Estrangeiros no Parazão dividem opiniões de especialistas

Neste início do Campeonato Paraense 2025, uma mudança no regulamento da competição tem gerado burburinho nos bastidores. A Federação Paraense de Futebol (FPF) aprovou o aumento no limite de jogadores estrangeiros relacionados por partida, que passou de cinco para nove. A medida, proposta pelo Paysandu, visa adequar as regras ao crescimento do número de atletas gringos no futebol local, especialmente na equipe bicolor, que atualmente conta com seis estrangeiros no elenco.

Embora alguns clubes tenham reagido à decisão e decidiram levar o caso à Justiça Desportiva, a presença de jogadores estrangeiros no Parazão é uma tendência crescente. Em 2023, a competição registrou seu maior número de atletas gringos, com oito inscritos, cifra já igualada na temporada atual. E esse número pode aumentar com o interesse declarado das diretorias de Clube do Remo e Paysandu em ampliar seus elencos internacionais.

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“O número de estrangeiros contratados no futebol paraense não é diferente do ano passado. O Paysandu chegou a ter seis atletas nascidos em outros países em seu elenco de 2024, e o Remo teve até o técnico Gustavo Morinigo, que é paraguaio”, recorda Zaire Filho, apresentador do programa Camisa 13, da RBATV.

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CENÁRIO ECONÔMICO FAVORÁVEL

A decisão de investir mais em estrangeiros está ligada a um contexto econômico favorável para o Brasil em comparação aos vizinhos sul-americanos. Segundo Zaire Filho, a conjuntura socioeconômica atual atrai jogadores em busca de estabilidade financeira e visibilidade no mercado brasileiro. Ele também ressalta os benefícios dessa mescla de culturas e estilos de jogo.

"Acredito que o momento é propício para isso, considerando as condições socioeconômicas que vive o continente sul-americano. Apesar do Brasil enfrentar certas instabilidades no momento, parece-me ser um cenário bem mais seguro para esses jogadores, que em grande número têm chegado ao futebol brasileiro", avalia o coordenador geral do Troféu Camisa 13. “Vejo com otimismo esse movimento. Acho que é importante essa mesclagem, essa troca de informações e que os dois lados do negócio acabam levando vantagem quanto a isso”, ressalta.

Além da força financeira, fatores como a vitrine do mercado brasileiro pesam nas escolhas dos atletas. Nesse sentido, vale destacar o caso do venezuelano Esli Garcia, que preferiu atuar pelo Paysandu na Série B a disputar a Libertadores pelo Deportivo Táchira, ilustra essa tendência.

MOTIVAÇÕES E HISTÓRICO INTERNACIONAL

O histórico de intercâmbio internacional no futebol paraense não é novo. Zaire lembrou o técnico uruguaio Juan Álvarez e o goleiro surinamês François Thijm, que marcaram época no estado. Contudo, a força financeira atual possibilita um cenário mais robusto para a contratação de estrangeiros.

"O futebol paraense, ainda que timidamente, há uns 30 ou 40 anos, teve também o técnico uruguaio Juan Álvarez, que trabalhou no Paysandu e foi até técnico do Castanhal. Tivemos também argentinos atuando no futebol do Clube do Remo. O futebol do Suriname também manteve um forte intercâmbio com o futebol paraenses, com alguns jogadores de lá atuando por aqui. O mais famoso deles foi o François Thijm, goleiro de grande destaque e depois se tornou preparador físico", destaca Zaire.

ELENCOS TURBINADOS E NOVOS NOMES À VISTA

Com a janela de transferências ainda aberta, os principais clubes paraenses seguem fortalecendo seus elencos internacionais. No Paysandu, permanecem seis jogadores estrangeiros: o zagueiro uruguaio Yeferson Quintana, o meia-atacante equatoriano Joseph Espinoza, os paraguaios Pedro Delvalle e Ramón Mantínez, além dos atacantes Matías Cavalleri (Chile) e Benjamín Borasi (Argentina).

No Clube do Remo, o zagueiro argentino Ivan Alvariño é atualmente o único gringo confirmado, mas o clube está perto de anunciar o lateral paraguaio Alan Rodríguez. A Tuna Luso também conta com um estrangeiro, o atacante Luca Giovanella, nascido na Espanha.

TENDÊNCIA INEVITÁVEL

Em entrevista ao DOL, Amir Somoggi, consultor de marketing e gestão esportiva, falou que o Brasil é atualmente o principal destino de jogadores sul-americanos devido à consolidação como a maior liga do continente.

"Realmente, o Brasil viveu, nos últimos anos, um boom de jogadores estrangeiros. Antes, era o maior poder econômico que atraía os jogadores sul-americanos. Hoje em dia, o Brasil está consolidado como a maior liga de futebol do continente, possuindo os clubes mais ricos, com mais dinheiro, que são os principais destinos para jogadores que não conseguem um bom clube na Europa. Com o advento das SAFs, essa tendência se intensificou."

DESAFIO PARA AS CATEGORIAS DE BASE

Apesar do entusiasmo com o aumento de atletas estrangeiros, Somoggi alerta para os possíveis impactos nas categorias de base, um argumento recorrente entre críticos desse movimento.

“É sempre bom ter esse intercâmbio, mas claro que há menos espaço para atletas da base”, afirma o especialista. Essa preocupação é ainda mais relevante em clubes que dependem da formação de jovens talentos como fonte de receita e renovação de elencos.

DUPLA RE-PA NA BERLINDA

Com a recente polêmica envolvendo a ampliação do teto de estrangeiros no Campeonato Paraense, os principais clubes do estado, Paysandu e Clube do Remo, têm adotado cautela ao se manifestar. O Remo, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que está analisando a situação. “Sobre o assunto estrangeiros no Parazão, o Clube do Remo informa que vem reunindo com partes interessadas, no dia 15 de janeiro, inclusive, houve um encontro entre membros do departamento jurídico e com o presidente da FPF. A situação continua sendo analisada.”

O Paysandu, por sua vez, não respondeu às tentativas de contato da reportagem até a publicação desta matéria. No entanto, o presidente Roger Aguilera deixou claro, antes mesmo de tomar posse da direção do clube, que é favorável aos investimentos no mercado sul-americano. De qualquer forma, a postura cuidadosa dos clubes reflete o cenário de debates internos sobre os impactos da medida e as estratégias de contratações para a temporada.

OPORTUNIDADE OU RISCO?

A decisão da FPF tem como pano de fundo o aumento da competitividade no futebol paraense, mas também evidencia os desafios de equilibrar contratações de impacto com o fortalecimento das bases. Enquanto o mercado internacional apresenta oportunidades promissoras, a sustentabilidade a longo prazo exigirá atenção às categorias de base e ao desenvolvimento local.

Com os clubes optando por discrição e o mercado de transferências em aberto, o debate sobre a presença de estrangeiros no futebol paraense ainda promete novos capítulos ao longo do Campeonato Paraense 2025.

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