Em meio ao polêmico anúncio de que a Copa América será realizada no Brasil, após Colômbia e Argentina desistirem da realização do torneio, a CPI da Pandemia iniciou nesta terça-feira (1º) o seu segundo mês de atividades com a oitiva da médica Nise Yamahuchi. Senadores suspeitam que o governo federal atendeu a orientações de uma espécie de “gabinete paralelo” ao Ministério da Saúde, para que a compra de vacinas fosse deixada em segundo e que fossem priorizados investimentos em medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19, como a cloroquina e a hidroxicloroquina.
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Oncologista e imunologista, além de diretora do Instituto Avanços em Medicina, de São Paulo, Yamaguchi defende o chamado "tratamento precoce" contra a covid-19. O depoimento da médica atende a pedido do senador Eduardo Girão (Podemos-CE).
No requerimento, o parlamentar lembra que, em depoimento à CPI, o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, disse que, numa reunião com o governo federal, a pesquisadora defendeu alterar a bula da cloroquina. A intenção de Nise Yamaguchi, segundo Barra Torres, seria definir o medicamento como eficaz contra o coronavírus. Barra Torres deixou clara sua recusa ao procedimento.
"Yamaguchi é conhecida por defender a hidroxicloroquina e a cloroquina no tratamento de pacientes infectados com o Sars-Cov-2 [vírus causador da pandemia]. E foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a integrar o comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta", cita Girão em seu requerimento.
O depoimento da médica também atende a pedido do senador Marcos Rogério (DEM-RO). Para ele, a audiência "será de importância singular para que [a pesquisadora] exponha sua atuação e conhecimentos, com o objetivo único de restabelecer a verdade, oferecendo informações transparentes e esclarecedoras. Tem muito a colaborar", finaliza o senador no requerimento.
Ouvido pela CPI em 11 de maio, Barra Torres explicou que a alteração da indicação da cloroquina seria impossível, pois só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país de origem, desde que solicitado pelo detentor do registro.
“Agora, eu não tenho a informação de quem é o autor, quem foi que criou, quem teve a ideia. A doutora [Nise Yamaguchi], de fato, perguntou sobre essa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade”, esclareceu.
Na última quinta-feira (27), o relator da CPI, senador Renan Calheiro (MDB-AL), afirmou que a comissão investiga a existência de uma consultoria informal ao governo a favor de métodos considerados ineficazes de enfrentamento à pandemia.
“Não estamos apenas discutindo a eficácia da cloroquina ou do 'tratamento precoce'. Queremos investigar se essas coisas foram priorizadas em detrimento da vacinação dos brasileiros. E isso poderia ter salvado muitas vidas”, definiu, opinando que o governo não comprou vacinas suficientes por não acreditar em sua eficácia.
A CPI também ouvirá críticos da cloroquina, como a microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Natalia Pasternak, e o doutor em virologia Átila Iamarino.
O depoimento de Nise Yamaguchi à CPI está marcado para começar as 9h de terça-feira. Acompanhe ao vivo:
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