O setor agropecuário chega ao final do ano de 2022 como uma fortaleza para a economia do país e a perspectiva é de que essa relevância se mantenha no ano que virá não apenas no cenário nacional, como também no Estado do Pará, mais especificamente. A última projeção divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para o setor, prevê um aumento de 10,9% no Produto Interno Bruto (PIB) Agropecuário para 2023, crescimento puxado por alta de 13,4% na produção vegetal e de 2,6% na produção animal.
A perspectiva de um cenário positivo para o agro nacional perpassa pelo que é esperado para o setor também no Estado do Pará. Na avaliação do chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos, mesmo com as mudanças ocorridas no Governo Federal com as eleições, o que se imagina é que não deverá ter um impacto tão significativo no agronegócio. “Mesmo ainda não tendo essa clareza explícita do novo Governo Federal, a gente acredita que a proposta deva ser de uma continuação da valorização do agro, mas com o complemento de fortalecimento da proteção ambiental. Então, dentro dessa lógica, nós acreditamos, inclusive, que a perspectiva paraense complementa muito essa linha que deve ser assumida pelo governo brasileiro e elas não devem ser conflitantes, pelo contrário”, considera. “A gente acredita fortemente em um alinhamento entre as ações do Governo Federal e do Governo local que vai fortalecer, sim, essa perspectiva de um ano novo com o agro igualmente forte”.
Essa força deve se manter em setores que, historicamente, já são destaque dentro da produção paraense, com ênfase para a fruticultura com os carros chefes do Estado: o açaí e o cacau. “São culturas cada vez mais demandadas, mais procuradas e com um aumento de área plantada evidente, sendo algumas dessas em sistemas agroflorestais”, avalia Walkymário, ao enfatizar a participação de outro setor. “A gente acredita, também, que a pecuária continuará forte no Estado direcionando-se cada vez mais para uma pecuária de baixa emissão de carbono, com o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, com marcas conceito como ‘carne carbono neutro’. Eu imagino que a nossa pecuária deverá transitar muito fortemente para esse modelo”.
O próprio fortalecimento da adoção de modelos agrícolas-agropecuários, sem a necessidade de desmatamento e fogo, é outra perspectiva aguardada para o setor a partir de 2023. Assim como o reforço em ações ligadas à agricultura familiar, com demandas para qualificação e transferência de tecnologia para este público. “Imaginamos que o Governo Federal deverá estimular isso e o Pará tem trabalhado muito fortemente em uma política de bioeconomia, que também é outra aposta grande que fazemos e que também é alinhada com essa lógica de comunidades familiares, dos povos tradicionais”, avalia o chefe-geral da Embrapa. “Então, nós acreditamos que a agricultura familiar com esse enfoque de utilizar a riqueza econômica a partir da nossa biodiversidade, que é o que a bioeconomia traz, deverá ser fortalecida até pelo próprio Plano Estadual de Bioeconomia do Pará, lançado na COP27. Então, apostamos muito, também, nessa questão da bioeconomia estimulando a diversificação da produção, seja por sistemas agroflorestais, pagamento por serviços ambientais. São apostas que nós fazemos com muita fortaleza para esses novos anos, principalmente a partir de 2023”.
A adoção de novas tecnologias que promovam a intensificação da produção, com o uso mais adequado da água e do solo, também é uma perspectiva apontada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) para o agro paraense no ano que se inicia. Para o presidente da Fapespa, Marcel Botelho, a perspectiva é positiva tanto do ponto de vista da produção, quanto no que se refere à comercialização. “De uma forma geral, os principais produtos do Agronegócio paraense vêm em franco crescimento da produção e da comercialização. A produção agrícola geral no Estado do Pará cresceu muito nos últimos 20 anos e, se olharmos somente o período dos últimos quatro anos, o valor da produção quase dobrou, então, certamente nós temos uma perspectiva muito interessante para esses segmentos”.
