"Ele chegou em casa muito bêbado, cheirando a álcool. Ele bateu no armário e caiu na cama." Esse trecho do depoimento de Joana Sanz, mulher de Daniel Alves, acusado de estupro na Espanha, deu o tom do segundo dia do julgamento do jogador que acontece em Barcelona.
Tanto Sanz quanto o amigo Bruno Brasil, que acompanhou Alves à boate Sutton na noite de 30 de dezembro de 2022, quando ele teria estuprado uma jovem no banheiro, fizeram declarações evidenciando que o brasileiro havia tomado muito álcool na ocasião. Outros dois amigos corroboraram a informação.
Na Espanha, o uso de substâncias pode configurar um atenuante e uma redução da pena pela metade. Foi aparentemente essa a estratégia adotada pela defesa nesta terça (6), quando aconteceram alguns testemunhos que podem ser vistos como positivos para o jogador.
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Na segunda-feira, os depoimentos das três jovens, umas delas a suposta vítima, foram essencialmente negativos ao brasileiro. Alves está preso na capital da Catalunha, desde 20 de janeiro do ano passado e encara nesta quarta o último dia de seu julgamento na Audiência de Barcelona, palácio de Justiça no centro da cidade. A sentença será dada alguns dias depois.
A modelo espanhola Joana Sanz, casada com Alves desde 2017, após dois anos de namoro, foi a última a testemunhar na terça, por volta das 18h (14h em Brasília). "No WhatsApp, perguntei se ele vinha jantar e ele disse que não". Ela acrescentou ter ficado brava porque queria sair também e Alves disse que era uma "noite de meninos". "Isso foi uma mentira", disse.
"Ele chegou em casa muito bêbado, cheirando a álcool. Ele bateu no armário e caiu na cama. Não valia a pena falar com ele quando ele chegou, era melhor deixar para o dia seguinte", completou, em depoimento ligeiro.
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Quarto a falar de uma lista de 22 testemunhas, Bruno Brasil também falou de álcool. "Estávamos com amigos antes, comendo e bebendo uísque... Ficamos até uma da manhã. Depois, fomos tomar uns drinques e, depois, decidimos ir para a Sutton. Pedimos uma garrafa magnum de espumante. Estávamos dançando e nos divertindo", disse ele, com a ajuda de uma intérprete.
Minutos depois, questionado pela defesa, voltou ao assunto. Disse que no restaurante pediram, além do uísque, pelo menos quatro garrafas de vinho. E que Alves deve ter bebido pelo menos uma garrafa e meia".
"Foi o Alves quem mais bebeu no restaurante?", perguntou a advogada de defesa, Inés Guardiola. "Sim", ele respondeu. Ao salientar o fato de estarem bebendo tanto, Bruno Brasil parece estar seguindo orientação da defesa.
Segundo um artigo do Código Penal espanhol, pode estar isento de responsabilidade criminal "quem, no momento da prática do crime, encontre-se em estado de completa embriaguez devido ao consumo de bebidas alcoólicas (...)". Outro afirma que, "quando houver apenas uma circunstância atenuante, aplicar-se-á a metade da pena prevista na lei para o crime".
Assim, a advogada busca reduzir pela metade a pena, caso Alves seja julgado culpado de estupro. A pena máxima para o crime na Espanha, sem agravantes, é de 12 anos, tempo pedido pela acusação. A defesa pede a absolvição.
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O amigo de Daniel Alves explicou ainda que a suposta vítima entrou no banheiro depois do jogador. "Fiquei com as outras meninas fazendo piadas", disse. "Da área VIP, dava para ver que era um banheiro. Quando saiu de lá, o Dani veio ao meu lado e continuou dançando. Lá estávamos eu e a prima, trocando contatos nas redes sociais." Então, elas teriam se despedido e ido embora.
Essa poderia ser vista como a quinta versão do jogador sobre aquela noite. Na primeira, o brasileiro havia afirmado que não conhecia a mulher. Depois, disse que entrou no banheiro com ela, mas nada aconteceu. Na terceira, afirmou à Justiça que houve apenas sexo oral. Na sequência, declarou que houve penetração, mas com consentimento.
Os outros dois amigos que estiveram no restaurante em 30 de dezembro de 2022 também foram ouvidos e responderam principalmente a perguntas da defesa referentes ao álcool consumido.
"Tomamos umas cinco garrafas de vinho, uma de uísque, alguns chopes. Depois pedimos quatro copos de gim tônica", falou o primeiro. "Umas quatro ou cinco garrafas de vinho e ainda pedimos uísque japonês", disse o segundo. "De lá, fomos para um bar e pedimos uma gim tônica para cada".
Antes, os primeiros a falar foram funcionários da Sutton, seguindo uma linha de testemunhas iniciada na segunda, quando três deles depuseram. O primeiro desta terça foi o diretor da boate. "Alves era um cliente habitual, estou ali há oito anos e ele vinha há muito mais tempo do que eu", disse.
Quanto à denunciante, disse que "ela estava bastante chateada e queria ir para casa. Tentamos convencê-la a ir para a sala ao lado e ela nos contou que havia sido vítima de agressão sexual. Quando Alves passou, ela disse que tinha sido ele. Explicou que entrou voluntariamente, mas depois quis sair", contou o diretor.
Outro funcionário da discoteca, responsável pela sala de apoio a vítima de agressão sexual, disse que "a garota estava muito mal, ela chorava muito. Perguntei se ela ia denunciar e ela me disse que ninguém ia acreditar nela." Já Alves "não estava como sempre". "Achei que ele havia bebido ou tomado alguma outra coisa, pois não estava agindo como sempre."
Um terceiro funcionário disse que havia tratado da "ferida no joelho dela". "Parecia uma queimadura, não era profundo."
Uma série de policiais também apresentou seus depoimentos após Bruno Brasil, explicando como foi o atendimento à vítima ou mesmo as ordens de prisão efetuadas contra o jogador. Nessa altura, a velocidade dos testemunhos é grande. Cada um entra por três ou cinco minutos, responde a perguntas específicas dos magistrados e sai.
Com um suéter claro em cima de uma camisa escura, o brasileiro acompanha os testemunhos de forma séria, com as mãos entrelaçadas, sentado em uma cadeira comum bem atrás da mesa onde os depoentes se sentam para falar. Alves entra e sai do local com algemas, colocadas com suas mãos para a frente. Elas são retiradas quando ele senta para acompanhar o julgamento.
A imprensa tem acompanhado as sessões em três salas da Audiência de Barcelona, nas quais se podia assistir ao julgamento por meio de um circuito fechado de televisão. Credenciaram-se 270 jornalistas.
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