O Clube do Remo vem sofrendo bastante por conta de desfalques na Série B do Brasileiro, a maioria deles por conta de lesões. O Núcleo Azulino de Saúde e Performance (NASP) vive lotado. Se um jogador se recupera, outro já se lesiona e assim o fluxo nunca para dentro do departamento médico remista, fazendo com que o técnico Felipe Conceição tenha dores de cabeça a cada rodada.
O treinador azulino, por sinal, conseguiu repetir a mesma escalação de um jogo anterior para o outro uma única vez, desde quando assumiu o comando técnico da equipe. Na ocasião, ele manteve a equipe que venceu a Ponte Preta na partida que triunfou sobre o Cruzeiro, na 12ª e 13ª rodada da competição nacional. Ao todo, dos 36 jogadores do atual elenco, 20 já passaram pelo DM, sendo a maioria titular.
Buscando entender o que acontece na Toca do Leão, conversei com o ortopedista, traumatologista e chefe do Departamento Médico do Clube de Periçá, dr. Jean Klay. Ele nos explicou como funciona os trabalhos realizados pela equipe do NASP, os estudos que são feitos em cada um dos jogadores, o planejamento para que os atletas atuem em alto nível, além do que vem sendo prejudicial na questão das lesões.
Também nos foi revelado que o Filho da Glória e do Triunfo criará um novo Núcleo Azulino de Saúde e Performance, desta vez no CT do clube, localizado no distrito de outeiro, na Região Metropolitana de Belém. No entanto, ele será voltado para exercícios funcionais, a fim de melhorar o funcionamento do corpo dos atletas com exercícios eficientes que, integrados com a musculação tradicional, proporcionam benefícios ímpares como o ganho de força, potência, aumento da massa muscular, aumento de resistência, entre outros benefícios.
Confira os pontos da entrevista exclusiva:
NASP Cheio:
“Os motivos pelos quais os atletas tem uma lesão muscular são extremamente variados. Temos um número enorme de fatores que influenciam isso, desde a higiene bucal até as questões de condicionamento físico, tipos de gramados, de viagens, estratégias de recovery e coisas dessa natureza. Então, temos vários fatores que consideramos como determinantes para o aumento do número de lesões. Um deles, sem dúvida, é a questão da logística, que no início foi complexa e depois a gente, através do nosso executivo e supervisores, conseguimos melhorar as viagens. Apesar dos voos escassos, temos optado por viagens mais longas, onde os atletas, muitas vezes, entre a saída de Belém e o destino final, param em uma cidade para dormir, descansar na madrugada e depois continuar a viagem. Isso ajudou bastante nas últimas rodadas e se traduziu em termos de resultado. O nosso aproveitamento fora de Belém aumentou muito quando fizemos, por exemplo, esse pequeno ajuste, dentre outros que tem relação com as lesões musculares”, explicou.
Dosagem do Treinamento e o Alto Desempenho:
“Esse chamado ponto de equilíbrio é a meta de todos nós que trabalhamos com esporte de alto rendimento, onde precisamos tirar o máximo desse atleta e ainda sim precisamos minimizar os riscos de lesões. Que é o esperado para esses jogadores. Então, esse ponto de equilíbrio é difícil. Ele é multifatorial e nós, no NASP, estamos atento para minimizar ao máximo a ocorrência desse tipo de situação. Isso não é fácil. Como falei, existem variáveis relacionadas ao próprio atleta. Boa parte dos jogadores que estão em nosso elenco vieram da Série C, que é um campeonato bem diferente, onde normalmente é um jogo por semana. E ai entramos em uma Série B que temos que, muitas vezes, fazer três jogos em uma semana. Isso, sem dúvida, é um dos fatores que influencia nessa questão do índice de lesões”, declarou.
Tratamento e Novas Lesões:
“O método dentro do NASP segue uma série de protocolos. E esses procedimentos vão desde a entrada do atleta na zona de tratamento, com a realização de testes para podermos fechar o diagnóstico. Depois que isso é feito, iniciamos o tratamento com outra série de protocolos. Depois que esse atleta finaliza o tratamento com a fisioterapia, entra em uma fase que chamamos de transição 1, que é realizado na fisiologia com uma série de ferramentas, onde fazemos testes na entrada e saída de transição. Apesar de tudo isso, tivemos situações de jogadores que, ao voltar ao campo de jogo, tiveram uma relesão. Então, com uma nova ferramenta, estamos tentando justamente entender a forma mais adequada de minimizar essa situação, porque temos testes que avaliam a força, agilidade, mas temos dificuldades em testar a resistência da fibra muscular”, esclareceu.
