simples função dentro de campo. É um ofício, uma vocação. "Mais do que isso. Fazer gol é talento", constata.

O pernambucano de Caruaru está preocupado nos últimos dias. Quer se recuperar logo de uma lesão na coxa esquerda. Acredita que talvez possa estar em campo na terça-feira (21), quando o Sampaio Correa receber o Brusque, pela Série B do Campeonato Brasileiro.

Em 7º lugar, com 35 pontos, o time maranhense ainda tem o sonho de entrar no G4 e chegar à elite do país em 2022. Mas para Ciel, 39, há um objetivo a mais, que ele não diz ser mais importante do que o acesso, mas é óbvio ter se transformado em enorme objetivo. Ele está na disputa com Gabigol, do Flamengo, para ser o maior artilheiro do Brasil em 2021.

O goleador do atual bicampeão nacional anotou 35 vezes neste ano (que engloba também parte da temporada 2020, adiada por causa da pandemia da Covid-19). Ciel está com 32.

"Eu trabalho sempre por uma chance de gol. Os times na Série B não criam tantas oportunidades, então, quando aparecem, a gente tem de estar preparado. Gabigol é um atacante fantástico, mas para ele é diferente. Em uma equipe como a do Flamengo, com Arrascaeta, Bruno Henrique, Diego, chegam 10 bolas para ele por partida", avalia.

Dos 32 feitos pelo veterano centroavante em 2021, oito aconteceram na Série B do Brasileiro. Pelo Sampaio Corrêa, ele anotou duas vezes no estadual. Neste ano, Ciel também atuou pelo Salgueiro (três gols na Copa do Nordeste e um no Pernambucano) e pelo Caucaia (10 gols na Copa Fares Lopes e oito no Cearense).

É por causa disso que ele tem se preservado fisicamente o máximo possível. Isso significa decepcionar as filhas Sara Yasmin, 12, e Sara Letícia, 7. As reclamações são que o pai jamais tem tempo para fazer algo com elas. Mesmo quando está em casa.

"Eu fico de coração partido, mas tenho de descansar, fazer recuperação, estar pronto para a próxima partida. Elas me chamam para ir ao shopping, querem passar algumas horas na praia. Não posso. O futebol é a minha profissão e na minha idade, preciso me preservar", completa, lembrando de novo que fazer gols é o seu ofício e ele deve estar 100% focado nisso.

A vida de artilheiro é recente na carreira de Ciel. Pela maior parte da sua trajetória de quase duas décadas, ele foi atacante que atuava pelas pontas. Foi assim que jogou no Fluminense, em 2008, sua única experiência em um grande clube do sudeste brasileiro. No total, tem 20 equipes no currículo. Algumas delas com mais de uma passagem.

Atacante com vida construída no futebol do nordeste e do Oriente Médio, Ciel levanta a bola para si mesmo. Acredita que sua mudança é parecida com a de Cristiano Ronaldo. O astro do Manchester United (ING) começou pelos lados do campo e hoje, aos 36, é um finalizador de área.

"Eu observo o Cristiano [Ronaldo], a forma como ele se movimenta. O Messi também atua hoje em dia mais por dentro [pelo meio]. Fazer gol é dom e basta pegar isso para você. Antes eu não era assim. Não fazia muitos. Quando vim para dentro, apareceu uma cobrança maior sobre mim. Por isso que quando passo dois ou três jogos sem marcar, falo para os caras no vestiário que a bola tem de chegar mais", explica.

A transformação no gramado aconteceu no Caucaia, em 2019, quando o treinador pediu que ele treinasse como centroavante. A partir dali, não quis outra posição em campo.

Mas antes, houve a mudança fora das quatro linhas e esta foi mais significativa em sua vida.

Apenas em 2018, ao chegar ao Dibba Al Fujairah, dos Emirados Árabes, que Ciel se deu conta do seu problema com álcool e o quanto isso o prejudicava no futebol e no dia a dia. Ele credita a Alcinei, ex-jogador e integrante da comissão técnica dirigida pelo brasileiro Paulo Bonamigo no clube árabe, sua mudança.

Ciel se lembra de porres homéricos, quando em que passou 72 horas a beber sem parar. Depois dirigia o carro até sua casa sem ter ideia de como chegou sem machucar a si mesmo ou outras pessoas. Credita a Deus nunca ter provocado um acidente sério.

Hoje em dia, o centroavante vai a escolinhas de futebol para dar palestras e falar sobre sua trajetória, conversa com atletas mais jovens, das categorias de base, sobre os perigos da profissão. Ele mesmo acredita que poderia ter ido mais longe se tivesse enfrentado seus problemas antes.

O jogador sente saudades de Dubai, onde morou com a família nos Emirados Árabes. É grato porque foi na cidade que encontrou a cura para a bebida e fez seu pé de meia financeiro.

Em uma das passagens pelo futebol árabe (foram quatro no total), se tornou amigo de Everton Ribeiro, meia-atacante do Flamengo e da seleção brasileira.

"Há uma amizade de família. Minha esposa conversa sempre com a dele. A gente morava um perto do outro. Quando tinha folga a gente marcava churrasco junto. Fico muito feliz com o sucesso dele. Com ele do meu lado no ataque, eu faria mais gols que o Gabigol", brinca Ciel.

Ciel cai na gargalhada quando questionado se o amigo Everton não poderia lhe dar uma mão para ter uma chance no rubro-negro carioca, um dos melhores times sul-americanos.

"Ali, não dá. É muita fera junta! Eu escuto muito sobre o que aconteceria se não tivesse tido os problemas extracampo. Será que eu não chegaria à seleção brasileira ou jogaria nos principais times do país?"

Ele não tem resposta. Prefere pensar no que está à sua frente, não no passado. E no futuro imediato, está a possibilidade de ser o artilheiro do Brasil.

"Tudo acontece por algum motivo. Eu entrego tudo nas mãos do Senhor. Será como Ele deseja."

E MAIS - Veja o gol da vitória do Inter sobre o Fortaleza no Beira Rio

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