Em um ano que ficou marcado pelos retornos elevados e pela demanda crescente dos investidores pela renda fixa, a rentabilidade da poupança ficou na lanterninha entre as principais aplicações financeiras da classe, mesmo sendo isenta de IR (Imposto de Renda).
Levantamento realizado a pedido da Folha por Andrew Storfer, diretor de economia da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), indica que, a despeito da escalada da Selic, que saiu da mínima histórica de 2% ao ano em março de 2021 para encerrar dezembro em 13,75%, a poupança entregou no acumulado do ano um retorno de 7,67%.
O estudo aponta que uma pessoa que tenha aplicado um valor de R$ 1.000 na poupança no início do ano teve de volta um rendimento de R$ 76,70 no período.
O retorno relativamente baixo da poupança em comparação a outras alternativas de investimento na renda fixa ocorre porque a remuneração da aplicação é de 0,5% ao mês sempre que a Selic estiver acima de 8,5% ao ano. Já quando a taxa básica é de até 8,5%, o rendimento da poupança equivale a 70% da Selic.
Especialistas afirmam que, no atual cenário de juros elevados, há alternativas mais atraentes à disposição dos investidores.
Investimento também de baixo risco e alta liquidez, o título Tesouro Selic, que acompanha o rendimento da taxa básica de juros, teve um rendimento em 2022 de 9,49%. Quem aplicou R$ 1.000 no título, disponível para negociação na plataforma Tesouro Direto, teria obtido um rendimento de R$ 94,88 no final do ano, R$ 18,18 a mais do que na poupança.
Já o investimento em um CDB (Certificado de Depósito Bancário) de um banco grande apresentou rentabilidade de 9,44%, retorno que sobe para 11,16% no caso de bancos de médio porte, que embutem um nível de risco mais alto.
As estimativas elaboradas pela Anefac apontam também que as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito Agrícolas), que tem isenção tributária à pessoa física, tiveram rentabilidade média de 11,07% em 2022.
Tanto os CDBs como as letras de crédito e a poupança contam com a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), associação que garante o valor aportado pelo investidor até o limite de R$ 250 mil por CPF e conglomerado financeiro, em caso de eventuais problemas que a instituição emissora venha a sofrer no meio do caminho.
"Quando a gente compara a poupança com outros investimentos que também são seguros e que têm uma remuneração mais próxima da Selic, como os CDBs e as letras de crédito, vemos que a aplicação vai perdendo rentabilidade", afirma o diretor da Anefac.
"Quanto mais tempo o aplicador deixa o dinheiro na poupança, e quanto mais tempo a Selic fica mais alta, menor a rentabilidade da aplicação se comparamos com outras aplicações seguras", acrescenta Storfer.
Em um cenário de juros altos e incerteza política e econômica que aumentou a volatilidade na Bolsa de Valores, dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) evidenciam a predileção dos investidores pela renda fixa em 2022 –os fundos dedicados à classe tiveram captação positiva de R$ 74,5 bilhões, até 30 de novembro. Já os fundos de ações sofreram resgates da ordem de R$ 66,1 bilhões no mesmo intervalo, enquanto os multimercados viram as saídas superarem as entradas em R$ 83,7 bilhões.
Após 2 anos, poupança voltou a ter retorno real positivo em setembro Embora tenha ficado em último lugar dentre as principais modalidades de investimento, a poupança, depois de dois anos, voltou a render acima da inflação em setembro deste ano.
Na ocasião, beneficiada pela deflação registrada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a tradicional aplicação registrou rentabilidade real de 0,02% positivos no acumulado dos últimos 12 meses encerrados em setembro, segundo levantamento elaborado pelo TradeMap. A rentabilidade real considera o quanto o dinheiro rendeu após o desconto da inflação.
A última vez em que o retorno da poupança havia sido positivo tinha sido em agosto de 2020, quando entregou um rendimento real de 0,45%.
Apesar da baixa rentabilidade, os dados mais recentes do BC (Banco Central) mostram que cerca de 164 milhões de pessoas mantinham algum valor depositado na poupança ao final de 2019.
Além disso, pesquisa do C6 Bank/Ipec mostra que a predileção pela poupança alcança também as pessoas de renda mais alta no país.
A pesquisa ouviu mil brasileiros das classes A e B com acesso à internet, e mostrou que a poupança é a opção mais presente nas carteiras. Cerca de 28% indicaram manter algum valor na aplicação.
Em seguida vêm os CDBs, com 22%, e os fundos de investimento, com 16%. Ações (14%), Tesouro Direto (13%), LCIs e LCAs (9%) aparecem na sequência.
De todo modo, dados do BC indicam também que a poupança registrou saque líquido de R$ 7,419 bilhões em novembro, levando o volume de retiradas líquidas no acumulado do ano a R$ 109,496 bilhões, recorde da série iniciada em 1995. O resultado de novembro representou o segundo maior saque para o mês da série, perdendo apenas para novembro de 2021, quando houve retirada de R$ 12,377 bilhões.
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