Enraizada na cultura e nas tradições da população amazônica, a Castanha-do-pará guarda um enorme potencial econômico para a região. Um estudo inédito realizado pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA), como a oleaginosa também é chamado em algumas regiões do Brasil, revela que a cadeia de valor da Castanha-do-pará produzida no país movimenta mais de R$2 bilhões por ano e a perspectiva é de que esse número possa ser ainda maior.
O número estimado do montante movimentado pela castanha no Brasil foi mapeado através do trabalho desenvolvido no estudo intitulado “A Castanha-da-Amazônia: Aspectos Econômicos e Mercadológicos da Cadeia de Valor”, porém, a membro da secretaria-executiva do Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA), Julianna Maroccolo, destaca a dificuldade de se chegar a um número exato que traduza a totalidade do potencial do produto e, por isso mesmo, acredita-se que esse montante pode ser ainda maior.
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“O potencial da cadeia de valor da Castanha-da-Amazônia é enorme e difícil de mensurar, pois estamos falando de um produto da sociobiodiversidade de uso múltiplo, coletado essencialmente por povos indígenas e comunidades tradicionais diversos, que ocorre em praticamente toda região amazônica, havendo diferentes contextos de produção, comercialização e acesso à mercado, com transações comerciais historicamente informais e injustas”, considera.
“O estudo faz um recorte apenas do movimento monetário geral dessa cadeia - que, particularmente, acredito ser ainda maior que os R$2 bilhões estimados - e mostra que os extrativistas são o elo com menor margem de lucro”.
Considerando que a castanha tem um enorme peso na economia das famílias extrativistas, chegando a ser a principal ou, até mesmo, única fonte de renda delas, Julianna aponta que é possível imaginar o potencial que o produto ainda tem para a geração de renda e desenvolvimento local e regional. Apesar disso, um alerta importante feito pela pesquisa, e que está entre os principais desafios enfrentados pela cadeia hoje, é justamente a baixa remuneração paga aos extrativistas.
“Temos alguns casos particulares em que os extrativistas são melhor remunerados, mas, infelizmente, são casos isolados, que tiveram muito investimento em organização e gestão comunitária e desenvolvimento de mercado, com um constante apoio de organizações parceiras. O fato é que, de modo geral, os extrativistas recebem muito pouco pelo produto e pelo serviço que prestam”.
Coordenador da rede Origens Brasil no Imaflora e membro do Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA), Luiz Brasi Filho, destaca que a relevância do fruto vai ainda muito além do potencial econômico, se apresentando também como um produto que presta um importante serviço ambiental, uma verdadeira protetora da floresta.
“A cadeia da Castanha-da-Amazônia, ou Castanha-do-Brasil, ou ainda Castanha-do-pará, é fundamental para o fortalecimento da bioeconomia no Brasil. Ela é saudável, é protetora de florestas, de culturas e tradições e tem um papel fundamental para essa bioeconomia. Ela gera milhares de empregos na Amazônia, ocupação e renda, e essa movimentação anual de mais de R$2 bilhões com atributos raros e que deveriam ser mais valorizados em todo o planeta”, reforça.
PRODUTOS
“Existem vários produtos do extrativismo, mas dentro da cesta de nuts (de nozes, amêndoas, etc) a Castanha-da-Amazônia é o único produto nativo de florestas tropicais produzidos por povos indígenas e populações tradicionais”.
Também entendendo que a movimentação econômica da cadeia da castanha poderia ser maior do que os R$2 bilhões, ele considera que o país ainda precisa vencer alguns entraves importantes. “Precisamos aumentar a fiscalização e o comando e controle na Amazônia brasileira, ainda há muita invasão de atividades ilegais e predatórias em terras indígenas, unidades de conservação ou em áreas de castanhais e isso prejudica a produção, então, políticas de fiscalização e controle são fundamentais para o fortalecimento dessa cadeia, bem como políticas públicas fundiárias para destinação de terras ainda não destinadas onde se encontram também muitos castanhais”, exemplifica.
“Precisamos melhorar a infraestrutura produtiva e comercial e logística na Amazônia, o custo Amazônia ainda é muito alto para escoar essa produção”.
Outro ponto fundamental para fortalecer esse mercado, segundo Luiz Brasi Filho, é o fortalecimento da gestão das associações e cooperativas. Um gargalo que precisa ser superado a partir do incentivo de políticas públicas e do fortalecimento de organizações que dão suporte a essas associações.
“A castanha in natura é comercializada, nesse formato, principalmente pelas populações tradicionais e povos indígenas ainda na floresta, mas ela é enviada para dois tipos de usinas: usinas privadas e usinas de bases comunitárias, que são as usinas das associações ou das cooperativas de produtores”, explica.
“Um ponto importante é que precisamos de políticas públicas e incentivo para fortalecer as usinas de base comunitária, trabalhar na gestão, financiamento, capital de giro, fortalecimento do empreendedorismo e formação dos profissionais que atuam nessa gestão, muitas vezes formados pelas próprias populações tradicionais e povos indígenas, para que a gente consiga formar cada vez mais pessoas empreendedoras na floresta, agregando valor à ponta e conseguindo mercados mais justos na comercialização direta dessas usinas comunitárias com o mercado consumidor”.
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