Menos de dez minutos após protestarem contra apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma motociata nesta quarta-feira (7) em Copacabana, oito jovens negros foram retirados de um ônibus da linha 474 (Jacaré x Copacabana) e revistados por três policiais militares do Batalhão de Choque. O presidente chegava à orla da praia da zona sul carioca para atos militar e de apoio a ele.
Uma testemunha gravou em vídeo toda a ação. A identidade dos rapazes ainda é desconhecida. Também não se sabe o motivo pelo qual o coletivo foi parado pelos agentes de segurança -cujo efetivo foi reforçado em razão dos atos convocados pelo presidente em Copacabana. A imagem do protesto no ônibus -fotografada pela reportagem do UOL- viralizou nas redes sociais.
A reportagem procurou a Polícia Militar para saber o motivo de apenas os jovens terem sido revistados e se houve apreensões ou prisões na abordagem, mas a corporação não respondeu.
A PM afirmou apenas que foram detidos, em Copacabana, "um homem com um celular roubado e outro tentando roubar também um celular". Em nota, a Polícia Militar concluiu que, "fora isso, a mobilização transcorreu de forma pacífica".
Em quase sete minutos de vídeo, três policiais do Choque aparecem revistando os oito jovens. No ônibus, havia outros passageiros que não foram revistados -alguns deles saíram do veículo durante a abordagem.
A reportagem confirmou ser o mesmo grupo a partir do número de série do ônibus, das roupas que os jovens vestiam e do local da abordagem, na rua Barata Ribeiro sentido Ipanema.
Pouco antes da abordagem, os mesmos agentes haviam bloqueado o trânsito da via para a passagem de Jair Bolsonaro e seus apoiadores em motos. O presidente já havia passado quando a reportagem gravou o protesto dos passageiros do ônibus.
Dois dos jovens ficam à direita da porta traseira e os outros seis, à esquerda. O vídeo mostra que os policiais revistaram roupas, mochilas, tênis, alimentos e celulares.
O vídeo começa com todos eles com as mãos na lateral do ônibus e de costas para os policiais. Primeiramente, os policiais fazem uma revista padrão -checam os bolsos das bermudas e as roupas dos rapazes à esquerda da porta. Depois, um policial revista o interior dos tênis de dois deles.
Enquanto isso, outro policial entra no ônibus e sai após pouco mais de um minuto. Ninguém mais é chamado para a revista.
Nesse momento, um terceiro policial abre a mochila de outro rapaz (um dos dois à direita da porta) e retira todo o conteúdo para revista. As imagens capturam alimentos como biscoito, leite e arroz.
Já virados de frente para os policiais, dois jovens têm seus aparelhos celulares esmiuçados. Um policial abre fotos e aplicativo de mensagem de um deles. O outro pede para que um dos rapazes mostre conteúdos no aparelho, mas não é possível ouvir os pedidos.
Enquanto isso, a mochila de outro jovem é revistada -também com alimentos. Ele apresenta sua carteira de trabalho, que é entregue a um dos policiais.
Neste momento, o vídeo encerra. A testemunha que gravou as imagens contou à reportagem que, após a checagem de informações do dono da carteira de trabalho, houve revista também nos telefones da dupla à direita da porta e só aí os policiais começaram a pedir a identificação de todos.
Pela descrição da testemunha, os policiais fizeram o chamado "sarqueamento", no jargão policial, que é o procedimento de verificar se há mandados de prisão ou alguma pendência judicial atrelada a um cidadão no SarQ (Serviço de Arquivo) da Polícia Civil.
A HISTÓRIA DA FOTO
Antes de os rapazes serem revistados pelos PMs, eles passaram alguns minutos vaiando a motociata capitaneada por Bolsonaro.
Das janelas do ônibus, que estava chegando a Copacabana, eles xingaram, fizeram gestos obscenos e o "L" em alusão ao ex-presidente e candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Um deles repetia: "é Lula".
A motociata passava pela rua Barata Ribeiro porque, após trafegar por um trecho da avenida Atlântica, foi necessário sair da orla devido ao alto número de apoiadores de Bolsonaro na via.
À frente da motociata, policiais do Choque -mesmo batalhão que revistou os jovens- abria o trânsito e pedia para que carros e ônibus aguardassem a passagem.
A reportagem acompanhava a motociata na garupa, com serviço de moto fretado e pago com recursos próprios do UOL.
Ao longo do trajeto -a motociata partiu do Aterro do Flamengo-, Bolsonaro foi saudado por apoiadores, mas também alvo de outros protestos, como na praia do Flamengo e em outros pontos de Copacabana.
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