A Norte Energia quer transformar em cinzas mais de 3,5 mil metros cúbicos de madeira que foi derrubada da floresta amazônica na época da construção da usina de Belo Monte. A decisão de usar milhares de árvores nobres, incluindo espécies em extinção e protegidas por lei federal para alimentar os fornos da Siderúrgica Norte Brasil S.A. provocou a reação do Governo do Estado do Pará, que reagiu com indignação ao plano da concessionária e prevê adotar medidas legais para evitar que o material seja queimado.
A denúncia sobre a intenção de queimar a madeira da Amazônia foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que recebeu solicitação da empresa para queimar a madeira. Responsável pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, a empresa pediu autorização ao Ibama para utilizar a madeira retirada durante as obras da usina para “fins energéticos”, segundo confirmou o Ibama, o que confirma a tese levantada pelo jornal de que todo o material será transformado em carvão.
“O Governo do Pará informa que tomou conhecimento do caso através da denúncia do jornal O Estado de São Paulo e que considera inadmissível esta agressão aos nossos recursos naturais. O Estado vai buscar, por meios legais, receber as madeiras para dar uma destinação social, tendo em vista a prioridade do recurso para a construção de moradias, pontes, espaços públicos, entre outros”, respondeu a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas/PA), em nota encaminhada às redações.
Na reportagem publicada pelo Estadão na última quinta (23), a Norte Energia informa ter enviado ao Ibama, no dia 1º de setembro, pedido para solicitar o “uso de madeira para fins energéticos”. Nesse pedido, a empresa diz que fez um levantamento sobre as “condições físicas dos estoques de toras nos pátios de madeira” da usina, entre dezembro de 2020 e abril deste ano, e chegou à conclusão de que possui “3.502,40 m³ de toras de madeira, estocadas em pátio, que ainda apresentam condições de utilização”.
A utilização confirmada pela própria Norte Energia é para o abastecimento como combustível para alimentar os fornos da siderúrgica Sinobras, que é uma das sócias da Norte Energia, conforme nota repassada ao Estadão: “A empresa Sinobras - Siderúrgica Norte Brasil S.A. contatou a Norte Energia, demonstrando interesse no aproveitamento de toda a madeira situada nos pátios da UHE (usina hidrelétrica) Belo Monte para a produção de biorredutor energético, destinado ao processo fabril de siderurgia da empresa”, informa O Estado de S. Paulo.
SEM USO
Para o Governo do Estado do Pará, a utilização deve ser social, como a estrutura para construção de casas populares, a construção de móveis, artesanato ou qualquer outra estrutura que demande madeira - finalidades comuns para árvores nobres.
A retirada da vegetação em Belo Monte, em 2015, foi autorizada pelo Ibama, e portanto, foi feita de forma legal e com acompanhamento das autoridades responsáveis. Mas, todo material extraído deveria ter sido catalogado e devidamente destinado, seja por meio de doações ou utilização na própria obra. Porém, milhares de troncos estão há mais de seis anos apodrecendo a céu aberto, sem nenhum uso.
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