Mais detalhadamente, Marcel Botelho avalia que a cultura da soja e do milho apresentaram um incremento muito grande no valor de produção nos últimos anos. Entretanto, ele aponta que um destaque especial precisa ser feito para a cultura do cacau. “Nos últimos anos o cacau vem demonstrando um crescimento e uma aceitabilidade internacional fantásticos porque nós temos um produto que é muito adequado a este novo momento da bioeconomia porque é uma cultura que, as pesquisas mostram isso, é chamada de carbono negativo, ou seja, ela sequestra carbono da atmosfera”, avalia. “Então, ela não só gera divisas, como também contribui para a sustentabilidade ambiental, além de ser uma cultura que emprega muita mão de obra”.
No mesmo caminho, o açaí se desenvolve e se expande, apresentando-se, inclusive, como um parceiro do cacau na adoção de sistemas agroflorestais. “O açaí com o cacau forma uma dupla imbatível e tem uma perspectiva muito forte de crescimento para 2023. A demanda mundial por açaí tem crescido muito e ele tem sido aproveitado quase em sua totalidade, os pesquisadores estão trabalhando para descobrir novas utilizações não só da polpa, mas do caroço do açaí também”.
Marcel lembra que uma das vocações da região é a produção de alimentos, portanto, há no Estado do Pará uma vocação para o agronegócio. Com a perspectiva de um agronegócio cada mês mais sustentável, com investimentos em novas tecnologias para que se obtenha não só o aumento da produção, mas também maior sustentabilidade ambiental e social, a expectativa é de que essa vocação apenas se fortaleça. “Não há dúvidas de que esses produtos serão decisivos na participação do PIB do Estado, como já são. A nossa balança comercial é muito influenciada pelo agronegócio e vai continuar porque essa é a nossa vocação”, considera. “Com um detalhe, sem precisar avançar sobre a floresta porque, com investimento em tecnologia, nós vamos intensificar a produção e não avançar mais sobre áreas de floresta. No futuro, a floresta também será cada vez mais um ativo da população paraense, um ativo da Amazônia, sendo monetizada e utilizada como remuneração para a população”.
Ainda que a capacidade produtiva do Estado seja muito boa, o presidente da Fapespa lembra que é preciso estar atento, também, aos possíveis impactos da economia global. “Nós trabalhamos com commodities, nós trabalhamos com exportação e fenômenos como a guerra da Rússia com a Ucrânia, e outras crises que possam acontecer em nível global podem afetar não a produtividade, mas a comercialização desses produtos que são gerados aqui no Estado”.
Na pauta da exportação, a assessora técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Eliana Zacca, reforça que dois grandes segmentos puxam o agro paraense. “A cadeia da pecuária de corte e a parte de grãos, com soja e milho, principalmente. Eles realmente lideram a pauta de exportação do agronegócio. Quando você tira o minério, dentre os produtos que são mais exportados, são os dois que lideram, a soja e a cadeia da pecuária da carne de corte”.
Em relação às perspectivas para o segmento no próximo ano, a assessora técnica considera que o momento é de cautela entre investidores e produtores. “As perspectivas, hoje, são que ante as incertezas do cenário político e econômico, que afetam bastante a confiança do investidor, o setor está segurando investimentos para ver como se delineia o novo cenário”, considera. “Embora você tenha um aumento de preço das commodities de exportação, que vem estimulando o aumento da área plantada de grãos, nós também tivemos, nesse último ano, o aumento muito grande dos preços dos insumos agrícolas, o que reduz a margem de lucro do setor, também. Então, eu diria que o cenário é de incerteza na política econômica e, por isso mesmo, os produtores e investidores estão aguardando a configuração dos fatos, como vão se delinear após janeiro, para então fazer uma revisão na sua agenda de investimentos”.
MANEJO
Com uma participação já bastante representativa na produção agrícola do Estado, as culturas do açaí e do cacau têm potencial para crescer ainda mais e se fortalecer nos próximos anos. O chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos, aponta que já se observa um cenário de consolidação da cadeia do açaí, tanto o açaí manejado, como o açaí de terra firme, com aumento de áreas plantadas, além da expansão da cultura do cacau. “A cadeia do cacau se expande cada vez mais no Estado do Pará, inclusive chegando a pólos historicamente não habituais no Estado, como a região nordeste, então, a gente aposta muito nesse crescimento”, avalia. “O nosso monitoramento mostra um avanço de áreas plantadas, desde em sistemas agroflorestais, que é o que a gente defende e recomenda, como em alguns casos em cultivo solteiro”.
