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Procuradoria do STJD pede suspensão preventiva de 8 atletas

Os jogadores que atuaram para manipular eventos de campeonatos estaduais não entraram nas ações de momento do STJD porque os torneios são de alçada dos tribunais estaduais (TJDs).

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Imagem ilustrativa da notícia Procuradoria do STJD pede suspensão preventiva de 8 atletas camera Eduardo Bauermann é um dos principais nomes | Ivan Storti

A procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) entrou com pedido de suspensão preventiva dos oito jogadores investigados na segunda fase da operação Penalidade Máxima. A solicitação está sob análise do presidente do tribunal, Otávio Noronha.

O pedido de suspensão preventiva é por 30 dias e envolve os seguintes jogadores: Eduardo Bauermann (Santos), Moraes (Aparecidense, ex-Juventude), Gabriel Tota (Juventude), Paulo Miranda (Náutico, ex-Juventude), Igor Cariús (Sport, ex-Cuiabá), Matheus Gomes (Sergipe), Fernando Neto (São Bernardo, ex-Operário-PR) e Kevin Lomónaco (Red Bull Bragantino).

Seis deles foram denunciados pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) e se tornaram réus na Justiça sob acusação de envolvimento no esquema de manipulação de partidas de futebol.

Kevin Lomónaco e Moraes fizeram acordo com o MP e não foram denunciados na Justiça comum, já que viraram testemunhas e admitiram a participação. Mas eles foram inseridos no pedido de suspensão preventiva feito pela procuradoria do STJD.

Segundo a investigação, os jogadores citados combinavam com apostadores para levar cartões amarelos ou vermelhos.

"O pedido de suspensão preventiva é porque já temos as provas suficientes enviadas pelo Ministério Público para poder requerer isso. Se deferido pelo presidente, do tribunal, os jogadores ficam suspensos por 30 dias. Após isso, o processo vai para julgamento", disse Ronaldo Piacente, procurador-geral do STJD, ao UOL.

ESFERA DESPORTIVA

A denúncia contra os jogadores na Justiça Desportiva considera eventos acontecidos nas competições nacionais -Séries A e B- e foi feita com base nos artigos 243 e 243-A do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).O texto prevê punição a quem atua deliberadamente para prejudicar a equipe que defende e também age de forma contrária à ética desportiva para influenciar resultado de partida, prova ou equivalente.

Os jogadores que, segundo a denúncia do MP, atuaram para manipular eventos de campeonatos estaduais não entraram nas ações de momento do STJD porque os torneios são de alçada dos tribunais estaduais (TJDs).

A OPERAÇÃO

No segundo semestre do ano passado, o MP-GO abriu investigação ao encontrar evidências de manipulação em competições esportivas. Uma organização criminosa especializada em corromper atletas profissionais do futebol liderava esse esquema.

O objetivo seria assegurar a ocorrência de eventos determinados nas partidas, apostar nesses eventos e, assim, ganhar dinheiro em sites de jogos e apostas. A ocorrência mais frequente envolve o recebimento de cartões amarelos em partidas, mas outras apostas como escanteios, expulsões pênaltis e até resultado no primeiro tempo constam no processo.

Mais de 60 jogadores já foram citados de alguma forma na investigação. De acordo com o MP-GO, as apostas eram feitas em sites como Bet365 e Betano. A ação foi realizada em estados como São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, entre outros.

O crime: O caso também se enquadra no delito previsto no artigo 41-D do Estatuto do Torcedor, que prevê 2 a 6 anos de prisão e multa por "Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva ou evento a ela associado".

Os aliciadores: Segundo o MP, o esquema era liderado por Bruno Lopez de Moura e tinha entre os membros da quadrilha Camila Silva da Motta, Ícaro Fernando Calixto dos Santos, Luis Felipe Rodrigues de Castro, Victor Yamasaki Fernandes e Zildo Peixoto Neto, que também faziam parte do núcleo de apostadores.

