A presença de Edgard Corona, dono das academias Smart Fit, entre os alvos da operação da Polícia Federal desta quarta-feira (27) levou para o inquérito das fake news comandado pelo Supremo Tribunal Federal o grupo de empresários Brasil 200.
Criado em janeiro de 2018 por Flávio Rocha, dono da Riachuelo, o Brasil 200 tem como uma de suas principais bandeiras o combate à PEC (proposta de emenda à Constituição) 45, projeto de reforma tributária elaborado pelo economista Bernard Appy e encampado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
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A alternativa defendida pelo dono da Riachuelo seria resgatar a CPMF, o antigo imposto sobre movimentações financeiras, mas com roupagem moderna adequada às transações digitais.
A ideia de trazer de volta o impopular imposto do cheque tem o endosso do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas nunca conseguiu convencer o presidente Jair Bolsonaro.
O esforço de lobby do Brasil 200 no governo Bolsonaro ganhou tração ainda durante as discussões da reforma da Previdência, quando atraiu figuras do núcleo mais próximo do presidente, como Luciano Hang, dono da Havan, e Sebastião Bomfim, da Centauro.
Heterogêneo, o grupo conciliou interesses de empresários do varejo e dos serviços, que se sentem prejudicados pela PEC 45. Atraiu até nomes como Washington Cinel, do mercado de segurança, ligado ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), inimigo político de Bolsonaro.
O episódio que levou o grupo de WhatsApp batizado de "Brasil 200 Empresarial" à investigação foi uma mensagem de Corona dizendo aos outros membros que precisava de dinheiro para investir em marketing e impulsionar vídeos de ataque a Rodrigo Maia.
Enviada em meados de fevereiro, a mensagem do dono da Smart Fit encaminhava um vídeo dizendo que a PEC 45 elevaria os custos das empresas, mas que elas não iriam pagar a conta porque o valor seria repassado para o consumidor final, com aumento de 300% de impostos em escolas privadas, serviços de saúde e transportes.
Na ocasião, o Brasil 200 estava envolvido em um bate-boca público com Rodrigo Maia porque o presidente da Câmara, já reagindo a ataques feitos pelo grupo de empresários em um evento dias antes, dissera que a conta da reforma da Previdência pesou mais sobre a sociedade do que sobre o empresariado.
A briga teve até a intervenção de um dos empresários mais próximos de Bolsonaro. Meyer Nigri, dono da incorporadora Tecnisa, entrou para tentar conciliar, dizendo que, embora ele próprio também não gostasse da PEC 45, tanto Maia como o governo vinham sendo receptivos para o diálogo naquele momento.
A tensão foi baixando nos meses seguintes, e o porta-voz do Brasil 200, Gabriel Kanner, que é sobrinho de Flávio Rocha, tentou uma aproximação com Maia, fazendo convites para um jantar e, depois da pandemia, uma live, que não aconteceram.
Hoje, Edgard Corona já não faz mais parte do Brasil 200, assim como Flávio Rocha, Sebastião Bomfim e Washington Cinel. A diáspora começou no mês passado, depois que Kanner disse em entrevista à Folha de S.Paulo que a demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro era uma traição ao eleitorado de Bolsonaro.
Procurado para comentar a mensagem de Corona pedindo dinheiro para impulsionar as mensagens contra Maia, Gabriel Kanner disse que o grupo de WhatsApp tinha muitas pessoas e que ele não pode ser responsável pelas opiniões de cada uma delas.
"Era um grupo antigo, tinha vários empresários, não só do Brasil 200, mas outros que a gente conhecia. Lá se discutiam vários temas. Ele nem existe mais. Acabou sendo deletado depois, mas vazaram um print onde tem uma mensagem que falava 'vamos investir em marketing', ou seja, uma intenção futura. Não configura nada. É muito raso. Eu estou absolutamente tranquilo porque nunca financiamos nenhum tipo de ataque a nenhuma pessoa", diz Kanner.
A assessoria de imprensa de Corona diz que ele "está à disposição da Justiça para investigação do STF e tem plena confiança na Justiça e esclarecimento urgente dos fatos".
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