A próxima sexta-feira (11) dará fim à expectativa de cerca de três milhões de estudantes que se inscreveram para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2021) em todo o Brasil, sendo no Pará, desse total, 228.570 para a versão impressa e 600 para a versão digital. O Instituto nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgará os resultados finais do exame para quem participou da edição nos dias 21 e 28 de novembro do ano passado e da reaplicação, nos dias 9 e 16 de janeiro deste ano, já tendo concluído o Ensino Médio. As notas dos “treineiros” só serão informadas 60 dias após a divulgação do resultado do dia 11.
Um bom resultado no Enem credencia os estudantes a buscar acesso aos programas do Ministério da Educação (MEC), como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), Programa Universidade para Todos (ProUni) e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Além disso, mais de 50 universidades, institutos politécnicos e escolas superiores de Portugal têm acordo com o Inep para garantir o acesso de estudantes brasileiros a cursos de graduação no país europeu.
Para quem realizou a prova, a divulgação da nota é motivo de ansiedade. Afinal de contas, o bom desempenho começa a desenhar um futuro profissional. É isso o que espera a estudante Raquel dos Santos Soares, 21 anos, que tenta obter uma nota alta desde 2019, ou seja, há três edições do Enem.
“Meu primeiro ano de cursinho foi bem difícil porque eu vim de escola pública e estudei no interior, vim de Anapu (sudeste do Pará), então vim bem defasada”, considera. “No segundo ano que eu fiz Enem, eu já estava no terceiro ano do Ensino Médio e fazia cursinho também, como bolsista, aí já me saí muito bem”, diz. “Nesse ano eu passei pela primeira vez na universidade pública, a Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), em Biologia. Cheguei a passar na universidade privada também, em outros cursos”, conta.
A aprovação com as notas do Enem se deram para três cursos, engenharia de pesca, engenharia hídrica e engenharia mecânica, mas o que Raquel sonha mesmo é com uma vaga no curso de medicina, que exige a excelência em notas de todas as provas. “Desde que comecei a fazer o Enem, coloquei outros cursos porque não entendia direito como funcionava o mecanismo do exame, e fui me inscrevendo em vários cursos, acabei passando, mas não em medicina, que é o que eu sempre quis, sempre sonhei”, admite.
EXPECTATIVA
Com a chance de obter a almejada vaga nesta edição, Raquel se mostra dividida entre a esperança e o medo. “Com relação à nota, tenho uma boa expectativa, mas um pouco de medo por conta da TRI (Teoria da Resposta ao Item), que às vezes você acerta muitas questões, mas a sua nota diminui”, cita, sobre o sistema de correção das provas.
“Isso aí dá um pouquinho de medo, mas eu fiz uma boa prova. Com relação às provas, a do primeiro dia, que foi linguagem e humanas, linguagem principalmente eu achei muito cansativa, muito grande, uma linguagem muito rebuscada, a nível acima de médio, muito formal”, lembra. “Humanas achei bem técnica, bem objetiva, não era como nos outros anos que vinha uma prova de interpretação, foi bem conteudista mesmo. No segundo dia, gostei muito de biologia, objetiva, caiu bastante botânica. Química estava razoável. Matemática que é meu calcanhar de Aquiles, mas também não estava ruim, uma prova bem mediana”, considera.
Para Raquel, alcançar a nota alta significa coroar um esforço de anos. “Vim do interior estudar, longe de pai, mãe, de todo mundo. Foi um pouco difícil a adaptação, passa uns perrengues, mas é assim mesmo”, avalia.
“Com a pandemia, voltei pro interior para ficar com meus pais, fiquei estudando lá todo 2020, isso me atrapalhou um pouco porque faltava energia, internet, enfim, todo tipo de coisa que se possa imaginar, meu rendimento caiu um pouco”, conta. “Aí voltei pra Belém em 2021, para continuar fazendo cursinho. Ficava estudando pela manhã no cursinho e depois em casa até a noite, acordava de madrugada para estudar”.
A descrição do sacrifício também vale para os dias do exame. “É uma prova que ainda tem muitos desafios a serem supridos. É muito cansativa, desgastante, com questões muito grandes, que poderiam ser mais objetivas. Às vezes, a gente se perde no Enem por conta do cansaço, do nervosismo, que é muito tempo lendo a prova, que é muito grande”, critica.
