Apontado como líder da quadrilha que fraudava apostas no futebol brasileiro, Bruno Lopez teria envolvido seus pais e sogros no esquema e pediu à mãe "reza forte" para o golpe dar certo, mostram conversas de telefone interceptadas pelo Ministério Público de Goiás e obtidas pela Folha.
Nas comunicações, Bruno e sua companheira, Camila Silva da Mota, citam apostas feitas com os nomes dos pais do casal e reclamam que os sites estariam restringindo algumas contas. "Estou terminando de fazer as entradas [...] seu pai já foi, sua mãe já foi", diz ele a Camila no fim da tarde de 11 de fevereiro deste ano -sábado com rodada de campeonatos estaduais. "Todo mundo já foi, só da sua mãe que está limitado [pela plataforma]", completa.
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Mais tarde, no mesmo dia, Bruno liga para uma mulher não identificada pelo Ministério Público, mas a quem chama de mãe. "Só para te avisar que a operação foi feita, [queria pedir para] você botar em prática as suas rezas fortes, que vai dar tudo certo", diz. "Amém, já deu", responde a mulher.
Procurado por telefone e mensagem, o advogado de Bruno não respondeu aos questionamentos até a publicação desta reportagem.
O grupo utilizava robôs para maximizar a operação e o CPF de terceiros para tentar driblar o monitoramento dos sites de aposta e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que identifica quando muitos lances são feitos por um mesmo login.
Em alguns casos, são impostas restrições às contas, caso contrário, os resultados de determinada partida podem ser anulados.
Segundo o MP, Bruno liderava a quadrilha que aliciava jogadores para manipular resultados de futebol e lucrar com um esquema de apostas esportivas fraudadas.
15 ATLETAS DENUNCIADOS
Até aqui, o Ministério Público de Goiás denunciou à Justiça 15 atletas, que viraram réus, além dos operadores e financiadores do esquema. Agora, a investigação busca identificar novos nomes envolvidos e também entender como o dinheiro do lucro era lavado.
A operação Penalidade Máxima teve início em novembro de 2022, após o Ministério Público ser procurado pelo presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, que queria denunciar um dos casos.
A primeira fase foi deflagrada em fevereiro, e a segunda, em abril. Foi constatado que o grupo atuou em partidas de estaduais de 2023 e no Campeonato Brasileiro de 2022, inclusive na primeira divisão. Até agora, não há evidências que indiquem que a elite do nacional deste ano tenha sido alvo.
Segundo o Ministério Público, o grupo atuava em núcleos. Bruno, além de liderar toda a operação, comandava o principal deles, chamado de apostadores, do qual também Camila faz parte.
PRINCIPAIS NÚCLEOS DO ESQUEMA
Os apostadores: chefiados por Bruno Lopez de Moura, eram cinco pessoas que faziam as apostas -seguindo o que foi combinado com jogadores- e coletavam os ganhos.
Os investidores: liderados por Thiago Chambó Andrade, eram três integrantes que bancavam o esquema.
Os intermediadores: eram responsáveis por encontrar e cooptar os jogadores.
Fonte: MP-GO
APOSTAS EM NOME DOS PAIS E SOGROS
Nas conversas interceptadas, Bruno cita apostas feitas em nome de outras pessoas, que ainda não tiveram seu papel identificado pela investigação. Ele também revela que o grupo estava com dificuldades para usar algumas das contas, inclusive a da mãe de sua parceira.
"Todo mundo já foi, só da sua mãe que tá limitado", diz ele para Camila. "O resto, já entramos [com] tudo, já, graças a Deus. E está entrando mais ainda", completa.
Mais tarde, na ligação com sua mãe, ele volta a tocar no assunto. Bruno diz que, na conta de mais uma pessoa conhecida deles, além de sua sogra, o valor que "entrou" foi restrito pelo site de aposta a R$ 5 na primeira e R$ 113 na segunda.
"Não sei por que, mas, enfim, já têm uns jogos acontecendo agora, começou agora, e outros amanhã", completa, antes de pedir mais rezas à mãe para que o esquema dê certo. Ela responde que "se Deus quiser [...] já deu tudo certo", e os dois se despedem.
Além dos pais, o casal também envolveu outros familiares no esquema, como Zildo Peixoto Neto, primo de Camila.
Em depoimento ao Ministério Público revelado pelo jornal O Globo e ao qual a Folha teve acesso, Zildo conta que foi abordado por Bruno, que teria dito que, se fosse autorizado a abrir uma conta no nome dele, "pagaria uma porcentagem sobre o que rendesse" --no caso, 10%.
Nos autos do processo, mais de 50 jogadores foram citados. Dos 15 denunciados, quatro admitiram culpa e fizeram acordo de não persecução penal com o Ministério Público.
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