A escalada de disputas trabalhistas no futebol brasileiro tem exposto fragilidades históricas na gestão de clubes tradicionais. No caso do Paysandu Sport Club, esse cenário ganha contornos mais claros a partir de um recorte específico: as ações ajuizadas ao longo de 2025 na Justiça do Trabalho da 8ª Região (TRT-8). Um levantamento realizado pelo DOL, a partir de consultas individualizadas, aponta que o clube alviceleste é réu em 16 ações trabalhistas ajuizadas exclusivamente neste ano, cujos valores das causas totalizam R$ 17.714.142,82.
O recorte considera somente processos que tramitam no TRT-8, responsável pelas demandas trabalhistas no Pará e no Amapá, não abrangendo ações em outros Tribunais Regionais do Trabalho, nem processos cíveis, federais ou administrativos. As reclamações são de atletas que atuaram em 2025 no clube, bem como em anos anteriores, e de profissionais que prestaram serviços em diversas áreas do bicolor paraense.
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Outras ações de anos anteriores não foram inclusas no levantamento, mas é importante destacar, como é o caso do processo movido pelo ex-treinador do Papão Hélio dos Anjos, que processou o clube em 2024, e com a sentença de 1ª instância sendo decidida em 2025. O Paysandu foi condenado ao pagamento de R$ 2,3 milhões, o clube já recorreu, mas a decisão judicial foi mantida no 2º grau do TRT8. O departamento jurídico alviceleste ainda poderá ingressar com novos recursos.
Mas, entre as ações ajuizadas exclusivamente em 2025, o maior valor individual, até o momento, é o processo movido pelo atacante Rossi, com valor da causa de R$ 5.148.706,67. Em seguida, aparece a ação proposta pelo volante Leandro Vilela, em tramitação na 13ª Vara do Trabalho de Belém, estimada em R$ 4.057.229,11. Em ambas ações, os atletas conseguiram obter rescisões contratuais na justiça após comprovarem uma série de irregularidades e atrasos no pagamento dos salários por parte do Paysandu.
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Também figuram entre os processos de maior valor as ações ajuizadas pelo volante Andre Lima (R$ 1.616.030,00), atacante Dalberto (R$ 1.152.300,00) — que atuou pelo Paysandu entre 2022 e 2023 — e a execução movida pelo Ministério Público do Trabalho, no valor de R$ 1.534.738,48. Nessa última, o Paysandu também foi condenado ao pagamento do valor pedido pelo MPT, e a ação se encontra na fase recursal.
Lista de reclamantes e valores em 2025
Além dos processos de maior valor, o levantamento identificou ações ajuizadas por:
- Pedro Delvalle (rescisão contratual concedida pela justiça) – R$ 914.919,62
- Ramon Martinez (rescisão contratual concedida pela justiça) – R$ 808.005,48
- Dudu Vieira (rescisão contratual concedida pela justiça) – R$ 705.045,39
- Itaro Patric Cardoso Calmon (PK) – R$ 523.853,75
- João Vieira – R$ 383.686,54
- Jorge Benítez – R$ 333.664,51
- Igor Soalheiro (fisiologista) – R$ 205.254,03
- Joase Teles Barbosa (terceirizado) – R$ 124.013,34
- Carlos Maia (2024) - R$ 76.942,26
- Rodrigo Barroca Teixeira (preparador de goleiros)– R$ 69.719,33
- Jhonatan Costa da Cruz (terceirizado) – R$ 60.034,31
Em dois processos (Joase Teles Barbosa e Jhonatan Costa da Cruz), o Paysandu figura como reclamado ao lado de empresas terceirizadas de segurança privada, o que indica discussões sobre responsabilidade trabalhista compartilhada.
Parte das ações já está em instância superior
De acordo com a consulta aos autos, ao menos quatro processos já se encontram em 2º grau, todos com condenação do clube em primeira instância, entre eles as ações movidas por Rodrigo Barroca (ex-preparador de goleiros), atacante Dalberto e Igor Soalheiro (ex-fisiologista do clube). Nesses três casos, a Justiça do Trabalho identificou fraudes nos contratos de trabalho dos profissionais, como o uso indevido do chamado “direito de imagem” e renegociações contratuais irregulares.
Há ainda um processo movido por Dudu Vieira que se encontra suspenso, aguardando o julgamento do mérito do ARE 1.532.603 no Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, o atleta também conseguiu sua rescisão contratual na justiça.
Valor da causa não equivale à condenação definitiva
É importante ressaltar que o valor da causa representa uma estimativa inicial do pedido formulado pelo reclamante, não correspondendo, necessariamente, ao montante que venha a ser efetivamente reconhecido ao final do processo. Ainda assim, esses valores são amplamente utilizados como indicadores de risco jurídico e impacto potencial em análises administrativas e contábeis.
O levantamento reforça que o montante de R$ 17,6 milhões:
- Refere-se apenas a ações ajuizadas em 2025 e que estão em andamento. Processos finalizados não entraram no levantamento.
- Considera exclusivamente processos no TRT-8.
- Não inclui ações de anos anteriores, mesmo que ainda em andamento.
- não contempla processos em outros TRTs.
Dessa forma, os dados revelam apenas uma fração específica do passivo trabalhista do clube, limitada por período e jurisdição.
Plano de pagamento em 90 dias
Durante coletiva de imprensa realizada na última segunda-feira (22), horas após a renúncia de Roger Aguilera do cargo de presidente no Paysandu, o primeiro vice e agora empossado mandatário bicolor, Márcio Tuma, ao ser questionado por jornalistas sobre esses problemas jurídicos e financeiros, disse que as dívidas e processos movidos por atletas exigem um plano estruturado, sendo apresentado publicamente dentro de 90 dias.
“Vou me comprometer pessoalmente a, no prazo de 90 dias, apresentar um plano para que a gente veja a melhor maneira de pagar esses débitos”, afirmou, reconhecendo o impacto das demandas no dia a dia do clube.
Ele também ressaltou que os valores pedidos nas ações costumam ser superiores às condenações finais, mas que não podem ser ignorados no planejamento da gestão. "A gente sabe que o valor da causa assusta, mas o histórico mostra que os valores são bem inferiores nas condenações, mas, por ser do jurídico, isso me incomoda bastante", disse Márcio Tuma.
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