O uso de veículos elétricos nas ruas dos grandes centros urbanos já é uma realidade, sejam carros, motocicletas, bicicletas, patinetes. Ao mesmo tempo em que a eletromobilidade se torna cada vez mais presente no cotidiano, grandes empresas mundiais investem de forma crescente na produção e comercialização de veículos elétricos. Mas será que este cenário é o indicativo de que o futuro da mobilidade é a propulsão elétrica?
Para o editor do Mobilize Brasil, portal brasileiro de conteúdo exclusivo sobre Mobilidade Urbana Sustentável, Marcos de Sousa, esta perspectiva já está dada. Porém, não se pode deixar de refletir e considerar os desafios que a eletromobilidade ainda enfrenta. “Até os anos 30 havia vários veículos elétricos circulando pelo mundo, inclusive pelo Brasil, que eram veículos que usavam baterias de chumbo ácido, baterias tradicionais, mas com o crescimento da indústria do petróleo os carros a combustão ganharam mais espaço”, rememora. “Hoje, a gente tem de novo a ideia dos veículos elétricos montados com baterias e aí vai desde pequenos veículos como as bicicletas e as bicicletas de carga, até caminhões de grande porte, navios e mesmo alguns aviões que estão sendo desenvolvidos utilizando motores elétricos e baterias. Então, tem um potencial grande e que no caso do Brasil, pela grande oferta de energia que a gente tem, energia gerada primeiro por hidrelétricas, mas também pela possibilidade de geração de energia eólica e fotovoltaica, o potencial é incrivelmente bom. Seria, sim, uma boa alternativa para o Brasil, mas esbarra em questão de custo, em questões de ofertas de estações de recarga”.
Diante desse período de transição para a mobilidade elétrica, Marcos aponta que é importante aproveitar o momento para repensar toda a mobilidade. Ao invés de a sociedade e o mercado continuarem investindo na ideia de que cada pessoa precisa ter um automóvel, que deixará de ser a combustão e passará a ser elétrico, é preciso considerar que, já que terá que se fazer essa transição, seria melhor fazê-la pensando em veículos coletivos, buscando reduzir o uso do veículo individual. “Seria bem interessante que isso seja pensado sempre na perspectiva de que, já que tem que fazer a transição, fazer uma transição privilegiando o transporte coletivo de qualidade, com uma oferta e um conforto maior e com um custo também adequado. Parece difícil tudo isso, mas como para fazer essa transição nós vamos ter que movimentar uma máquina enorme de colocação de estações de alimentação, de talvez uma oferta maior de energia, então talvez seja melhor pensar a longo prazo, pensando em fazer BRTs com ônibus elétricos de qualidade, ou VLTs que são veículos sobre trilhos também elétricos e pensando em 50 a 100 anos, algo de longuíssimo prazo, já que a gente sabe que o automóvel ocupa muito espaço e gera uma série de outras consequências que vão além da poluição atmosférica, então, o congestionamento de veículos elétricos vai ser igual ao de automóveis a combustão”.
Descarte de baterias e possíveis soluções
Ainda que o caminho seja bom, Marcos aponta outro desafio que precisa ser pensado em relação à eletromobilidade, a destinação das baterias que resultarão desses veículos. “É inegável que nós precisamos mudar a maneira como nós movemos os nossos veículos. Você tem uma necessidade local, pela redução de ruído nas cidades e, sobretudo, de poluentes que geram problemas para a saúde das pessoas, mas além disso tem o aspecto universal que é a necessidade de redução de Gases de Efeito Estufa com todas as suas decorrências para o clima. Então, é inegável que é preciso mudar, agora, a maneira como isso vai ser feito e a escolha exata do meio de mobilidade que vai ser utilizado ainda é uma discussão porque a eletromobilidade está muito baseada, hoje, em baterias de lítio, que, de um lado, colocam desafios na sua produção pela maneira como o lítio é extraído, que acaba gerando impactos ambientais”.
O impacto ao meio ambiente é grande tanto no que se refere à produção das baterias, até pela necessidade de extração dos minerais que são usados na fabricação, quanto em relação ao descarte. O que se observa, hoje, é potencial problema com as baterias que serão descartadas daqui há uma década pelo mundo todo. “O que se sabe, hoje, é que uma bateria de automóvel ou de ônibus pode durar de 10 a 15 anos. Depois desse período ela poderia ser utilizada ainda como uma bateria estacionária, ou seja, como uma bateria que vai ficar, por exemplo, para alimentar luzes de emergência em algum lugar”, aponta o jornalista. “Agora, chega um momento que essa bateria morre inteiramente e não se sabe muito bem, ainda, o que fazer, como extrair esse lítio para que ele possa ser reciclado, então, existem algumas empresas startups nos EUA e Europa que estão tentando encontrar maneiras de reciclar esse lítio de maneira a tornar essa produção menos impactante, mas isso não está resolvido”.
Agora, é claro que a eletromobilidade não precisa, necessariamente, passar pelo uso intensivo de baterias. Uma possibilidade apontada pelo editor do Mobilize é a geração de energia elétrica a partir de células de combustíveis, sendo as células de hidrogênio as mais conhecidas. De todo modo, são possibilidades que precisam ser pensadas e em um planejamento de longo prazo. “Junto com essa tendência de vender o veículo elétrico, tem também quase uma pressão de indústrias como a da China de vender células fotovoltaicas e, como o Brasil tem uma grande incidência solar, a possibilidade de geração de energia elétrica a baixo custo no futuro está bem dada, então, é uma questão de organizar a nossa economia”, avalia. “Tem um grande potencial, mas qualquer mudança pode trazer grandes benefícios, mas também grandes problemas, então, isso tem que ser feito com muito cuidado e olhando as diferenças regionais, as demandas locais”.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar