O motoboy que foi humilhado publicamente por um sócio de um restaurante em um shopping do Distrito Federal, falou pela primeira vez sobre o assunto. Everton Santos Silva, de 30 anos, diz que se sentiu humilhado durante o episódio ocorrido na tarde de sábado (17). O entregador, que presta serviço para aplicativo, conversou com o portal Metrópoles nesta segunda-feira (19) e comentou sobre o momento da discussão.
Everton narrou que, há cerca de duas semanas, teve outros problemas com atrasos de pedidos no mesmo restaurante. “A Abbraccio tem esse mal costume de atrasar pedidos para os motoboys, isso todos vão falar. Teve um dia que eles atrasaram uma hora e meia, [contada] de relógio, o meu pedido. Aí, eu reclamei com a funcionária: ‘Cadê meu pedido? Estou há mais de uma hora aguardando meu pedido. Se eu não fizer a entrega, não ganho dinheiro, eu vivo disso'”, relatou.
“No outro dia, esperei quase duas horas. Aí, peguei o telefone da Abbraccio e liguei lá: ‘Vocês estão de marcação comigo? O que está acontecendo?’ Não tem condição de ficar esse tempo todo esperando um pedido”, completou.
“Passaram dois dias, eu peguei um pedido deles e a minha moto estragou. Não tive como realizar a entrega. Entrei no suporte do iFood, [dizendo] que minha moto tinha dado defeito e não podia finalizar a entrega. Pois, no sábado, esse rapaz aí – não sei se é sócio, se é dono – foi lá: ‘Você é o machão para destratar meus funcionários? Quero ver você falar comigo dessa forma’. Eu falei: ‘De que forma que eu falei? Eu não destratei ninguém, simplesmente falei o que estava acontecendo e que não estava satisfeito com aquilo’.”
“Ele mandou eu dar saída no pedido, eu dei saída, peguei o pedido, e ele começou a cronometrar, colocou o relógio na minha cara: ‘Vai fazer a entrega, seu horário está contando’. Aí eu deixei o pedido lá, porque meu celular estava com pouca carga e eu estava carregando. Se não tiver carga, o iFood entende que você não está apto a fazer a entrega. Então, eu estava ali esperando dar a carga, e ele com a maior ignorância do mundo, e a funcionária dele: ‘Já deu saída, já deu saída?'”, completou.
“Eu não fiz a entrega pelo jeito que ele me destratou e pela forma que ele mandou eu sair para fazer a entrega. Como eu não dei muita importância para o que ele falou, ele começou a questionar o motivo de eu estar ali carregando o celular. Fiquei sem entender, porque se a gente trabalha para eles, entrega para eles, se a gente não tiver o celular com a carga para se comunicar, como é que faz o serviço?”, questionou.
De acordo com Everton, o atraso desta vez foi de mais de 40 minutos. “Ele já veio com o pedido na minha mão, falando para eu dar saída. Aí eu pensei: ‘Não sou cachorro de ninguém, não’. Só peguei o pedido dele, coloquei do lado e continuei com o celular carregando. E ele falando: ‘Já estou cronometrando, vai fazer a entrega’. Eu sei o tempo que eu tenho para fazer a entrega, o iFood estipula um tempo para fazer a sua entrega, então, se eu estava ali ainda, era porque eu sabia que iria dar conta de chegar a tempo”, reclamou.
“Humilhação”
Everton é casado e pai de três filhos. Ele está morando temporariamente na casa da cunhada, na Estrutural, enquanto espera receber a chave do apartamento que comprou em Valparaíso (GO). É com o dinheiro que ganha com as entregas que sustenta a família.
O entregador de aplicativo afirma que trabalha na categoria há quase dois anos e que precisa do emprego. “Eu dependo disso para sobreviver. Trabalho para o iFood, não tenho como escolher. O iFood vai mandar a rota para mim e eu vou ter que ir lá e fazer, cumprir o meu papel”, pontua.
Após a discussão registrada em vídeo, ele conta que ficou mais um tempo no local e depois voltou para casa. “Ali é o ponto de motoboy para beber água, para carregar celular, usar o banheiro. Não tem outro ponto. Os seguranças do shopping falaram que eu agi bem em não ter me exaltado com ele, que ali é para isso mesmo, um apoio para os motoboys. Então, não entendi onde ele queria chegar com aquilo, era só para me humilhar e pronto? Para dizer que é o cara?”, desabafou.
Para ele, a classe de entregadores de aplicativo “é mal vista pela sociedade”. “Tem certos condomínios mesmo em que a gente é tratado como se fosse ladrão. Você só vai entrar se tem contatos. Tem que falar que é pai de família e está trabalhando. É constrangedor. A gente é muito mal visto, a verdade é essa.”
Agora, Everton pretende tomar providências jurídicas em relação ao ocorrido nesse final de semana. “Meus colegas me orientaram a procurar um advogado. Fiquei de ir resolver isso hoje […] porque ele fez isso comigo hoje, mas amanhã pode fazer com outros”, concluiu.
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