O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduziu em decisão unânime nesta quarta-feira (13), no último encontro de 2023, a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 12,25% para 11,75% ao ano.
Quanto aos próximos passos, voltou a sinalizar cortes da mesma intensidade nas "próximas reuniões", ou seja, pelo menos nos dois encontros à frente em janeiro e março de 2024, apesar do desejo do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por aumento no ritmo de queda de juros no ano que vem.
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Disse também que os membros avaliam de forma unânime que essa é a cadência apropriada para manter a política monetária contraindo a economia em um nível necessário para o processo de desinflação.
"A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial [convergindo parcialmente em direção às metas] e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária", disse o comitê no comunicado.
O novo corte levou a Selic ao menor patamar desde março de 2022, quando a taxa básica estava fixada em 10,75% ao ano.
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Essa foi a quarta redução seguida na mesma intensidade, dando sequência à estratégia adotada pelo colegiado do BC desde o início da flexibilização de juros, em agosto.
A decisão do Copom veio em linha com a expectativa unânime dos economistas. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que o corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica era a projeção consensual do mercado financeiro.
O comitê disse entender que a decisão é "compatível com o plano de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante [que inclui 2024 e 2025]".
Desde o Copom anterior, em novembro, houve redução dos riscos externos, o que colaborou para um câmbio mais favorável, continuidade do processo de desinflação e materialização da desaceleração da atividade econômica o que deu respaldo a um ciclo de corte de juros gradual.
No acumulado em 12 meses até novembro, a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou a 4,68%.
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano caiu de 4,7% para 4,6% dentro do teto da meta (4,75%). Para 2024, a estimativa baixou de 3,6% para 3,5%. Para 2025, se manteve estável em 3,2%.
O BC se manteve firme no plano traçado mesmo após o governo retomar a pressão sobre a autoridade monetária na véspera do Copom. Enquanto o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que o país tinha "gordura para queimar", o presidente Lula afirmou que era preciso "mexer com o coração" do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Após a decisão, Haddad evitou fazer críticas ao BC. "Vamos comemorar que caiu mais 0,5 [ponto percentual]. Vamos convergir para onde a Selic tem que convergir, porque os indicadores de inflação demonstram que a política econômica está no caminho certo", disse.
O ministro passou também uma mensagem positiva sobre a trajetória de queda dos juros. "Isso significa que os investidores brasileiros podem se preparar para um ciclo de crescimento mais sustentável, com baixa inflação e baixo desemprego. É uma boa notícia para as famílias brasileiras. Vamos terminar o ano com indicadores animadores na Bolsa, no câmbio, no juro, no juro futuro", afirmou.
No balanço de riscos para a inflação, o colegiado do BC continuou com a avaliação de que permanecem fatores em ambas as direções.
Entre os motivos que puxariam os preços para cima, mencionou maior persistência das pressões inflacionárias globais e maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função do hiato do produto [margem que a atividade tem para crescer até atingir sua capacidade máxima] mais apertado.
Na direção contrária, entre os riscos de baixa, o comitê citou desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a estimada e os possíveis impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global.
"O comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária", escreveu.
Com relação ao ambiente externo, disse que o cenário segue volátil, mas reconheceu que ele se mostra "menos adverso do que na reunião anterior, marcado pelo arrefecimento das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos e de sinais incipientes de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países."
Quanto ao fiscal, o Copom repetiu a mensagem dos encontros anteriores sobre a importância de se perseguir os objetivos estabelecidos.
"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas", reforçou.
Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, considera que o Copom foi mais conservador do que permitia o cenário dentro e fora do país e defende que a questão fiscal deveria ser incluída no balanço de riscos para a inflação.
"O Copom segue um pouco mais cauteloso com os próximos passos, sem querer dar abertura para uma eventual aceleração desses cortes", disse.
Para ela, o cenário de inflação menor do que se esperava é uma tendência que vem se consolidando e isso seria suficiente para uma flexibilização maior à frente.
"O Copom poderia ter deixado em aberto os próximos cortes com base na evolução do cenário e não se prender tanto a um ritmo específico, considerando que a gente tem melhorias e que a taxa [de juros] está muito alta", disse.
"Vale lembrar que 11,75% para uma expectativa de inflação que, pelo próprio BC, é 3,5% para o próximo ano, a gente está com um juro bastante restritivo", acrescentou.
A economista diz também que, se houver maior desaceleração da atividade econômica nas próximas semanas, a pressão do governo por cortes mais agressivos pode aumentar.
Para Silvio Campos Neto, economista sênior e sócio da Tendências Consultoria, as incertezas fiscais devem ter contribuído para a sinalização mais conservadora do BC, embora esse ponto não tenha sido citado de forma explícita no texto.
"O ambiente nessas últimas semanas no Congresso mostra a importância dessa cautela, com as dificuldades que o governo vem tendo para aprovar medidas ligadas ao ajuste de receitas e tentando também algumas medidas que permitam maior aumento de gastos", disse.
Outro fator, segundo o economista, seriam as projeções de expectativa de inflação até 2025 ainda acima do centro das metas. Ele entende que, como o BC ainda vê pontos de risco à frente, prefere seguir em um processo de queda de juros mais gradual.
"Creio que seja uma leitura do Banco Central de que é preferível ir de forma mais comedida, avaliando melhor o cenário a cada reunião. Isso em tese vai abrir espaço até para uma redução maior, enquanto avalia o avanço do cenário nas variáveis importantes", afirmou.
Considerando que os efeitos da política monetária sobre a economia são defasados, o BC hoje mira as metas de inflação fixadas para 2024 e 2025 quando terá início o modelo de alvo contínuo após mudança no sistema.
No próximo ano, a meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
O encontro desta quarta marcou a despedida dos diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos) e Mauricio Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) da cúpula do BC, cujos mandatos terminam em 31 de dezembro.
O Copom volta a se reunir nos dias 30 e 31 de janeiro de 2024 sob nova formação. Vão se juntar ao colegiado do BC o professor Paulo Picchetti e o servidor Rodrigo Alves Teixeira, indicados pelo governo Lula e aprovados em sabatina pelo Senado Federal.
A partir do próximo ano, a autoridade monetária contará com quatro diretores escolhidos por Lula entre os nove integrantes do Copom. Os outros dois nomes são Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização).
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