A USP (Universidade de São Paulo) cancelou na manhã de terça-feira (16) um curso de extensão que seria destinado a enfermeiros e outros profissionais e estudantes da área de obstetrícia chamado "Parto e Espiritualidade Cristã".
As aulas estavam previstas para fevereiro, com quatro encontros promovidos pela EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades). A descrição do curso, que até a noite desta terça estava disponível no site da universidade, citava o conceito de "família tradicional", termo que limita a ideia de família a um grupo composto por mãe, pai e filhos.
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A Folha de S.Paulo apurou que a criação do curso provocou reação do corpo discente e docente.
Em nota, a USP afirma que o cancelamento aconteceu com objetivo de "zelar pela manutenção da Universidade de São Paulo como uma instituição pública e laica". Diz, ainda, que o cancelamento ocorreu por meio da Comissão de Cultura e Extensão da Escola, que é responsável pelas atividades de extensão na USP.
Obstetriz e ex-aluna da faculdade, Ana Cristina Duarte criticou o curso, que na sua opinião continha "uma série de concepções equivocadas sobre família e gênero". "Não faz nenhum sentido, é um retrocesso. A ementa é uma aberração. A universidade é laica, não faz sentido misturar religião."
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No texto da justificativa do curso é afirmado que, para se ter uma família, "é necessário dois gametas paternos e maternos, dessa forma, a família tradicional se origina no momento em que há uma união de um homem e uma mulher, e o resultado é a concepção de um novo ser, que foi gerado e crescerá e se desenvolverá no útero materno por até 42 semanas de gestação. A família é a forma de promover a proteção espiritual dos filhos que irão ser concebidos desta união".
Os cursos de extensão são oferecidos como complemento à formação e são abertos também a pessoas de fora da universidade.
Segundo a proposta, as aulas tinham como objetivo refletir a espiritualidade em suas etapas fisiológicas, entre elas concepção, desenvolvimento e crescimento do feto, parto, nascimento e pós-parto. Também previa "olhar o luto e refletir a espiritualidade nesse processo da perda fetal".
O texto dizia também que o curso respeitaria "a abordagem cristã ao apresentar cada temática com seu arcabouço teórico e científico".
As aulas seriam ministradas por setes professoras e pretendiam, entre outras medidas, atualizar os profissionais da área da obstetrícia e da enfermagem obstétrica, fosse no pré-natal, parto ou pós-parto.
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