O crescimento da economia brasileira neste ano deve ficar abaixo da alta de 2,9% acumulada em 2022 pelo PIB (Produto Interno Bruto), dizem analistas. Por ora, projeções sinalizam um avanço próximo de 1% em 2023.
As estimativas mais pessimistas estão associadas principalmente aos impactos defasados dos juros altos, que encarecem o crédito para famílias e empresas. O impacto da política monetária mais restritiva ficou mais evidente a partir da reta final do ano passado, já que o PIB encolheu 0,2% no quarto trimestre.
Foi o primeiro recuo após cinco trimestres no azul, segundo os dados divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Conforme analistas, o fim do estímulo da reabertura econômica após as restrições da pandemia, a desaceleração global e o endividamento das famílias completam a lista de fatores que tendem a frear o PIB em 2023, o primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"O resultado de 2022 foi muito bom, com crescimento forte, mas que não deve se repetir em 2023. Nenhum fundamento mostra que isso vá acontecer ao longo deste ano", diz a economista Juliana Trece, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
"O ano de 2023 deve ser bem mais desafiador. Os juros estão em níveis elevados, o endividamento das famílias bateu recorde", acrescenta.
No ano passado, o PIB foi impulsionado pelo setor de serviços e pelo consumo das famílias. Esse movimento veio após a derrubada de restrições da pandemia.
As medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL) devido às eleições, como ampliação do Auxílio Brasil e cortes de impostos, também provocaram reflexos momentâneos, dizem economistas.
"O último trimestre do ano foi de encolhimento do PIB. Isso mostra que os elementos que fizeram a economia crescer em 2022 não vão repercutir em 2023", avalia a economista Juliana Inhasz, professora do Insper.
"Apesar da alta dos juros, algumas políticas conseguiram estimular a economia, mas não são suficientes para a volta de uma trajetória de crescimento. Não dá para continuar crescendo dessa forma com a população endividada do jeito que está hoje", acrescenta.
Em relatório, a consultoria MB Associados também chama atenção para o recuo do PIB no quarto trimestre de 2022. Segundo a análise, o resultado indica perda de fôlego da economia.
"As razões são relativamente conhecidas: taxa de juros elevada, cenário internacional de alta de juros e desaceleração de crescimento, commodities em baixa, especialmente petróleo e mineração, e fim dos efeitos fiscais da tentativa de reeleição do ex-presidente Bolsonaro", afirma a MB.
A consultoria prevê expansão "pequena" de 1% para o PIB deste ano. "Certamente o efeito marcante de impacto na economia este ano continuará sendo a taxa de juros", diz.
Enquanto o setor de serviços tende a perder fôlego, a agropecuária deve ter destaque positivo em 2023, de acordo com economistas. A projeção está associada à estimativa de safra recorde neste ano, após quebra em 2022.
"Embora não tenha um peso tão alto na economia, a expectativa é que a agropecuária tenha um resultado forte. Produtos importantes como a soja têm perspectiva de crescimento neste ano", aponta a economista Juliana Trece, do FGV Ibre.
O C6 Bank também prevê alta de 1% para o PIB de 2023. Segundo Claudia Moreno, economista do banco, esse desempenho "pode ser um pouco melhor" com o impulso da safra de grãos e dos benefícios sociais que devem ser pagos pelo governo Lula.
Na mediana, analistas do mercado financeiro esperam alta de 0,84% para o PIB neste ano, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC (Banco Central) na segunda-feira (27).
Em fevereiro, a decisão do BC de manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano motivou uma ofensiva de Lula contra o presidente da instituição, Roberto Campos Neto. O petista chegou a dizer que o patamar da Selic é uma "vergonha".
Para a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), a perda de fôlego do PIB ao longo de 2022 "corrobora os desafios aguardados para este ano".
"Embora tenha ocorrido uma ligeira melhora no cenário internacional por causa da reabertura da China e da adaptação, melhor do que a esperada, à crise energética da Europa as condições financeiras apertadas, aqui e no exterior, mantêm a perspectiva de baixo crescimento", diz a entidade.
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