Os financiadores: Ainda segundo o MP, existia outro grupo, formado pelos financiadores do projeto, que tinha Thiago Chambó Andrade, Romário Hugo dos Santos, vulgo Romarinho, e William de Oliveira Souza, vulgo McLaren. O MP cita na denúncia que ainda podem existir outros a serem identificados. Eles asseguravam a existência das verbas para o pagamento dos atletas aliciados.

Além dos dois grupos já denunciados pelo MP-GO, existe um terceiro, formado por intermediários. Eles serão identificados em uma segunda investigação, que permanece em sigilo. Esses intermediários seriam os responsáveis por indicar os contatos e facilitar a aproximação entre apostadores e atletas.

Os valores prometidos aos jogadores variavam entre R$ 50 mil e R$ 500 mil. Em troca, eles garantiam a ocorrência de eventos dentro das partidas, como o recebimento de cartões amarelos ou vermelhos, ou até cometerem pênaltis contra seus próprios times. Caso os jogadores conseguissem realizar o objetivo, os apostadores multiplicavam o dinheiro colocado nas casas de apostas.

Durante o procedimento criminoso, a quadrilha utilizava contas de terceiros nos sites de apostas para aumentar seus lucros e ocultar quem eram os reais beneficiários.

Veja abaixo os jogos e jogadores investigados

Palmeiras x Juventude, 10 de setembro de 2022 - Moraes (Juventude) - o jogador levou o cartão amarelo"A vantagem consistiu na promessa de pagamento de 30 mil reais, dos quais 5 000 reais foram efetivamente entregues antes mesmo da realização do jogo para que o jogador do Juventude, Onitlasi Junior Moraes Rodrigues fosse punido com um cartão amarelo durante a partida.

Juventude x Fortaleza, 17 de setembro de 2022 - Gabriel Tota e Paulo Miranda (Juventude) - Paulo Miranda levou cartão amarelo"A vantagem consistiu na promessa de pagamento de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), dos quais R$ 5.000,00 (cinco mil reais) foram efetivamente entregues antes mesmo da realização do jogo, mediante pagamento na conta de Gabriel Tota, jogador do Juventude, para posterior repasse ao atleta Jonathan (Paulo Miranda), para que este, também jogador do Juventude, fosse punido com cartão amarelo na partida, o que foi efetivamente providenciado pelo jogador".

Goiás x Juventude, 5 de novembro de 2022 - Moraes (Juventude) - o jogador levou o cartão amarelo"A vantagem consistiu na promessa de pagamento de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), dos quais R$ 20.000,00 (vinte mil reais) foram efetivamente entregues antes mesmo da realização do jogo, para que o jogador do Juventude, Onitlasi Junior Moraes Rodrigues fosse punido com um cartão amarelo durante a partida".

Goiás x Juventude, 5 de novembro de 2022 - Gabriel Tota e Paulo Miranda (Juventude) - Paulo Miranda levou o cartão amarelo"A vantagem consistiu na promessa de pagamento de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), dos quais R$ 10.000,00 (dez mil reais) foram efetivamente entregues antes mesmo da realização do jogo, mediante pagamento providenciado por Romário Hugo dos Santos para a conta de Gabriel Tota, para posterior repasse a Jonathan (Paulo Miranda) para que este, também jogador do Juventude, fosse punido com cartão amarelo na partida, o que foi efetivamente providenciado pelo jogador".

Ceará x Cuiabá, 16 de outubro de 2022 - Igor Carius (Cuiabá) - o jogador levou amarelo e o vermelho"A vantagem consistiu na promessa de pagamento em montante total ainda não precisado, porém certo que R$ 5.000,00 (cinco mil reais) foram efetivamente entregues a Igor Aquino da Silva (Igor Carius) antes mesmo da realização do jogo, para que Igor, jogador do Cuiabá, fosse punido com cartão amarelo na partida, o que foi efetivamente providenciado pelo jogador".

Sport x Operário, 28 de outubro de 2022 - Fernando Neto (Operário) - o jogador não levou o cartão vermelho"A vantagem consistiu na promessa de pagamento de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), dos quais R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) foram efetivamente entregues a Fernando José da Cunha Neto antes mesmo da realização do jogo, para que Fernando, jogador do Operário, fosse punido com cartão vermelho".

