O Santos não leva a sério uma parte da conversa de Eduardo Bauermann com os apostadores em que ele diz que talvez conseguiria cooptar outros dois atletas do elenco para a quadrilha investigada pela Operação Penalidade Máxima.
O Santos crê que Bauermann teria falado de trazer outros jogadores para o esquema pois estava pressionado pelos apostadores após não cumprir o combinado de levar cartões.
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O time teve uma reunião com Eduardo Bauermann e seu advogado antes de afastá-lo provisoriamente. O zagueiro não deu mais detalhes da operação.
O presidente Andres Rueda também reuniu os jogadores e afirmou que o clube não tolera desvios de conduta.
"Até onde eu vi na denúncia colocada no Ministério Público, ele diz que acredita que poderia [envolver outros jogadores]. Acredita que poderia e nada é a mesma coisa", disse Rueda.
BAUERMANN FOI AMEAÇADO
Romário Hugo dos Santos, conhecido como Romarinho, foi cobrado na conversa com o contato salvo como "Jesus L@3rCio Didi" sobre a aposta fracassada que teria sido combinada com Eduardo Bauermann. O lucro seria de R$ 800 mil.
Romarinho tenta defender Bauermann e contesta o colega da quadrilha: "Quer que eu mate o cara, mano?"
A polícia encontrou duas armas de fogo e 23 munições sem autorização legal na casa de Romário.
O QUE BAUERMANN TERIA DEIXADO DE FAZER?
De acordo com o processo, Bauermann topou R$ 50 mil para levar cartão amarelo contra o Avaí, no dia 5 de novembro de 2022 e não cumpriu. Para se redimir, teria prometido ser expulso diante do Botafogo, cinco dias depois. O zagueiro levou o vermelho, mas após o apito final, o que não é contabilizado nas casas de apostas.
O atleta do time praiano, então, passou a receber ameaças de morte dos apostadores, com cobranças para ressarcir a quadrilha, como mostram as conversas do processo. A aposta que incluía cartões para Dadá Belmonte, ex-Goiás, e Igor Cariús, ex-Cuiabá, renderia R$ 800 mil.
O defensor, de acordo com as mensagens, alegou não ter R$ 800 mil à disposição e se comprometeu, por meio do empresário Luiz Taveira, a pagar um acordo de R$ 50 mil mensais em 20 parcelas (R$ 1 milhão no total, com juros), além de usar seus direitos econômicos como garantia. O último pagamento registrado nas mensagens foi em fevereiro, após forte cobrança dos apostadores.
Bauermann, no print de Whatsapp, envia uma proposta que recebeu do León (MEX) de 2,5 milhões de dólares e avisa que receberá uma oferta maior, de 4 milhões de dólares, no fim do ano. Além disso, teria afirmado que acha que conseguiria envolver mais dois jogadores do Santos no esquema. Tudo para tentar acalmar os líderes da quadrilha.
O ACORDO
De acordo com o Ministério Público, o empresário Luiz Taveira ajudou Eduardo Bauermann a se resolver com os apostadores após não levar o amarelo contra o Avaí e só receber o vermelho depois do apito final diante do Botafogo.
Taveira diz na conversa que Bauermann deveria ter "rachado o cara no pau" para forçar expulsão e que ele "vai aprender, tirou a virgindade". Com a cobrança dos apostadores para ressarcimento, o agente sugere "confissão de dívida parcelada, com a garantia dos direitos econômicos". As mensagens mostram que ele marcou encontro com um dos líderes da quadrilha em Santos.
Bauermann, então, não apenas teria devolvido os R$ 50 mil que recebeu de início, como passou a pagar R$ 50 mil por mês para abater a dívida que criou na aposta de R$ 800 mil que não foi concluída. Com juros, o acordo foi de 20 parcelas de R$ 50 mil, o que totalizaria R$ 1 milhão.
Em contato com o UOL, o empresário Luiz Taveira afirmou que Eduardo Bauermann foi ameaçado após não levar o cartão amarelo contra o Avaí e traçou uma estratégia com o jogador para ficar em paz.
O agente ainda diz que Bauermann não levou o vermelho de propósito durante o jogo diante do Botafogo e que a expulsão após o apito final foi "aleatória" e não valia para as apostas. Taveira alega que Bauermann nunca quis participar do esquema, admite um acordo com os apostadores para abatimento da dúvida e reclama que só se fala do Eduardo Bauermann, que não cumpriu o combinado e é o único ameaçado: "Como aconteceu, foi um meio de tentar atenuar o problema".
RACISMO
O Ministério Público também levantou a conversa de Romário Hugo dos Santos, um dos líderes do grupo, com Beatriz, aparentemente sua namorada. Na troca de mensagens, Romário conta como Eduardo Bauermann estragou a aposta e a companheira comete um ato racista.
Romário: "Por que o moleque tomou o cartão quando acabou o jogo, mano? Precisa ver se vai computar. Ele vai morrer, eu juro (...). Eu estou sem chão, mano. De verdade. Nada mais dá certo na minha vida. Não é possível, cara. Ele vai me pagar R$ 800 mil, amor. Pode anotar"
Beatriz: "Estou triste por você. Poxa, que droga. Mas Deus tem algo muito bom e muito grande preparado para você".(...)
Romário: "Eu nunca estive tão perto de ficar rico, amor. Você não está entendendo"
Beatriz: "Não dá para confiar nesse macaco mesmo. Vacilão demais".
O QUE O SANTOS VAI FAZER?
O Santos afastou Eduardo Bauermann preventivamente após dar um voto de confiança quando zagueiro negou todas as acusações.
O Peixe será solidário à investigação e, se a denúncia for confirmada, pode ir à Justiça contra o jogador.
O clube não vai rescindir por justa causa, nem aceitaria o possível pedido de demissão.
A direção adota cautela para não cometer erros jurídicos, mas o Comitê de Gestão já fala sobre a possibilidade de processo para rescindir com Bauermann por meio da Justiça e pedir o pagamento da multa do contrato válido até dezembro de 2024.
OUTROS ENVOLVIDOS
O MP-GO investiga jogos da Série A, da Série B e dos Estaduais de 2023. As autoridades recolheram celulares e computadores e avançaram na investigação. O líder do esquema seria Bruno Lopez, conhecido como BL.
O Ministério Público pede ressarcimento de R$ 2 milhões aos cofres públicos por "danos morais coletivos", além da condenação do grupo envolvido.
Os clubes e as casas de apostas são tratados como vítimas pelo MP. As apostas envolveriam cartões amarelos, cartões vermelhos e pênaltis cometidos.
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