Para quem está planejando viajar em breve, o setor tem uma boa e uma má notícia. Comecemos pela melhor parte: com o avanço da vacinação contra a Covid em diversos países, e passado o susto inicial com a variante ômicron, está ficando mais barato viajar.
Nos últimos meses, governos começaram gradualmente a reduzir a lista de exigências sanitárias para turistas com esquema vacinal completo. Entre eles, está o Brasil –em 1º de abril, o governo suspendeu a exigência de apresentação de teste negativo de Covid, assim como o preenchimento da Declaração de Saúde do Viajante (DSV), para entrar no país. Agora, basta apresentar o comprovante de vacinação na hora do embarque.
A notícia é boa porque a burocracia sanitária para viajar vinha pesando no orçamento, sem contar a dor de cabeça para cumprir todas as exigências.
"Virou um negócio estressante, papel para tudo o que é lado, mil formulários e testes. E cada país tem uma regra, que muda a toda hora", reclama o engenheiro Daniel Mayo, 49, que deixou o Brasil diversas vezes durante a pandemia, a lazer e a trabalho.
Na ida para Miami, em maio de 2021, Mayo, a mulher e os dois filhos, de 12 e 16 anos, foram obrigados a cumprir 15 dias de quarentena em Punta Cana –na época, os Estados Unidos não permitiam a entrada de viajantes oriundos diretamente do Brasil, norma que foi suspensa em 8 de novembro de 2021.
Em janeiro, ele e a filha se programaram para esquiar no Canadá, mas as fronteiras foram subitamente fechadas, fazendo a dupla trocar a neve por mergulhos em Belize, no Caribe. "Fizemos teste PCR antes de embarcar. Na chegada, repetimos umas 500 vezes o ritual de medir a temperatura e apresentar o resultado negativo junto com o comprovante de vacina."
O preço dos testes na Europa assustou a designer de interiores Denise Abdalla, que esteve em Londres em outubro de 2021, a trabalho. Além do PCR realizado no Brasil, a R$ 280, ela precisou agendar outro na capital inglesa, que deveria ser coletado nas primeiras 48 horas. O resultado foi enviado por email diretamente às autoridades.
"Paguei 100 libras [o equivalente a R$ 622], uma verdadeira fortuna. Antes de deixar o país, precisei refazer o teste, mas pelo menos encontrei um lugar mais barato, que me cobrou 80 libras [R$ 498]."
Desde o início da pandemia, a fundadora da Venice Turismo, Andrea Schver, desenvolveu um serviço a mais para seus clientes: uma espécie de suporte-Covid, que inclui todas as informações referentes à burocracia de cada destino e até lembretes para os dias e horários certos de coleta dos testes.
"Em fevereiro, um cliente saiu de São Paulo para ver o Palmeiras disputar a final do Mundial de Clubes, em Dubai, mas passou antes pelos Estados Unidos, para buscar o filho. Foram tantas exigências que precisei elaborar uma tabela de Excel para ele", conta a agente.
Não por acaso, a retomada do turismo doméstico superou o internacional, segundo Daniela Araújo, diretora de Sourcing Air da Decolar.
"Um turista que visitasse dois países europeus estava gastando de 300 a 400 euros por pessoa [de R$ 1.576 a R$ 2.100]. Podia não ser um custo impeditivo, mas era restritivo. Com a queda das exigências, já vemos novamente a curva da demanda por passagens voltar a subir."
Agora, a má notícia: segundo levantamento do buscador de sites de viagem Kayak, entre fevereiro e março de 2022, os preços das passagens aéreas aumentaram de 12% a 45%, conforme o destino.
De acordo com as companhias aéreas, a culpa é da guerra na Ucrânia, que fez o preço do barril de petróleo disparar –a Latam, por exemplo, explica que suas passagens estão até 30% mais caras devido à alta do querosene de aviação.
Presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz prevê uma fase de turbulência para o turismo. "A consequência desse repasse levará a uma retração da demanda e várias companhias estão planejando mudanças em suas malhas."
Destinos mais remotos, onde os voos raramente chegam e partem lotados, assim como as rotas ponto a ponto, que se valem de aeronaves pequenas e exploram aeroportos de cidades pequenas, devem ser os mais prejudicados.
"O impacto é imediato sobre todo o setor, especialmente sobre os destinos mais dependentes do transporte aéreo, como o Nordeste, já que boa parte da clientela sai do Sul e do Sudeste. Se o sujeito não voa, ele também não chega ao hotel, não come no restaurante nem vai ao museu", diz Sanovicz.
Pela complexidade do cenário internacional, ninguém sabe ao certo quanto tempo a crise do petróleo vai durar. Para quem, apesar disso, não abre mão da viagem, Daniela Araújo tem duas dicas.
Em primeiro lugar, aposte nos pacotes que unem aéreo, hotel, passeios, aluguel de carro e até seguro –eles proporcionam economia de até 35%. Depois, evite fazer planos de última hora. "Agora, é hora de se programar para o segundo semestre."
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