PARA VALER
Outra estudante que também é do interior do Estado e aguarda para saber como se saiu no Exame Nacional do Ensino Médio é Fernanda Mendonça, de 19 anos, moradora de Colares, no nordeste paraense. “Já fiz o Enem por duas vezes, em 2019 por experiência e agora, em 2021, pra valer”, explica.
“Como fiz em 2019 pra ganhar experiência, essa de 2021, apesar do nervosismo, tentei aplicar tudo que estudei durante o ano todo, mesmo nervosa. Eu me inscrevi em medicina na UFPA (Universidade Federal do Pará) e em fisioterapia na Uepa (Universidade do Estado do Pará)”, conta. “São os dois cursos que eu mais me identifico. Espero que minha nota atenda os requisitos para os cursos que eu quero fazer”.
Fernanda pontua que achou o primeiro dia de provas surpreendente. “Atendeu muito dos assuntos que estudei, mas outros assuntos que passei muito tempo estudando não caíram, isso foi um pouco desesperador”, relata. “Com certeza, a prova mais difícil foi a do primeiro dia, por conta do tema da redação ser muito bom, mas não ser abordado de forma tão clara pra gente”, considera, sobre o tema ‘Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil’.
Sobre a rotina de estudos, a estudante descreve um dia a dia comum a quem sabe que só ao se debruçar nos livros e apostilas é que a chance de uma boa nota vem. “Foi uma rotina de preparação muito intensa, estudei demais, tive que me abster de muita coisa para me dedicar a um sonho, meu objetivo, então eu espero que eu consiga
realizar”, afirma.
“Ao meu ver, como estudante de escola pública a vida toda, o Enem não é uma forma justa de ingressar na universidade. Por conta que quando eu fui fazer cursinho particular, me dei conta que muitos dos assuntos que o Enem aborda eu não tinha visto, e se tinha visto, foi de modo muito superficial”, lamenta. “Foi um ano para aprender muita coisa, relembrar muita coisa, que nem todos os estudantes de escola pública têm a chance de fazer, de estudar num cursinho particular, ter todo esse amparo”.
"Tenho boas expectativas"
Dos estudantes entrevistados para esta reportagem, Manuel Vitor Azevedo é o mais novo, com somente 17 anos de idade. A edição de 2021 do Enem foi a primeira que o jovem de Belém fez para valer, apesar de já ter prestado o exame outras duas vezes como “treineiro”. “Das vezes anteriores, acredito que me saí dentro do esperado para um aluno de 1°/2° ano do Ensino Médio que ainda não possuía todos os conhecimentos necessários maturados para fazer a prova de maneira satisfatória”, ressalta.
Dessa vez, Manuel Vitor mira a UFPA como primeira opção no curso de medicina, o mais difícil de obter vaga, mas nada que o desanime. “Tenho boas expectativas. Acho que a minha preparação foi boa com relação à absorção de conteúdos e penso que consegui traduzir esses saberes para as questões da prova”.
Apesar do otimismo, o candidato a calouro também tece suas críticas em relação ao exame coordenado pelo Inep. “O Enem é sempre uma prova muito cansativa e que exige bastante do aluno que vai prestar o exame”, diz. “Por conta disso, e pelo tempo relativamente curto para a realização dos itens, as provas se tornam bastante trabalhosas e necessitam da mínima atenção aos detalhes de cada questão”, detalha. “Todavia, acredito que com a minha formação do Ensino Médio voltada para fazer a prova da maneira mais eficiente possível, facilitou bastante esse processo e tornou as provas menos trabalhosas”.
QUESTÕES
O receio de Manuel fica por conta da grande quantidade de questões que teve de resolver em um tempo nem sempre ideal. “Acredito que a prova de Linguagens, Humanas e Redação foram mais difíceis, por causa de deslizes com o tempo que eu cometi durante a prova, que me forçaram a acelerar a resolução de questões e cometer alguns erros que eu não teria feito se tivesse utilizado meu tempo de uma forma mais eficiente”, lamenta.
Com uma rotina que variava entre as aulas da escola, cursos específicos e o estudo em casa, Manuel Vitor também não acha o Enem uma prova justa. “Apesar de o Enem ser, de modo objetivo, uma prova que dá oportunidades iguais a todos, eu não acredito que a educação brasileira fornece a base necessária para que todos consigam ir bem na prova”, observa. “Mesmo com o sistema de cotas, que atenua essa situação, ainda há uma clara disparidade entre os candidatos, principalmente entre aqueles que estão em condições de pobreza e marginalizados na conjuntura social”.
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