Um lance infeliz, típica situação de acidente de trabalho, está gerando um turbilhão de problemas e aborrecimentos para o jogador Rafael Jansen e sua família. A bola involuntariamente encaminhada em direção às redes no jogo contra o Brusque, na quarta-feira à noite, foi com certeza o pior momento já vivido em campo pelo experiente zagueiro.
O gol deu vantagem parcial ao time do Brusque, mas depois foi superado pelos dois gols marcados já nos instantes finais da partida. A celebração dos jogadores em torno de Jansen mostrou claramente que todos ali estavam empenhados em obter um bom resultado para o time e que servisse como salvaguarda ao companheiro.
Apesar do êxito na obtenção do resultado que interessava ao Remo, cujo jejum de vitórias já durava sete jogos (a última ocorreu contra o Brasil de Pelotas, ainda na segunda rodada da Série B), o triunfo não foi suficiente para aplacar a ira dos anormais.
O CASO
De forma perversa e covarde, um perfil fake na internet proferiu ameaças diretas à integridade de Jansen e de sua filha. Em uma mensagem, o internauta ou grupo de torcedores dirige-se à esposa do atleta, dizendo para que a família deixe Belém “antes que seja tarde demais”.
Após a partida da última quarta-feira, o zagueiro Rafael Jansen sofreu duras ameaças contra sua família, através de um perfil fake de criminosos que se dizem torcedores. (+) pic.twitter.com/SJpGxMNOhu
— Clube do Remo (de 😷) (@ClubeDoRemo) July 15, 2021
Em outro trecho da mensagem dirigida à rede social do zagueiro, o perfil recomenda que Jansen deixe o clube, voltando a ameaçar sua filha.
Absurda sob todos os pontos de vista, a manifestação criminosa não é infelizmente a primeira envolvendo jogadores do futebol paraense nos últimos meses. O primeiro a sofrer na pele a virulência dos falsos torcedores foi o atacante Edson Cariús. Temeroso de vir a ser atacado, ele pediu liberação e foi atendido.
MEDIDAS A SEREM TOMADAS PELO CLUBE DO REMO
Através de nota oficial, o Remo afirmou saber que o perfil não representa a maioria dos seus torcedores e garantiu que irá tomar providências através do departamento jurídico e junto às autoridades policiais. Atitude firme já deveria ter sido adotada por ocasião do episódio Cariús.
É inaceitável que o clube conviva com essa modalidade de terrorismo chantagista, cuja intenção óbvia é desestabilizar o grupo de jogadores e prejudicar a própria campanha remista no Campeonato Brasileiro, o que coloca em dúvida a própria origem dos ataques na internet.
Acertam os dirigentes ao avaliar que a atitude hostil não representa a opinião da imensa torcida azulina. Apesar disso, é necessário que o clube adote iniciativas concretas para descobrir a identidade dos criminosos virtuais, facilmente rastreáveis nos dias de hoje.
É o único meio de assegurar segurança aos jogadores e demais funcionários do clube. Ninguém consegue trabalhar normalmente num ambiente de insegurança e medo. Os exemplos de selvageria de determinadas facções de torcedores estão aí mesmo a confirmar que não pode haver contemplação com atos de banditismo.
A tolerância excessiva em relação a manifestações de grupos ditos “organizados” é uma espécie de aceno aos baderneiros. Há tempos que o futebol paraense é abalado pela existência de duas facções conhecidas pela conduta marginal e violenta, com históricos até de agressão a jogadores nos anos 80.
ATAQUES DA "TORCIDA"
Nas últimas semanas, impossibilitados de invadirem locais de treinos, os mesmos grupos têm optado pela tática de emboscada no aeroporto de Val-de-Cans, hostilizando as delegações de PSC e Remo antes de embarque ou depois do desembarque.
O caso mais explícito vitimou jogadores do PSC, que foram empurrados e até chutados quando passavam pelo salão de embarque do aeroporto. Nicolas, alvo da ira desse ataque, teria tomado a decisão de deixar Belém a partir da ação agressiva e turbulenta em Val-de-Cans.
O QUE AINDA SE PODE FAZER?
Ao Remo cabe ainda se posicionar juridicamente depois de descobrir a identidade dos responsáveis pelas ameaças a Jansen, atleta dos mais sérios e dedicados que o clube tem. Há mais de dois anos defendendo a camisa azulina, sempre foi exemplo e referência de profissionalismo.
É tempo de expurgar esse tipo de falso torcedor da vida dos clubes. Não contribuem em nada, só causam problemas e na maioria dos casos nada têm a ver com o futebol em si. Estão obviamente em busca de visibilidade e exposição midiática.
Acabam por se equiparar, em intenção pelo menos, ao sangrento episódio que vitimou o zagueiro colombiano Andrés Escobar, morto a tiros depois de ter feito um gol contra na derrota por 2 a 1 para os Estados Unidos, na Copa de 1994. Que jamais se permita que isso ocorra por aqui. Prevenir é sempre o melhor caminho.
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