A ameaça do novo coronavírus, mesmo agora com as novas cepas, não alterou o padrão de infidelidade conjugal praticado antes da quarentena por Mariana (nome fictício), designer de moda, de 37 anos, casada há 17 anos com um profissional de Tecnologia da Informação. Ela é usuária há cinco anos do site Ashley Madison, que agrega 70 milhões de adúlteros do mundo todo, ela mantém uma média de cinco encontros por mês, entre parceiros antigos e novos.
"O tesão é maior do que o medo da covid-19", afirma Mariana, que contraiu o vírus em agosto de 2020. "Não sei quem me passou. Suspeito de um encontro que tive com uma pessoa do site, alguns dias antes de apresentar os primeiros sintomas. Mas pode não ter sido, né?"
Ela conta que os contatos se dão sempre por mensagem de texto, em horário comercial, e os encontros são marcados diretamente em motéis. "Nunca vou a lugares públicos, para não correr o risco de ser vista por conhecidos", explica.
Mariana diz que entrou no site em um momento em que se sentia "solitária". "Meu marido trabalhava muito, e quando a gente se falava era sempre para tratar de problemas da casa, de escola, do trabalho. Eu sentia falta de conversas diferentes, de elogios, de estímulo sexual."
Ela explica que o relacionamento dos dois esfriou, "faço sexo com ele por fazer", mas garante que "nunca" vai se separar. "Não tem motivo. Ele é pai da minha filha, a gente se dá bem, levamos uma vida financeiramente estável." Ela conta que já se apaixonou algumas vezes, mas sabe "separar as coisas": "Se eu sinto que estou me envolvendo, substituo a pessoa."
Infidelidade na quarentena
De acordo com o relatório "Amor Além do Isolamento", encomendado pelo Ashley Madison à empresa Ruby Life Inc., cerca de 15,2 mil pessoas acessaram diariamente o site em 2020, um número pouco menor que o registrado em 2019 (15,4 mil). O estudo mostra que, mesmo na quarentena, 95% dos usuários continuam com a intenção de trair.
Um dos motivos seria o desgaste dos relacionamentos durante o período de confinamento. "A infidelidade se mostrou um instrumento eficaz contra o estresse causado pela convivência com o cônjuge e os filhos, 24 horas por dia, 7 dias por semana", diz o canadense Paul Keable, diretor de estratégias do Ashley Madison.
Apesar do alegado apaziguamento que a traição pode proporcionar, mais da metade dos consultados no estudo da Ruby Life Inc. disse que pretende seguir as recomendações das autoridades de saúde para evitar o contágio do novo coronavírus. A tendência agora é a "traição monogâmica".
"Em janeiro, observamos que 55% dos adúlteros reduziram o número de parceiros extraconjugais [não virtuais] a um ou poucos", diz Keable.
Ainda segundo o relatório, 65% dos usuários dizem que serão mais seletivos, e 55% dizem que provavelmente deixarão de ter vários parceiros físicos ao mesmo tempo.
Efeitos colaterais
Paul Keable diz que o encontro virtual durante a quarentena pode ter salvado vidas. "Muitos usuários optaram por esperar uma vacina, antes de marcar um encontro real e fazer sexo."
Levando em conta que a idade média dos frequentadores do Ashley Madison é 35 anos e que o calendário de vacinação obedece à faixa etária, dos idosos para os mais jovens, infere-se que esse contingente de adúlteros prudentes deverá se contentar com o relacionamento virtual por pelo menos seis meses. Isso, claro, se o cronograma de vacinação seguir como o prometido.
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