A CPI da Covid tem tido dias intensos e várias descobertas que insinuam que o governo federal tem deixado "passar a boiada" com relação a contratos e gastos para vacinas, como denúncias de desvios na compra da vacina indiana Covaxin.
O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) sugeriu neste sábado (26), pela segunda vez, que existe uma gravação que comprova que o presidente Jair Bolsonaro foi informado sobre o suposto esquema no Ministério da Saúde. Segundo ele, se Bolsonaro tentar desmenti-lo, terá uma "surpresa mágica".
Miranda e o irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, denunciaram ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid supostas irregularidades na compra da vacina. No depoimento, os irmãos afirmaram ter avisado Bolsonaro há três meses sobre as suspeitas e sobre uma "pressão atípica" para acelerar a importação. Na conversa, o presidente teria citado o deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR), líder do governo na Câmara, como o parlamentar que queria fazer "rolo" no ministério.
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As declarações de Miranda fizeram a CPI da Covid pegar fogo e aumentou a pressão sobre o governo. Ontem mesmo, o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que a comissão irá analisar a possibilidade de comunicar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a ocorrência de suposto crime prevaricação de Bolsonaro, por não ter agido contra o esquema.
Em entrevista neste sábado ao site O Antagonista, Miranda afirmou que tem como provar suas declarações. Questionado se não seria a palavra do presidente contra a sua, ele afirmou que Bolsonaro, nesta situação, "vai ter uma surpresa mágica". "Se ele fizer isso (questionar minha versão), vou ter que fazer algo que nunca um parlamentar deve ter que fazer contra o presidente", afirmou o deputado. "Mas aí ele vai ficar constrangido, muito, porque eu tenho como provar. Mas na hora certa."
Miranda reclamou, ainda, sobre os ataques que tem recebido por parte dos filhos de Bolsonaro, que o qualificam como traidor por ter denunciado a compra fraudulenta. "Se ele (Bolsonaro) fizer isso, a gente vai ter que provar de um jeito que é totalmente desfavorável para o resto da carreira política dele. Se precisar, a gente prova. Só isso", disse Miranda.
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Na entrevista, Miranda também não negou a existência de uma gravação da conversa com Bolsonaro. "Tinha três pessoas na sala. Eu, como parlamentar, não gravaria. Mas vamos mudar este assunto, por favor?", desconversou. A terceira pessoa na sala era justamente o servidor Luis Ricardo, irmão do deputado.
Esta foi a segunda vez que Miranda sugeriu que existe uma gravação da conversa com o presidente. Em seu depoimento à CPI na sexta-feira, durante várias horas, ele evitou revelar aos senadores que o deputado supostamente envolvido no esquema era o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Em suas respostas, Miranda dizia não se lembrar do nome do deputado citado por Bolsonaro.
Durante questionamento do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, Miranda afirmou que "tinha mania de gravar algumas conversas, mas eu não gravo conversa com o presidente...". Na sequência, cometeu um ato falho: "Mas posso procurar na gravação (o nome do deputado do esquema), assim o presidente (Bolsonaro) também não poderia me desmentir, né?"
Ao contrário dos demais imunizantes, negociados diretamente com seus fabricantes (no País ou no exterior), a compra da Covaxin pelo Brasil foi intermediada pela Precisa Medicamentos. A empresa virou alvo da CPI, que autorizou a quebra dos sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário de um de seus sócios, Francisco Emerson Maximiano. O depoimento do empresário na comissão estava marcado para esta semana, mas ele alegou estar em quarentena após voltar da Índia e não compareceu.
Além da Precisa, Maximiano é presidente da Global Saúde, empresa que já foi alvo de ação por irregularidades em contrato com o Ministério da Saúde em 2018. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal à época em que Ricardo Barros, hoje líder do governo Bolsonaro, era ministro. Na ocasião, a pasta pagou R$ 20 milhões para comprar remédios de alto custo a pacientes com doenças raras, mas os produtos nunca foram entregues.
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