A paixão de Chico Buarque pelo futebol transcende a mera admiração por um esporte; é um amor que permeia sua vida e carreira, tornando qualquer partida, seja em um campo de várzea ou uma disputa amistosa, um verdadeiro evento. Para Chico, o futebol é mais que uma atividade recreativa, é uma extensão de sua arte e personalidade, refletindo sua competitividade, camaradagem e devoção. Este entusiasmo vibrante e contagiante transforma cada jogo em uma celebração única, marcada por histórias inesquecíveis e momentos de pura emoção.
Um desses episódios ocorreu em março de 1972, quando ele e o humorista Chico Anysio se encontraram para um memorável jogo de botão. Buarque representou seu time, o Politheama, enquanto Anysio defendeu o Vasco da Gama, seu clube do coração. Durante a partida, a cada gol marcado, Chico Buarque não conteve a empolgação e começou a cantar o hino de seu time, uma composição própria. Até Vinicius de Moraes, o juiz do jogo, acabou assobiando a melodia, o que irritou Chico Anysio, gerando risos e histórias que perduram até hoje.
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Anos depois, em 1978, Chico Buarque transformou o Politheama em um time de futebol de verdade ao construir o Centro Recreativo Vinicius de Moraes no Rio de Janeiro. Atualmente, o local é palco de partidas animadas três vezes por semana, onde personalidades como o cantor Hyldon reforçam a fama invicta do time.
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POLITHEAMA REÚNE CRAQUES E PERNAS DE PAU DA MPB
O campo do Politheama já recebeu inúmeras figuras ilustres ao longo de suas décadas de história. Desde jogadores amadores a profissionais renomados, as partidas ali disputadas são recheadas de histórias pitorescas e emocionantes. Uma das mais memoráveis foi contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que terminou em um disputado empate de 7 a 7.
Francis Hime, parceiro musical de Chico, relembra com humor seu papel de "perna de pau" no time reserva, mas se orgulha de um drible memorável sobre Magro, do MPB4. "Só não fiz o gol porque chutei por cima do travessão", revela o coautor de Atrás da Porta (1972), Meu Caro Amigo (1976) e Vai Passar (1984).
VISITAS DE PELÉ E BOB MARLEY
Entre os visitantes de maior destaque estão o lendário Pelé e o centroavante Paulo César Araújo, o Pagão. Pelé e Chico Buarque, inclusive, trocaram autógrafos e se divertiram em um dueto inesperado. Os dois cantaram juntos os versos de "Preconceito" (1941), samba de Wilson Batista e Marino Pinto.
Durante a conversa, Pelé perguntou brincando: "Você fez quantos gols aqui, Chico?". Com um sorriso maroto, Chico respondeu: "Perdi as contas. Até mil, eu contei…". Os dois caíram na gargalhada, compartilhando a alegria do momento.
A visita de Bob Marley em 1980 é outro capítulo especial. Convidado pelo jogador Paulo Cézar Caju, Marley marcou um dos gols em um jogo que terminou 3 a 0 para seu time. A presença dessas personalidades elevou ainda mais o status do Politheama, transformando-o em um símbolo da união entre música e futebol.
RIVALIDADE COM TOQUINHO
O maior adversário que o Politheama já enfrentou foi o Namorados da Noite, fundado pelo também músico Toquinho. Este confronto é considerado o clássico "Fla-Flu" da MPB. As duas equipes se enfrentaram em uma partida preliminar no Pacaembu, em 1983, com o Namorados da Noite saindo vitorioso com um placar de 5 a 1.
Toquinho não perdeu a oportunidade de se gabar da superioridade de seu time. Em seu livro *Acorde Solto no Ar* (Imprensa Oficial, 2011), ele escreveu: "O time do Chico vem correndo atrás, tentando ser melhor que os Namorados da Noite, e jamais conseguindo, nem no campo, muito menos no uniforme, e menos ainda no hino, diante da joia musical que compus para louvar meu invencível time".
Chico Buarque, por sua vez, respondeu com humor e provocação quando questionado por um jornalista da revista francesa "Brazuca" sobre quem era o melhor jogador: "É o tipo de pergunta que minha modéstia não me permite responder. Ele já não joga há algum tempo, já não jogava grande coisa. A última vez que eu ia encontrar com ele para jogar, não apareceu. Acho que já pendurou as chuteiras".
DE TORCEDOR A CRONISTA: O FUTEBOL NA VIDA DE CHICO
Chico Buarque sempre foi apaixonado por futebol, um amor herdado da mãe, torcedora fervorosa do Fluminense. Apesar de nunca ter sido um profissional no esporte, Chico manteve sua paixão viva jogando em várias ocasiões, até mesmo durante seu exílio em Roma, onde teve a chance de jogar ao lado de Garrincha.
Além de jogar, Chico também se aventurou no mundo das crônicas esportivas e na composição de músicas sobre futebol. Sua mais famosa, "O Futebol", reflete bem essa paixão. No entanto, ele evita teorizar sobre o esporte, preferindo viver cada momento no campo como se fosse único.
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