Os protestos relacionados ao caos na Segurança Pública do Estado marcaram a abertura do expediente de ontem na Assembleia Legislativa do Pará. Simão Jatene (PSDB), em seu último discurso para a ocasião enquanto governador, foi vaiado ao comemorar, em meio a um cenário de 14 homicídios por dia desde 1º de janeiro, o aumento dos investimentos na área nos últimos cinco anos, “mesmo na crise”, em R$ 500 milhões anuais - mas, nas galerias, representantes de entidades que defendem policiais gritavam sobre o sucateamento da estrutura do sistema. Na tribuna, o deputado da oposição com carreira na Polícia Militar, Tércio Nogueira (PROS), se exaltou ao falar da defasagem dos armamentos usados pela corporação e teve o microfone cortado pelo presidente da casa, Márcio Miranda (DEM).
Enquanto isso, chegava a notícia de que um agente da Superintendência de Mobilidade Urbana (Semob) havia sido assassinado em serviço (leia mais no caderno Polícia). No fim do evento, Jatene ignorou a imprensa e não concedeu entrevista.
Em um longo discurso de 27 páginas, o governador fez um balanço de fim de mandato e não deu ouvido aos protestos de quem o assistia, indignado, quando falava sobre avanços e melhoras em um Estado que coleciona índices negativos. Se orgulhou de ter reduzido a dependência do Pará às receitas federais, que hoje representariam apenas 1/3 das receitas, mas responsabilizou “a crise” o resto do tempo pelo que não foi feito.
RESPONSABILIDADE
Jatene disse ainda que não é culpa do Estado o fato de Altamira ser o mais violento município do país, já que Cametá é o único do Norte/Nordeste/Centro-Oeste na lista dos 30 menos violentos, comparando os 100 homicídios registrados em um contra dez no outro e concluindo com “o quão complexo é o quadro que caracteriza esse aumento da violência”.
O governador disse que entre 2012 e 2017, elevou os investimentos de R$ 2,153 bilhões para R$ 2,674 bilhões em 2017, dos quais 65% foram destinados a pagamento de pessoal. Ano ano passado, aliás, foram quase 3,8 mil homicídios registrados, um triste recorde.
Enquanto Jatene falava, representantes da Associação de Esposas e Familiares de Praças do Pará (AEFPPA) gritavam para desmentir o chefe do Executivo.
Para Flávia Ferreira, presidente de Grupo de Esposas PMs de Abaetetuba, não existe qualquer atenção do Governo à PM. “Um dia desses, uma viatura capotou na cidade, de tão arrebentado o carro. A gasolina da lancha não dá conta de uma perseguição. Quando há fuga em massa nos presídios lá perto, fica todo mundo em pânico, porque policial está sempre marcado, mesmo sem farda."
Esposas de PMs pedem a saída do secretário de Segurança Pública (Foto: Ney Marcondes)
Aprovados em concurso da Polícia cobraram nomeação
Uma comissão representante dos aprovados excedentes do último concurso público da Polícia Militar, de 2016, também foi à Alepa em protesto. “A defasagem de policiais na rua hoje é de 15 mil. Outros Estados em condições piores conseguem aumentar o efetivo, como aqui não dá?”, questionou Regina Souza, uma das que espera nomeação. O governador falou por mais de uma hora e meia e a oposição, dividida em três bancadas, teve apenas dez minutos. Foi nesse momento que Tércio acabou cerceado por Miranda pouco depois de cinco minutos de fala. “Tivemos cinco PMs mortos esse ano, e quem fica está sem condições de trabalho. Como fica a condição dos armamentos, completamente defasados?”, desabafou.
Deputados criticam atual situação do Pará na maioria das suas áreas
Iran Lima, líder da bancada do MDB, em sua fala, disse que gostaria de comemorar com o governador, mas que não via motivos para isso. “Sua gestão colocou a Educação na lata do lixo, e Estado que não tem Educação, não tem futuro”, criticou.
Airton Faleiro (PT) destacou que não houve qualquer redução das desigualdades sociais, às quais Jatene costuma se referir em seu discurso. No fim da seção, o deputado Francisco Melo, o Chicão (MDB), afirmou que os investimentos citados pelo governador retratam um Pará que não existe. Ele apurou que, no ano passado, o Governo gastou mais de R$ 2 bilhões na área da segurança, segundo o demonstrativo da execução das despesas por função da Secretaria da Fazenda (Sefa), porém os resultados não aparecem. “É preciso mostrar para a sociedade do Pará o contraponto de uma gestão que muito promete, muito faz propaganda, mas pouco realiza em prol da nossa população”, disse.
Esposas de PMs pedem a saída do secretário de Segurança Pública ( Foto: Reprodução)
Teto da Assembleia desaba antes da sessão
Antes da sessão plenária iniciar, foi identificado que parte do forro do gabinete do deputado Miro Sanova, do PDT, no segundo andar do prédio da Alepa, desabou. Não houve feridos, e o parlamentar não esteve na casa para falar sobre o ocorrido, e nem a Alepa se posicionou. O DIÁRIO havia denunciado em sua edição de ontem os problemas estruturais no prédio da Alepa. E revelou os gastos de R$ 9 milhões em obras que nunca foram realizadas na gestão do atual presidente, Márcio Miranda.
A reportagem foi ao local para ver a situação, mas um assessor parlamentar impediu o registro. No gabinete do deputado Chicão, a situação não é diferente. No início deste ano, parte do forro da entrada da recepção desabou. Nada foi resolvido. “É inegável que o prédio precisa urgentemente de uma reforma, e não dos remendos que tem sido feitos”, contou. Desde o início da gestão de Miranda, duas empreiteiras ganham sucessivamente contratos para restauros do prédio que nunca acabam. Só Decol e Innova já embolsaram R$ 5.695.507 nos últimos dois anos da administração. Outras nove empresas dividiram o valor restante do orçamento liquidado: R$ 3.336.695.
(Carol Menezes/Diário do Pará)
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