Red Bull Bragantino x América (MG), 5 de novembro de 2022 - Kevin Lomonaco (Red Bull Bragantino) - o jogador levou o cartão amarelo"Pagamento de R$ 70.000,00 (setenta mil reais), dos quais R$ 30.000,00 (trinta mil reais) foram efetivamente entregues antes mesmo da realização do jogo, para que o atleta do Red Bull Bragantino, Kevin Joel Lomonaco fosse punido com um cartão amarelo".

Santos x Avaí, 5 de novembro de 2022 - Eduardo Bauermann (Santos) - o jogador não levou o cartão amarelo"Pagamento em montante ainda não precisado, porém certo que pelo menos R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) foram efetivamente entregues a Eduardo Bauermann antes mesmo da realização do jogo, para que Eduardo, jogador do Santos, fosse punido com cartão amarelo na partida (o que não ocorreu).

Botafogo x Santos, 10 de novembro de 2022 - Eduardo Bauermann (Santos) - o jogador levou o cartão vermelho"Bauermann, apesar de ter aceitado valores na rodada anterior, não "cumpriu" sua parte no acordo ao não ser punido com cartão amarelo. Por isso, na rodada imediatamente seguinte e ainda com a posse da quantia recebida, novamente aceitou a promessa de valores indevidos para, agora, ser expulso na partida".

Palmeiras x Cuiabá, 6 de novembro de 2022 - Igor Carius (Cuiabá) - o jogador não levou o cartão amarelo"Pagamento de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) para que Igor Aquino da Silva (Igor Cárius), jogador do Cuiabá, fosse punido com cartão amarelo na partida".

Guarani x Portuguesa, 8 de fevereiro de 2023 - Victor Ramos (Portuguesa) - o jogador não cometeu o pênalti "Promessa de pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para que Victor Ramos Ferreira, jogador da Portuguesa, cometesse uma penalidade máxima. Posteriormente, em razão de Bruno, Ícaro e Zildo (três dos denunciados) aparentemente não terem encontrado outros jogadores para manipulação de resultado na mesma rodada, os denunciados não efetuaram pagamento antecipado ao atleta e posteriormente não fizeram a aposta na partida).

Red Bull Bragantino x Portuguesa, 21 de janeiro - Kevin Lomonaco (Red Bull Bragantino) - o jogador não cometeu o pênaltiPromessa de pagamento de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) para que o atleta Kevin Joel Lomonaco, do Red Bull Bragantino, cometesse uma penalidade máxima no primeiro tempo. O jogador não aceitou a proposta".

Bento Gonçalves x Novo Hamburgo, 11 de fevereiro de 2023 - Nikolas (Novo Hamburgo) - o jogador cometeu o pênaltiPromessa de pagamento de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), dos quais R$ 5.000,00 (cinco mil reais) foram efetivamente entregues antes mesmo da realização do jogo, para que o atleta do Novo Hamburgo Nikolas Santos de Faria cometesse uma penalidade máxima durante a partida".

Caxias x São Luiz, 12 de fevereiro de 2023 - Jarro Pedroso (São Luiz) - o jogador cometeu o pênalti"Pagamento de R$ 70.000,00 (setenta mil reais), dos quais R$ 30.000,00 (trinta mil reais) foram efetivamente entregues antes mesmo da realização do jogo, para que o atleta do São Luiz Emilton Pedroso Gonçalves Domingues (Jarro) cometesse uma penalidade máxima no primeiro tempo da partida".

O QUE VEM POR AÍ

Nada indica que o MPGO vá parar de investigar o caso, sobretudo pela quantidade de provas colhidas ao longo das buscas e apreensões.

Enquanto isso, o processo contra os denunciados corre na Justiça de Goiás. Três operadores do esquema de apostas tiveram prisão preventiva prorrogada, inclusive Bruno Lopez, tratado como líder da organização criminosa.

O ministro Flávio Dino determinou abertura de inquérito para que a Polícia Federal também investigue as denúncias de manipulação.

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