O ano de 2021 vem sendo, sem dúvidas, um dos mais difíceis para os brasileiros, principalmente quando se avalia o quanto o custo de vida aumentou. Alimentação mais cara, o valor da conta de luz disparou e os combustíveis sofreram constantes reajustes. Fazer supermercado parece ter virado um sinônimo de "assalto" que esvazia o bolso do consumidor que reduziu a lista de compras, mas continuou pagando, mês a mês, valores cada vez mais altos. Tudo o que está relacionado ao dólar, disparou de preço. E o pior: as projeções indicam mais aumentos em 2022.
Especialistas apontam que a conta de luz será a maior vilã para os consumidores no próximo ano. Embora as chuvas tenham melhorado o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas nos últimos meses, o volume atual não deve ser suficiente para garantir um 2022 livre de preocupações no setor elétrico.
Em novembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu manter a bandeira tarifária de Escassez Hídrica, com valor adicional de R$ 14,20 a cada 100 quilowatt-hora consumidos. Isso equivale a um aumento de 6,78% na conta de luz em relação à bandeira vermelha patamar 2, de R$ 9,49 a cada 100 quilowatt-hora.
A previsão do Ministério de Minas e Energia e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é que o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, considerado a “caixa d’agua do setor elétrico, alcance 58% de armazenamento até maio de 2022. Para o Sistema Interligado Nacional (SIN), a expectativa de armazenamento é de 34% até o final deste mês. Atualmente, entretanto, o nível nesta região encontra-se em 20%.
“Terminar o ano em nível de 20% não é um número que tranquiliza, então, em 2022, a gente vai continuar tendo emoções no setor elétrico. Temos que esperar pra ver como vai ser essa chuva no período úmido para saber se começamos o período seco, em abril, com níveis adequados [de armazenamento”, destacou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
O diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, afastou o risco de racionamento e declarou que a experiência das ações aplicadas em 2021 trazem mais eficiência e segurança para enfrentar o próximo ano. “Dependendo das chuvas, podemos ter um ano de 2022 com maior ou menor tranquilidade. Com o cenário de hoje, não vemos nenhuma possibilidade com relação a racionamento ou apagão causado por questões hídricas”, disse.
O fator Covid
Para o professor Roberto Ellery, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), no geral, a variação dos preços dos insumos vai depender de quatro itens: a pandemia do novo coronavírus, a velocidade com que as empresas vão se reestruturar após o choque de 2020 e 2021, causado pela Covid-19, o câmbio e as políticas públicas. “Especificamente em relação ao Brasil, destaco que o Banco Central vem ajustando os juros, o que ajuda a controlar a demanda e segura o câmbio, e pode ocorrer um alívio da crise hídrica reduzindo a pressão no preço da energia”, frisou o especialista.
Carne bovina
A Companhia Nacional de Abastecimento projeta um cenário melhor em relação ao valor da carne bovina. Bem como o dólar, a demanda chinesa, a valorização do real e o aumento da produção agropecuária deixam uma boa perspectiva para o próximo ano. A redução do câmbio é outro fator que pode reduzir os preços.
Segundo Sérgio De Zen, diretor-executivo da companhia, o cenário é promissor. Para 2022, a estimativa é de uma safra de 289 milhões de toneladas, crescimento próximo de 19% em relação à safra deste ano, já precificando intempéries climáticas e adversidades normais.
Um dos fatores decisivos para a alta da carne bovina foi o embargo de exportação da China, que é o maior consumidor do mundo de carnes importadas do Brasil. Suspensa de outubro até dezembro deste ano, a exportação para o gigante asiático foi retomada e fez com que os valores voltassem a disparar.
“A retomada das exportações para a China é um outro ponto que pode trazer novos aumentos para a carne. O real segue muito desvalorizado e isso aumenta o apetite de outros países por produtos brasileiros porque nossa moeda mais barata fica competitiva, então nossos produtos ficam com menor preço. Isso aguça o aumento das exportações. Aumentando o volume de exportação de carne, desabastece o mercado brasileiro e isso força o aumento de preços”, detalhou o economista e professor André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Gasolina
Como apontou a Agência Nacional de Petróleo (ANP), no último sábado, na semana de 12 a 18 de dezembro, o preço médio do combustível nos postos foi de R$ 6,67. Entre os dias 21 e 27 de novembro, três semanas antes, o valor era de R$ 6,74. Para o primeiro trimestre de 2022, a ValeCard, empresa especializada em soluções de gestão de frotas, estima uma queda acumulada de 5,94%.
No entanto, a empresa projeta que os valores voltarão a crescer de abril a setembro do ano que vem. O especialista André Braz concorda com o respectivo aumento, mas destaca que entre a gasolina, a carne e a energia elétrica, não dá para prever em qual item a inflação mais pesará.
Gasolina a R$ 2,80 e Dilma ano1. Como era o Brasil em 2011
“A parte dos combustíveis aparentemente deve subir. A gente sabe que o preço do barril do petróleo caiu pelos riscos de paralização da economia internacional, com o aparecimento da [variante] Ômicron. A variante não ser tão perigosa quanto pareceu, pode estimular a retomada do preço do petróleo que caiu em função desse tipo de risco”, salientou o especialista.
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