O tambaqui é um peixe que faz sucesso na culinária amazônica, seja assado, frito ou cozido, é sempre bem-vindo, mas pela quantidade de espinhas acaba sendo um desafio degustá-lo. Por acaso, uma produtora de alevinos (peixes recém saídos dos ovos), descobriu uma nova espécie do tambaqui: os sem espinhas Y, aquela que fica na carne (intramuscular), e agora o prazer em apreciar o peixe pode mudar.
Em entrevista, o engenheiro de pesca Jenner Menezes e revelou que a saga para identificar os tambaquis sem espinhas começou em 2012. “Foi uma epopéia para conseguir um Raio-X, para radiografar os 134 peixes, ou então teria que levá-los à uma clínica radiológica. Era uma operação de guerra, ainda em 2012 e 2013.
Depois de uns 6 meses eu consegui um veterinário que tava trazendo um Raio-X portátil para Rondônia, fui buscá-lo no aeroporto e ele nunca imaginou que ia radiografar peixes. De lá, identificamos 50 tambaquis sem espinhas”, disse Jenner, ressaltando ser a formação do primeiro lote do peixe no mundo.
Com os tambaquis sem espinhas Y, o engenheiro procurou pesquisadores para o estudo do lote, e chegou até o geneticista professor doutor Alexandre Hildsorf, da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), que o acompanha nas pesquisas. “O que eu tinha descoberto, com os tambaquis sem espinhas, era a materialização da teoria de pós-doutorado do Alexandre, que fala em espécies que perderiam as espinhas Y, que foi o caso dos peixes da família caracídeos, onde o tambaqui está inserido”, conta.
Ainda segundo Jenner, os estudos foram iniciados dos primeiros cruzamentos entre os tambaquis radiografados sem espinhas, nasceram de outras formas. “A descoberta é muito complexa, em alguns casos voltavam as espinhas, em outros só na calda, outros de um lado, outros sem espinhas, e com isso, estamos trabalhando tentando afinar para chegarmos a 100% de peixes sem espinhas”, disse.
O especialista afirmou que o desenvolvimento de variedades genéticas sem essas espinhas seria uma verdadeira revolução na criação de algumas espécies de peixes. “Devemos lembrar que nem todas espécies de peixes tem estas espinhas. Por exemplo, tilápias, tucunarés e outros peixes dessas famílias (os ciclídeos) não as tem, assim como os bagres. Assim, a ausência dessas espinhas poderia impulsionar a aquicultura de várias espécies de peixes de nossas águas, tais como os Matrinchã, curimbatás, traíras e naturalmente o tambaqui e o pacu”, disse doutor Alexandre Hildsorf.
PRODUÇÃO EM MASSA
As pesquisas feitas pelo Jenner, ainda demandam tempo, e, segundo o engenheiro, o avanço na descoberta melhoraria muito a cadeira de produção. “O benefício de termos um lote de tambaquis sem espinhas é o fato mais importante para a piscicultura do Brasil, no momento. Essa espinha intramuscular é o principal entrave na produção em cadeia do tambaqui, e uma vez descoberto e planejado para produção massiva, teremos um filé sem espinhos com um melhor corte, em nível de frigorífico, uma redução no desperdício, onde se perde de 11 a 13% da carne com remoção de espinhas, sem falar em tempo, que economizaríamos com tempo e pessoal”, ressalta.
Não há um valor ainda mensurado para preços dos alevinos sem espinhas, mas as pesquisas continuam em várias frentes.
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