Êxito tunante ajuda dupla Re-Pa 

A surpreendente arrancada da Tuna no Parazão, cantada em prosa e verso desde que eliminou o Remo nas semifinais, é indiscutivelmente um grande acontecimento para a vida do tradicional clube luso-paraense, que, em 118 anos de história, raras vezes empolgou tanto com um futebol ágil, intenso, moderno e bem jogado. Ocorre que não é apenas a Lusa a beneficiária deste êxito. A dupla Re-Pa tem muito a ganhar com tudo isso. 

Por incrível que pareça, o excelente trabalho de Robson Melo à frente da Tuna está contribuindo para que remistas e bicolores repensem seus planejamentos para o Campeonato Brasileiro que se aproxima. 

O PSC foi o primeiro impactado diretamente pela vertiginosa campanha cruzmaltina. Depois da goleada de domingo, ainda atordoada pelo baile aplicado pela Tuna, a diretoria alviceleste tratou de tomar uma atitude que vinha adiando há semanas. Demitiu o técnico Itamar Schulle, a fim de diminuir os danos na preparação para a Série C. 

Ainda não se sabe quem será o novo técnico do Papão. As especulações incluem Márcio Fernandes, Givanildo, Paulo Roberto e até Mazola. Mais importante mesmo a essa altura é a determinação em mudar de rumos, consciente de que o caminho até agora trilhado é um tremendo equívoco. 

Além de Schulle, uma barca de atletas trazidos por ele e pelo executivo Ítalo Rodrigues deve desatracar da Curuzu logo depois da final de domingo. Paulinho, Alisson, Robinho, Ratinho, Rui e até Bruno Collaço estão na mira. A lógica é simples: para contratar reforços, jogadores do elenco devem ser dispensados. 

Do outro lado da avenida Almirante Barroso, a outra vítima da intrépida Águia Guerreira se movimenta em silêncio, mas não ficou indiferente à necessidade de uma revisão de planos. Mesmo sem admitir, a diretoria mostra preocupação com o rendimento do time. 

A eliminação de um torneio que era considerado quase favas contadas ainda não foi assimilada. Ao participar de um debate na Rádio Clube, domingo à tarde, o presidente Fábio Bentes admitiu o abatimento com a frustrante e inesperada saída do Parazão. 

Dois novos reforços já foram anunciados ontem. Suéliton e Rafinha. Um zagueiro e mais um atacante de lado. Nos próximos dias, mais três jogadores serão anunciados, provavelmente mais dois defensores e outro atacante. Há uma clara insatisfação com o poder de decisão do time. 

O Remo talvez não se mexesse se continuasse na disputa. A necessidade de mudanças ficou exposta com a pífia participação na semifinal. Perder a vaga de finalista para um time de baixo investimento e sem contratação de vulto ligou todos os alertas no Evandro Almeida. 

E que ninguém se iluda. Toda essa movimentação no Baenão e na Curuzu vem em consequência direta do efeito que a Tuna causou também sobre as duas maiores torcidas do Estado, angustiadas por ver que seus times estão – a duas semanas do Brasileiro – em nível muito abaixo do esperado. 

Olimpíada: teimosia embalada pela ambição 

Nunca entendi como o Japão marchou, irredutivelmente, em defesa da realização dos Jogos Olímpicos neste ano, mesmo com a pandemia do novo coronavírus ainda assolando o planeta. Definitivamente, é uma decisão que não combina com a mítica sabedoria da sociedade nipônica. 

É óbvio que manter os Jogos constitui uma teimosia sem tamanho, beirando a irresponsabilidade. Um ato de desumanidade que tem na ganância financeira a única justificativa. Os gordos contratos de televisionamento e patrocínio falam mais alto que os protocolos sanitários. 

Ontem, porém, uma pesquisa revelou que 83% da população se manifesta contra a realização da Olimpíada. O motivo é simples: na sexta-feira, o estado de emergência no Japão foi ampliado. Uma quarta onda de contágios do novo coronavírus ameaça o país. 

O crescimento do número de casos pressiona o sistema de saúde, e as autoridades do setor alertam para a falta de recursos e a exaustão dos funcionários. A pesquisa foi feita pelo jornal “Asahi Shimbun” e mostra que 43% dos entrevistados desejam o cancelamento dos Jogos e 40% defendem novo adiamento. 

Segundo uma outra pesquisa, da agência Kyodo, publicada no domingo, 59,7% dos entrevistados são favoráveis ao cancelamento. O medo da população decorre do risco de que a presença de delegações de vários países amplie a propagação do vírus. Só as autoridades parecem indiferentes a esse medo. 

Gol de Alisson ajuda a explicar o fascínio pelo futebol 

Quando o goleiro Alisson se apresentou na área do West Bromwich para tentar o cabeceio no minuto final da partida, domingo, pela Premier League, a cena parecia uma repetição daquele desespero próprio dos goleiros quando o jogo já está perdido. 

Pois não é que desta vez deu certo? Os deuses do futebol – só isso explica a feliz coincidência – fizeram com que a bola colocada na área escolhesse justamente a cabeça afortunada do brasileiro, que saltou para o cabeceio entre dois zagueiros adversários. 

A testada saiu firme, como se tivesse sido dada por Baltazar ou Pelé. A bola foi desviada em direção ao canto esquerdo da trave, sem chances para o goleiro do West Bromwich. Um lance típico de centroavante, executado por um goleiro. 

Além de raro, o lance reuniu toda a emoção de ter ocorrido no último suspiro, quando não havia mais qualquer esperança para o Liverpool. A vibração que se apoderou do técnico Jürgen Klopp e dos demais jogadores, abraçados ao goleiro por minutos, atesta a grandeza do momento. 

O futebol parece escolher essas ocasiões para explicar porque é tão amado e fascinante.

MAIS ACESSADAS