Outra aposta da Embrapa para o setor agropecuário paraense nos próximos anos está na pecuária, com um potencial bastante interessante e diferencial para o Estado em sistemas de integração como um modelo capaz de mitigar a emissão de gases de efeitos estufa. “Os grãos tendem a se fortalecer, principalmente nessas regiões do nordeste do Pará, de Paragominas para baixo. Então, a soja e o milho devem manter essa tendência”, considera Walkymário. “Mas a gente também aposta no potencial do feijão-caupi. A Embrapa Amazônia Oriental, inclusive, lançará em 2023 quatro materiais superiores de caupi, adaptados para a região, que podem ser incorporados inclusive em cultivo safrinha, nesses sistemas de integração”.
Outra expectativa positiva apontada pelo chefe-geral da Embrapa é a de ampliação do cultivo de pimenta-do-reino, mas não em tutor morto, com o tutor vivo. “A gente acredita que o Pará pode ser um grande referencial no país para esse modelo de sistema de cultivo de pimenta com tutor vivo, que é uma tecnologia inclusive nossa, da Embrapa”, aponta. “E a gente tem o desafio e queremos apostar muito, também, no fortalecimento da cadeia da mandioca através da incorporação de tecnologias, então, a gente imagina que o Pará pode não aumentar a área plantada, mas aumentar a produtividade de áreas já plantadas com mandioca através da incorporação de tecnologias”.
Outra tendência muito forte vislumbrada para o Estado nos próximos anos está na vasta riqueza florestal que o Pará possui, com enorme potencial de produtos não madeireiros. “Não é um cultivo, mas vem a partir do manejo bem feito dessa nossa grande biodiversidade. Então, produtos não madeireiros com potencial de bioinsumos, biomoléculas, agregação de valor para alimentos. São temas que nós imaginamos como bastante promissores para o ano que se aproxima”.
Produção nacional de grãos deve crescer 36,8% NOS PRÓXIMOS 10 ANOS
No longo prazo, as tendências observadas no cenário nacional são de crescimento na produção de grãos. De acordo com os números apontados pelo estudo ‘Projeções do Agronegócio, Brasil 2021/2022 a 2031/2032’, lançado em novembro deste ano pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a produção de grãos no Brasil deverá crescer 36,8% nos próximos 10 anos, totalizando 370,5 milhões de toneladas na safra 2031/2032.
Para realizar a projeção, o estudo considerou 16 produtos pesquisados mensalmente pela Conab, como parte de seus levantamentos de safra, incluindo algodão, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio, cevada, feijão, gergelim, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trigo e triticale. De todo modo, os maiores destaques ficam para o algodão, milho de segunda safra e soja. No caso da soja, o Estado do Pará está entre os estados que se destacam como líderes da expansão da produção, ao lado do Mato Grosso, Rondônia e Mato Grosso do Sul. Somente no Estado do Pará, a soja em grão deve passar de 2,4 milhões de toneladas na safra 2021/2022, para 3,9 milhões em 2031/2032. A expectativa é que a produção de soja no Pará cresça a 4,6% ao ano na próxima década.
Já destacado pela Embrapa Amazônia Oriental e pela Fapespa, o potencial do Pará para a cultura do cacau também é lembrado pelo estudo do Mapa. A publicação aponta que “no Bioma Amazônia, o estado do Pará, principal produtor, apresenta situação melhor, pois projeta-se aumento de produção (36,5%) e da área (33,8%). Como essas atividades vêm sendo feitas em bases mais modernas, há boas chances de fortalecimento dessa atividade no Norte”.
Longo prazo
- Em relação ao cacau, projeta-se aumento de 36,5% na produção e de 33,8% da área no Estado do Pará, entre 2022 e 2032.
- Já na soja, a projeção para o Pará é de crescimento de 60% na produção e de 59,7% em área plantada nos próximos 10 anos.
Fonte: ‘Projeções do Agronegócio, Brasil 2021/2022 a 2031/2032’, Ministério da Agricultura
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