O Paysandu está terminando o ano 2025 num cenário de instabilidade que reúne dificuldades esportivas, tensões políticas internas e desafios financeiros que vêm sendo retratados em reportagens recentes do DOL.
Com desempenho esportivo abaixo do esperado, conflitos políticos, cobranças por transparência e pressão financeira, o Lobo vive um quadro de crise multifacetada, que tem colocado o clube no centro de debates sobre gestão, sustentabilidade econômica e os rumos institucionais.
Conteúdo Relacionado:
- Um clube refém de más decisões: o Paysandu de hoje
- Paysandu expõe balanços financeiros negativos e divergentes
- Justiça determina suspensão de reunião do Condel do Paysandu
- Paysandu derruba liminar e Condel aprova contas de 2024
- Vilela pede rescisão e cobra mais de R$ 4 milhões do Paysandu
- Na Série C, camisa do Paysandu tem custo de Série A
O mais novo capítulo envolve a denúncia de gestão temerária feita por conselheiros do clube junto ao Ministério Público do Pará (MPPA), com o protocolo da defesa junto ao órgão nesta quarta-feira, 17.
A defesa administrativa apresentada pelo Paysandu Sport Club ao órgão investigativo, no âmbito da Notícia de Fato nº 01.2025.00031986-3, deixou sem resposta direta parte significativa das inconsistências contábeis narradas na representação que deu origem ao procedimento.
O clube foi notificado pela 2ª Promotoria de Justiça de Tutelas das Fundações Privadas e Associações de Interesse Social para prestar esclarecimentos sobre possíveis irregularidades financeiras e contábeis envolvendo os exercícios de 2021 a 2024.
A denúncia foi apresentada pelo conselheiro Frederico José Silva de Carvalho e acompanhada de documentos, pareceres técnicos e relatórios contábeis.
Divergências patrimoniais não explicadas
Entre os principais pontos levantados na denúncia está a variação expressiva nos valores do imobilizado do clube entre novembro e dezembro de 2022. De acordo com relatório técnico anexado à representação, o saldo do imobilizado em 30 de novembro daquele ano era de R$ 77,2 milhões, enquanto o balanço de encerramento do exercício, em 31 de dezembro, passou a registrar R$ 96,2 milhões, um aumento de aproximadamente R$ 19 milhões em apenas 30 dias.
Na defesa encaminhada ao MPPA, o Paysandu não apresenta memorial contábil, nota explicativa ou laudo técnico que justifique essa variação. O documento limita-se a afirmar que as contas foram analisadas e aprovadas pelos órgãos internos do clube.
Outra inconsistência destacada na denúncia diz respeito à supressão da conta de compensação, que somava R$ 50,8 milhões no balancete de novembro de 2022 e deixou de constar no balanço anual. A defesa não esclarece se houve reclassificação, baixa contábil ou ajuste técnico que explique o desaparecimento da rubrica.
Também não há, na manifestação do clube, explicação para a redução do ativo total no mesmo período, que caiu de R$ 149,4 milhões para R$ 116,4 milhões, uma variação negativa de cerca de R$ 33 milhões.
Aprovação interna das contas
A defesa sustenta que as contas dos exercícios de 2021 a 2023 foram aprovadas regularmente e que as contas de 2024 foram aprovadas em Assembleia Geral Ordinária realizada em 15 de dezembro de 2025. Com isso, o clube argumenta que haveria perda do objeto da Notícia de Fato.
Entretanto, a ata da reunião do Conselho Deliberativo que aprovou as contas de 2024 registra que o parecer do Conselho Fiscal recomendou a aprovação com ressalvas.
O documento também aponta manifestações de conselheiros que solicitaram vista ao livro razão, relataram dificuldades de acesso a documentos contábeis e destacaram a ausência de notas explicativas sobre inconsistências identificadas pela auditoria independente.
Apesar dessas manifestações, as contas foram aprovadas pela maioria dos conselheiros presentes.
Relatório técnico ignorado
A representação ao MPPA é acompanhada de relatório técnico elaborado pelo contador Marivaldo Silva, datado de 29 de setembro de 2025. O documento aponta divergências entre os valores divulgados no Portal da Transparência do clube e aqueles apresentados em relatórios de auditoria independente, além de recomendar a requisição de extratos bancários, contratos de mútuo, registros patrimoniais e relatórios de controle interno.
Na defesa administrativa, o Paysandu não rebate tecnicamente o conteúdo do relatório nem apresenta documentação adicional que confronte as conclusões do contador. O documento não menciona o laudo nem apresenta esclarecimentos específicos sobre os pontos levantados.
Conflito de interesses
A denúncia também questiona a atuação do Conselho Fiscal, apontando atraso na emissão de pareceres e possível conflito de interesses envolvendo dirigentes que teriam participado de gestões anteriores e, posteriormente, atuado na fiscalização das próprias contas.
A defesa do clube não enfrenta diretamente essas alegações. Limita-se a afirmar que os órgãos estatutários funcionaram regularmente e que as contas foram aprovadas conforme previsto no Estatuto Social.
Competência do MP e pedido de arquivamento
Outro eixo central da defesa é o questionamento da atuação do MPPA. O Paysandu sustenta que os fatos narrados dizem respeito a assuntos internos da associação e que não haveria violação a direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos que justificasse a intervenção ministerial.
A defesa também afirma que os valores recebidos em contratos de patrocínio com o Banco do Estado do Pará (Banpará) não possuem natureza pública, por se tratar de instituição financeira de direito privado, afastando, segundo o clube, qualquer obrigação típica de prestação de contas de recursos públicos.
Ao final da manifestação, o Paysandu requer o arquivamento da Notícia de Fato, argumentando ausência de gestão temerária, perda do objeto em razão da aprovação das contas de 2024 e inadequação da via eleita pelo denunciante.
Até o momento, o MPPA não se manifestou publicamente sobre o acolhimento ou não das explicações apresentadas. O procedimento segue em análise, podendo resultar no arquivamento, na requisição de novos documentos ou no aprofundamento das apurações, conforme entendimento da Promotoria.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

Comentar