O preço que o Brasil pagará por ter sido atingido pela pandemia do novo coronavírus com uma dívida pública muito alta será um aumento temporário de impostos, segundo Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do Banco Central.
"Começamos nessa crise como um ponto totalmente fora da curva", diz ele, em referência ao endividamento do país, que, por critérios do FMI (Fundo Monetário Internacional), já beira 90% do PIB (Produto Interno Bruto), contra uma média de 53% do PIB dos países emergentes.
Para Mesquita, há consenso sobre a necessidade de o governo realizar gastos emergenciais para responder à dupla crise, na saúde e na economia. Mas eles resultarão em uma dívida ainda mais alta: "A gente vai ter que pagar por isso. O Brasil vai ter que pagar essa conta", afirma.
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O economista ressalta que a situação brasileira é agravada ainda pela turbulência política:
"Essa incerteza reduziu a confiança sobre a manutenção dos rumos da política econômica".
Isso terá reflexos que tendem a se estender após a crise, quando o Brasil poderá ficar de fora do radar de investidores em busca de ativos com boa remuneração.
"O Brasil pode não se beneficiar dessa onda, se a gente continuar em um processo de alta instabilidade política e se existirem dúvidas sobre a política fiscal", diz.
Segundo ele, é importante que, passada a crise neste ano, o governo retome o compromisso com o controle de gastos. Isso, no entanto, não será suficiente para garantir a capacidade de pagamento da dívida pública, que precisará ser financiada com o aumento da já elevada carga tributária, equivalente a 33,2% do PIB em 2019.
Mesquita destaca que, embora essa discussão não seja apropriada para este momento, no segundo semestre ou no início de 2021, ela será inevitável.
"Teremos que distribuir o custo dessa crise de uma forma socialmente justa, tanto quanto possível", diz o economista.
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