“Vou dar um exemplo. O Romércio vinha bem. Fez todo o tratamento, passou por todas as etapas de protocolo, mas aos 28 minutos do segundo tempo teve uma relesão. É difícil para nós retificarmos a resistência dessa fibra muscular a um estresse extremo que você tem no segundo tempo depois de mais de 60, 70 minutos de jogo. No entanto, estamos trabalhando em cima disso, na literatura de quem tem buscado soluções para tentar, de alguma forma, quantificar se essa resistência já é adequada para que ele possa aguentar dois tempos de alta intensidade como é um jogo de Série B. Não é fácil. Isso é um trabalho enorme, que a gente tem feito dentro do NASP, mas estamos trabalhando para dar a segurança que os atletas necessitam”, exemplificou.
Zero Férias para o elenco:
“Sem dúvida, o fato dos atletas, em sua grande maioria, não terem tirado férias, fez com que a gente tenha acumulado um calendário de 2020 corrido, em função da pandemia, com a temporada de 2021 que também está sendo corrido por conta da mesma pandemia, tendo o agravante da gente ter entrado em um campeonato extremamente extenuante que é a Série B. Então isso, em nossa avaliação, é um dos fatores para que o índice de lesões musculares seja maior”, revelou.
Métodos Preventivos:
“A respeito dos métodos preventivos, temos um número enorme de medidas. Todos os atletas passam por uma avaliação minuciosa após cada jogo. São feitas dosagens de exames, com realizações de alguns testes, com termografia. A gente acompanha os atletas no pré e pós-treino. Acompanhamos os desempenhos a cada jogo. Além disso, existe um trabalho para que possamos fazer uma reidratação adequada. Em nosso setor de nutrição, é feito um protocolo específico para isso. Suplementação, quando o trabalho é de uma forma muito intensa. Então, as medidas são várias, mas, como falei, estamos lidando com um esporte de alto rendimento, onde a maioria dos atletas veio de uma Série C. Estamos lidando com situações onde temos uma logística pesada, com jogos de alta intensidade, fazendo com que o índice de lesão dos nossos atletas acabe sendo um pouco maior”, contou.
O trabalho do Núcléo Azulino de Saúde e Performance:
“O NASP veio para trazer uma grande ajuda aos nossos atletas. Melhorou bastante. Óbvio que não estamos satisfeitos ainda. Acreditamos que o NASP tem uma estrutura muito boa para a Série C, mas que ela precisa, sem dúvida nenhuma, melhorar para a Série B. Então, temos feito um trabalho desde o início do ano de expansão. Foi inaugurada uma sala de pilates. Já foi feito a troca do piso da área funcional. Foi realizado uma reforma de várias salas. Estamos reformando a sala de imprensa, que passará a ser um auditório. Vamos inaugurar um consultório odontológico. Falta muito do que programamos para essa expansão. Temos muitas etapas para cumprir, mas os recursos são escassos. Temos trabalhando da melhor forma possível, dentro do que é possível ser feito. Então, o NASP, sem dúvidas, ajudou a colocar o Clube do Remo em um patamar de Série B, mas entendemos que a estrutura precisa ser melhorada para que possamos dar a segurança e condição que esses atletas precisam para disputar um campeonato tão exaustivo e intenso, como é o caso da Série B”, expôs.
O NASP dentro do Centro de Treinamento do Leão Azul:
“Estamos com um projeto de criar um NASP dentro do CT. Ele será um pouco diferente do que temos dentro do Baenão. Será um NASP mais voltado para exercícios funcionais. Vamos trabalhar com poucos equipamentos. É previsto a construção de uma piscina para que a gente possa fazer hidroterapia com os nossos atletas em nosso CT. Deve ter uma dimensão maior do que o que temos hoje no Baenão, mas o conceito é diferente. Ou seja, no estádio vamos concentrar os principais serviços, com equipamentos mais caros e no CT vamos trabalhar o funcional, o condicionamento dos atletas e algumas coisas dentro da linha de recovery”, revelou.
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