É preciso muito amor e doação para encarar a responsabilidade de gestar. Para o próximo, então, a tarefa vale o dobro. Sem pensar duas vezes, foi o que fez Sheila Leal, de 37 anos, para realizar o sonho da irmã, Shirlen Leal, de 38 anos, e do seu cunhado, Clésio Lopes, de 36.
Mesmo sendo mãe de três crianças (Maria Alessandra, de 12, Roberto, de 9 e Rodrigo, de 3), Sheila se ofereceu para gestar um bebê para o casal, que está junto desde 2010. Os dois sonhavam em ser pais, mas aos 19 anos, Shirlen precisou fazer uma histerectomia parcial.
“Fiquei somente com o ovário. Aos 34 anos casei e resolvi iniciar o tratamento de fertilização. Meu esposo já tinha conhecimento sobre meu problema, eu contei quando começamos a namorar”, relembra Shirlen.
A barriga solidária foi a solução encontrada pelo casal. A primeira a se oferecer para gestar foi uma tia de Shirlen, mas o processo não deu certo e eles tiveram o sonho adiado por cerca de um ano.
“Em 2014 fiz minha primeira fertilização in vitro (FIV), após a minha tia se oferecer para ser minha barriga solidária, mas, infelizmente, o resultado foi negativo. É um luto que você vive. Na época, a minha irmã morava em Minas. Então, abandonei o tratamento por dois anos”, relata
Em 2016, Shirlen e Clésio renovaram as esperanças e retomaram ao tratamento em uma outra clínica, mas o tão sonhado filho precisou ser adiado mais um pouco.
“Descobrimos que o meu esposo tinha um problema com a quantidade e qualidade dos espermatozoides, o que também dificultaria a FIV. Tratamos o problema dele e tivemos uma melhora significativa. Ao mesmo tempo, eu tentava coletar óvulos de boa qualidade, mas pela minha idade, não conseguia recrutar mais que quatro óvulos e o fato de ter somente um ovário também dificultava”, diz ela.
Em dezembro de 2017, o sonho do casal foi adiado mais uma vez. “Nessa época eu consegui coletar 5 óvulos maduros, fertilizamos e mandamos fazer biópsia (para ter certeza que era um embrião perfeito), mas, infelizmente, nosso único embrião não passou na biópsia. Eu estava ficando sem esperança em fertilizar os meus próprios óvulos e tomei a decisão em adotar a ovorecepçao, adotar um óvulo. Conversei com meu médico e ele pediu para eu ter paciência por mais um semestre”, conta Shirlen.
Baby chá do pequeno Samuel. (Foto: Arquivo Pessoal)
Toda espera, esforço e persistência valeram a pena. Em janeiro de 2018, o que parecia impossível tornou-se realidade. “Fizemos mais uma ultrassom para monitorar o recrutamento de óvulos, e eu tinha exatamente 13 folículos, 13. Isso nunca tinha acontecido. Fizemos a coleta e dos 13 folículos, seis estavam bons, então resolvemos congela-los. Em março fiz um novo monitoramento dos óvulos e a bênção se repetiu. Tinham 13 folículos no meu ovário, fizemos mais uma coleta, dos 13 folículos, 10 estavam bons. Coletamos e fertilizamos, conseguimos três embriões, mandamos novamente para a biópsia, mas dos três somente um era perfeito e congelamos”, relembra a mamãe.
Com a irmã Sheila morando novamente em Belém, Shirlen recorda o momento emocionante da segunda tentativa. “Perguntei a ela no dia 27 de julho se ela poderia gestar para mim, a reação dela foi imediata, com um sim bem sonoro. Então, começamos a nos preparar para a implantação do embrião. No dia 23 de setembro de 2018, fizemos a transferência. Foi um momento muito emocionante”.
A fertilização in vitro (FIV) deu certo e hoje a família aguarda ansiosamente a chegada do pequeno Samuel Leal Lopes, previsto para chegar a este mundo entre o período de 1º a 17 de junho.
Quer se emocionar com a história completa? Confira o relato de Shirlen:
Como funciona a “barriga solidária” e o que diz a lei no Brasil?
O tema é cercado de questões éticas e culturais. “O útero de substituição, conhecido popularmente como barriga solidária, é quando uma mulher cede o útero para gestar um bebê. Ocorre quando a mãe biológica não tem condições de gestar, seja por alterações no útero ou por alguma outra doença que impossibilita levar uma gestação saudável”, explica o médico e diretor científico do Centro de Reprodução Nascer, Raphael Haber.
Nesta situação, é realizado um tratamento de fertilização in vitro (FIV), qundo o embrião gerado em laboratório é transferido para o útero da receptora. Segundo a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), ”as doadoras temporárias do útero devem pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo até o quatro grau”, ou seja, só podem ceder a barriga solidária as mães, irmãs ou avós, tias e primas. Nos demais casos, é preciso autorização expressa do Conselho Regional de Medicina.
A resolução do Conselho Federal de Medicina ainda determina que “clínicas, centros ou serviços de reprodução assistida podem usar técnicas de RA (reprodução assistida), desde que exista um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética ou em caso de união homoafetiva”.
Raphael Haber explica como funciona o tratamento da FIV. (Foto: Arquivo Pessoal)
Para o médico Raphael Haber, a fertilização é vitro é um grande divisor de águas na medicina reprodutiva. Segundo ele, o procedimento está indicado em casos mais complexos de infertilidade, como infertilidades há anos, causas masculinas graves, laqueadura ou vasectomia e idade materna avançada.
“O tratamento é dividido em algumas etapas. A primeira é a indução da ovulação, na qual são utilizados medicamentos para estimular o crescimento dos folículos (óvulos) nos ovários da paciente. A segunda é a captação folicular, onde esses folículos são aspirados com ajuda de ultrassonografia e enviados para o laboratório de embriões, esse procedimento envolve anestesia leve. A terceira é a fertilização que é realizada no laboratório com a junção do óvulo com espermatozoide feito manualmente com agulha. E a quarta é a transferência de embrião para o útero materno, por meio de um cateter”, explica o médico.
No entanto, FIV não é coberta por planos de saúde do Brasil, se tornando inacessível financeiramente para muitas pessoas. Segundo o especialista em reprodução e infertilidade, o tratamento que dura em torno de 20 dias, tem chance de sucesso média de 40% e custa entre 12 a 20 mil reais.
“Apenas o pré-tratamento da FIV com os exames e o pós-tratamento com o pré-natal pode ser realizado via plano de saúde. O SUS oferecer pouquíssimos serviços de reprodução assistida pelo Brasil, que não correspondem a menos de 3% dos tratamentos realizados no país e em geral, tem uma longa fila de espera para ser realizado”, o diretor científico Raphael.
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Reportagem: Andressa Ferreira
Multimídia: Demax Silva
Coordenação: Gustavo Dutra
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