A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está ouvindo 190 pessoas em dois processos para apurar irregularidades da operadora Prevent Senior no atendimento a pacientes com Covid-19. A rede enviou à agência na última sexta-feira (24) informações adicionais solicitadas durante diligências na sede da empresa.
A Prevent Senior entrou na mira da CPI da Covid após um dossiê assinado por 15 médicos apontar graves falhas no atendimento.
Segundo o documento, os hospitais da rede eram usados como laboratórios para estudos com o chamado kit Covid, conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da doença. De acordo com o relato, os pacientes e seus familiares não eram informados sobre esse tipo de tratamento.
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Uma das denúncias mais graves apresentadas é a de que havia um protocolo para a alteração do chamado CID (Código Internacional de Doenças), para que a Covid-19 fosse retirada dos registros dos pacientes após uma certa quantidade de dias de internação.
Diante dos fatos denunciados, a ANS, que regula os serviços de planos de saúde no Brasil, abriu dois processos para investigar a operadora.
O primeiro apura eventual falha de comunicação aos pacientes sobre os riscos do uso dos medicamentos do kit covid. Segundo a agência, já foram realizadas ligações para cem pacientes identificados em documentos recolhidos na operadora como beneficiários que receberam o coquetel de remédios.
O segundo processo apura se houve restrição, por qualquer meio, à liberdade do exercício de atividade profissional dos médicos. Foram enviados ofícios para cinco médicos identificados em processo, para apuração de como se dá a prescrição do tratamento precoce.
Também foram enviados ofícios para outros 85 médicos que trabalham ou trabalharam no atendimento da linha de frente da Covid.
Em nota, a ANS afirma que os resultados da diligência, assim como a análise das informações enviadas pela operadora na sexta-feira, vão subsidiar possíveis medidas da agência contra a empresa. O órgão diz, ainda, que aguarda retorno ao ofício enviado à CPI da Covid solicitando informações que possam colaborar para as apurações.
Na última semana, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, afirmou em depoimento à CPI da Covid que a operadora adotou procedimento para alterar o código de diagnóstico dos pacientes com Covid-19. A operadora argumenta que era apenas um procedimento interno, burocrático, e que não afetaria a notificação.
No entanto, especialistas e integrantes da CPI sustentam que se tratava, sim, de uma forma de fraude e que isso traria impacto na quantidade de infectados e vítimas da doença, no balanço geral.
O médico Walter Correa de Souza Melo, que relatou ter sido ameaçado pelo diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, também afirmou durante a conversa telefônica entre os dois que o prontuário do óbito do médico negacionista Anthony Wong foi manipulado.
O objetivo da alteração, segundo Melo, seria não deixar constar a Covid-19 como causa da morte do pediatra e toxicologista, que morreu, aos 73 anos, no dia 15 de janeiro deste ano. O médico era um dos principais defensores do chamado tratamento precoce.
A Prevent divulgou em abril do ano passado um estudo sem autorização da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), afirmando que o uso combinado de hidroxicloroquina e azitromicina reduziria as internações em pacientes com suspeita de Covid.
No entanto, em entrevista à Folha, o presidente-executivo da Prevent, Fernando Parrillo, admitiu que esse estudo não prova que a hidroxicloroquina ajude no tratamento contra a Covid.
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